As tardes de domingo e as noites de quarta-feira são os horários nobres do futebol brasileiro. Entretanto, esta sexta-feira, 30 de junho, foi palco de um novo lance numa disputa que vai mexer com o calendário do esporte mais popular do País. E que coloca em campos opostos o BTG Pactual e a XP.

No início da tarde de hoje, a Liga Forte Futebol (LFF) anunciou que concluiu um acordo para criar um bloco comercial para negociar as cotas de transmissão a partir de 2025. A transação foi selada na sede da XP, que assessora a LFF na empreitada, ao lado do Alvarez & Marsal e da Livemode.

Pelos termos divulgados, a gestora brasileira Life Capital Partners e o fundo americano Serengeti Asset Management vão investir R$ 2,3 bilhões nos 23 clubes das séries A e B que compõem o bloco. Em troca, a dupla terá direito a 20% das receitas geradas, por um prazo de 50 anos.

A XP, por sua vez, fará um adiantamento de até R$ 500 milhões para os times que aderiram à proposta, vista como um movimento intermediário na criação de uma liga para reorganizar o futebol brasileiro. No comunicado, a LFF se limita a dizer que esse aporte será feito “nos próximos dias”.

“Foi um passo bem relevante em direção à liga, amplamente debatido e fruto de, no mínimo, 200 horas de discussão”, diz uma fonte próxima à negociação, ao NeoFeed. “É um acordo vinculante e muito mais avançado em relação a qualquer coisa que está sendo feito do lado de lá.”

O “lado de lá” faz referência ao outro time envolvido nesse jogo. Com assessoria do BTG e da Codajas Sports Kapital, a Liga Brasileira de Futebol (Libra) atraiu, a princípio, 18 clubes. E tem na mesa uma oferta de R$ 2,4 bilhões do Mubadala Capital, braço do fundo soberano do governo de Abu Dhabi.

A proposta em questão também visa criar, no médio prazo, uma liga. Nesse caso, porém, o Mubadala se dispõe a injetar esse montante em troca de 12,5% das receitas geradas por esse bloco comercial, pelo mesmo prazo de 50 anos.

Há uma convergência entre os valores das duas propostas e na estratégia para a criação da liga. Mas as semelhanças se encerram nesses pontos. As negociações e termos da LFF também são alvos de críticas. E o anúncio de hoje só alimentou ainda mais essa disputa, que ainda promete muitas prorrogações.

“Eles já prometeram adiantar recursos em outras oportunidades e não cumpriram. Esses investidores ainda não provaram, de fato, que têm o dinheiro”, afirma outra pessoa próxima às negociações. “A LFF supostamente fechou o acordo e não pagou nada. Os clubes assinaram um papel de pão.”

Outra fonte ouvida pelo NeoFeed ressalta que o comunicado de hoje trouxe um desfalque importante: Atlético MG, Internacional e Náutico não aderiram à oferta. Na nota, a LFF afirmou que o trio ainda não assinou o contrato por estar obrigado a “percorrer trâmites internos” antes da adesão ao acordo.

“Já não seria fácil vender os direitos desse bloco e, sem Atlético MG e Inter, esse grupo fica muito fraco”, afirma a fonte em questão. “O fato é que eles entraram em modo de desespero e essa divulgação de hoje foi uma tentativa de mascarar uma notícia ruim que é a saída desses times.”

O suposto desligamento dos clubes teria data para acontecer: o próximo dia 6 de junho, quando expira o prazo de exclusividade do term sheet assinado entre os clubes que compõem a LFF e os investidores envolvidos.

No fim da tarde de hoje, o Internacional anunciou a convocação de uma sessão extraordinária nessa mesma data. Na assembleia, os conselheiros do clube terão acesso a uma apresentação da proposta da Libra.

Nesse contexto, a escalação de times da série A da LFF inclui, até o momento, Fluminense, Athletico PR, Fortaleza, América-MG, Goiás, Cuiabá e Curitiba. Já a linha da Libra é composta por 10 clubes da primeira divisão. Entre eles, Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos e Grêmio.

De acordo com pesquisas às quais o NeoFeed teve acesso, o pacote da Libra responde atualmente por cerca de 68% da audiência. Os 32% restantes da LFF, por sua vez, seriam reduzidos a 19% caso Atlético-MG e Internacional fossem excluídos dessa conta.

A formação da Libra também teve, porém, uma baixa importante. Em 10 de junho, John Textor, empresário americano que assumiu o controle da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Botafogo, anunciou a saída do clube da liga.

Vasco e Cruzeiro também teriam sinalizado que seguiriam o mesmo rumo, o que não é confirmado pela Libra. Mas há quem conteste esse posicionamento e projete outras trocas entre os dois lados envolvidos nessa competição.

“Os três clubes se aproximaram e estão conversando com a LFF”, diz uma fonte próxima à liga em questão. “A questão é que a Libra ainda está revisitando várias condições do que seria o seu bloco, enquanto a LFF já avançou e formatou o seu contrato.”

Conforme apurou o NeoFeed, a Libra concluiu a extensão da exclusividade que se encerraria ontem, dia 29 de junho, e um aditivo ao term sheet relacionado à proposta inicial de R$ 4,75 bilhões, para a estruturação de uma liga.

Antes, o Mubadala já havia adiantado R$ 3 milhões aos clubes que aceitaram a oferta do bloco comercial. Nos novos termos, a exclusividade entre os investidores e os clubes da Libra, agora sob o modelo de bloco comercial, é válida por 60 dias, contados a partir de ontem.

“A expectativa, no entanto, é de que o acordo seja sacramentado até meados de julho”, afirma uma das pessoas com conhecimento dessas discussões. “As conversas vêm avançando há bastante tempo e estão na reta final. O que falta agora é colocar esses termos no papel.”