Brasília - O principal jogo na Esplanada é especular sobre a força política dos próprios personagens. Quando uma vaga como a do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) se abre, a dinâmica das apostas se intensifica dentro do caldeirão de nomes, que perdem e ganham posições a depender do interlocutor e dos grupos de pressão.
A partir de uma série de conversas com integrantes dos Três Poderes, o NeoFeed montou um mosaico sobre as chances de cada um dos cotados para a vaga aberta por Luís Roberto Barroso. Até aqui, há cinco nomes fortes que podem ser escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que monta um xadrez com os prós e os contra dos favoritos.
São eles: Jorge Messias, advogado-geral da União (AGU); Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado; Bruno Dantas, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU); Vinícius Carvalho, chefe da Controladoria-Geral da União (CGU); e Daniela Teixeira, ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O nome mais forte, que vem sendo cotado desde a saída de Rosa Weber da Corte em 2023, trata-se de Messias. Preterido em favor de Flávio Dino, no início de 2024, o chefe da AGU está de volta ao topo da lista para a vaga do STF, agora com chances ainda mais reais. Pernambucano como Lula, é evangélico, servidor de carreira e procurador da Fazenda Nacional.
O principal trunfo de Messias, 45 anos, é justamente o atual cargo ocupado. Todas decisões que envolvam questões jurídicas do governo passam pelo crivo do ministro, principalmente aquelas voltadas aos temas econômicos, políticos e sociais. Tal função o deixa como principal conselheiro jurídico do presidente Lula.
O peso de um chefe da AGU é tanto que, atualmente, três ministros da Corte já ocuparam o cargo: Gilmar Mendes, indicado por Fernando Henrique Cardoso; André Mendonça, escolhido por Jair Bolsonaro; e Dias Toffoli, indicado no segundo mandato de Lula, ainda em 2009. Messias, assim, seria o quarto advogado-geral de um presidente.
Escaldado e ainda frustrado pela derrota na disputa com Dino no ano passado, Messias mergulhou, sem dar declarações públicas e tem se atentado às questões burocráticas da pasta. É uma espécie de “resolvedor de problemas”, tendo atuado diretamente na crise da máfia do INSS e na arquitetura da resposta do governo ao tarifaço de Donald Trump.
Aliados mais próximos de Lula, entretanto, ainda são assombrados pelo fantasma da indicação de Toffoli, que, durante a prisão do petista na Lava-Jato, em 2019, atrasou a decisão em permitir que o então ex-presidente participasse do velório do irmão Genival da Silva. Lula teve acesso limitado à cerimônia. O fato sempre é lembrado como um exemplo de que, mesmo um aliado próximo, pode mudar de lado com o passar dos anos.
“Messias é o favorito, tem o apoio de Dilma Rousseff e ganhou a confiança de Lula ao longo dos últimos três anos, desde a transição de governo, no fim de 2022. O episódio de Toffoli, apesar de Lula não ter superado, não guarda relação com a indicação de Messias”, disse um parlamentar petista que frequenta as rodas do Planalto.
A nova nomeação de Lula ocorre a partir de uma ciranda de mudanças no STF, que terá início em 2027. “É o que o próximo presidente eleito poderá indicar até três ministros, reforçando a força das escolhas que definirão o perfil da Corte nas próximas décadas”, afirma Thiago Vidal, diretor de análise política da Prospectiva.
O problema para Messias é o xadrez organizado por Lula a partir dos outros nomes na disputa. E aí entra Pacheco, ex-presidente do Senado, um nome que serviria de escudo ao STF no caso de ataques do novo Congresso, que será eleito no ano que vem, com possibilidade de força política da direita.
A questão para Pacheco é que ele é visto com desconfiança por petistas, e Lula preferia tê-lo como candidato a governador de Minas Gerais em 2026, apesar de ainda não ter decolado nas pesquisas de intenção de votos.
“Pacheco tem estofo para o STF, é criminalista e foi presidente do Senado e o mais jovem conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas tem resistência dentro do próprio Planalto”, disse um jurista ouvido pelo NeoFeed.
Nessa equação, aparece Bruno Dantas, que, caso seja o escolhido de Lula, abriria uma vaga no TCU, que poderia ser entregue ao próprio Pacheco. Dantas tem trânsito no Congresso e é visto com perfil mais técnico, mas hoje só seria indicado como um curinga no caso da disputa pela vaga acabe desgastando os nomes de Messias e Pacheco. A mesma lógica pode favorecer Vinícius Carvalho, mas com ainda menos chances a preço de hoje.
Na disputa mais acirrada ainda tem o nome de Daniela Teixeira, que seria uma saída de Lula para a pressão em indicar o nome de uma mulher para o STF, que hoje só tem nos quadros a ministra Cármen Lúcia. O presidente, entretanto, não parece motivado a fazer tal movimento, pelo menos neste momento.
Ainda há nomes mais periféricos, mas que são lembrados nos bastidores da política de Brasília: o do presidente do TCU, Vital do Rêgo; o advogado e professor da Universidade de São Paulo (USP) Pierpaolo Bottini; e do desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que deu ordem para soltar Lula em 2018. Todos num segundo pelotão na corrida pelo Supremo.