Brasília - No fato relevante publicado na noite de quarta-feira, 3 de setembro, o BRB informa que vai examinar “alternativas cabíveis” para recorrer da decisão do Banco Central em vetar a compra do Master. Mas a questão não será tão simples, segundo apurou o NeoFeed com os próprios integrantes do BRB, do Banco Central e com os políticos que acompanham o caso de perto.

O primeiro risco envolve o próprio questionamento da decisão dos diretores do BC, algo que poderia ser visto como insistência indevida por outras instituições financeiras. O BC vetou o negócio por considerar a possibilidade de o BRB acabar levando para o caixa da instituição ativos “podres” do Master, mesmo que não estivessem na compra inicial.

A ação do BRB para tentar recorrer da decisão do BC seria reformular a proposta a partir de pontos vetados pela autoridade monetária, “limpando” o negócio e insistindo na compra.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, disse que é preciso avaliar a íntegra da decisão do BC, pois a autoridade monetária pode ter tido acesso a informações indisponíveis até aqui pelo BRB e pelo governo local, o maior acionista do banco público.

Foi uma mudança de tom. Logo após a decisão do BC, Ibaneis havia acusado políticos do PT e do PSB de terem inviabilizado o negócio, jogando contra o Distrito Federal.

A primeira declaração poderia sugerir que o BC cedeu à pressão política da oposição. Depois, ao dizer que é preciso aguardar mais informações, Ibaneis baixou o tom.

Dentro do BRB, a mudança foi vista como estratégica em caso de recurso. “Se houver recurso, ele não pode bater na autoridade econômica”, disse um integrante do banco.

A aceleração do veto da compra do Master pelo BRB, entretanto, veio depois da operação Carbono, da Polícia Federal, e de uma possível alerta de investigadores sobre o negócio.

Mesmo sem ser investigado, o banco Master foi beneficiado por dois fundos de investimentos da Reag, uma das empresas que foram alvo da Polícia Federal.

Mudança de vento

No mesmo dia da operação da PF, em 28 de agosto, políticos da oposição ao governo Ibaneis estiveram no Banco Central para mais um encontro com diretores sobre a negociação BRB/Master.

“Ali ficou claro que o vento tinha mudado. Até antes da operação, havia maioria pró-compra no Banco Central, era o sentimento”, disse ao NeoFeed um dos participantes da reunião.

“No dia da operação já se desenhava uma alteração, era evidente o receio de que os desdobramentos da apuração da PF acabassem levando o BC a ter que explicar num futuro próximo a autorização para a compra”, avaliou um deputado ao NeoFeed.

A decisão de lideranças do Centrão de acelerar a aprovação de um projeto que permite à Câmara dos Deputados demitir diretores do BC foi vista como uma forma de pressionar pela aprovação e foi um vento contrário também que pesou na decisão do Banco Central em vetar a transação.

O risco para o BRB e para Ibaneis é um desgaste com a opinião pública. “O veto é uma boa desculpa para desistir da compra, mesmo que defendendo no fato relevante a operação, pois não havia outra coisa a fazer”, disse um integrante do governo.

A íntegra da decisão do BC sobre a compra do Master pelo BRB não será divulgada oficialmente, apenas partes envolvidas no negócio podem ter acesso ao teor do documento.