Sempre que o assunto são as eleições de 2026, o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aparece como o principal nome da direita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quem acompanha suas falas tenta encontrar sinais de que ele vai assumir a responsabilidade de encampar a oposição no próximo ano.
Mas em sua participação no XP Asset Annual Meeting, evento da gestora da XP, ocorrido na quinta-feira, 27 de novembro, Tarcísio não deu qualquer sinal nesse sentido. Em vez de adotar uma postura de candidato, Tarcísio foi cauteloso, preferindo colocar o "chapéu de analista”.
Ele disse que o campo da direita conta com uma “turma boa”, nomes que podem vir a ser o candidato, e que todos vão se unir para derrotar o PT. Por isso, não há motivos para ansiedade em relação a quem será o representante da oposição.
“Não tem motivo para estar ansioso, temos que ter calma, e o mercado é muito ansioso, gosta de precificar tudo muito rapidamente, mas as coisas oscilam”, afirmou ele.
“Como a gente tem gente preparada, com boas propostas e, mais do que isso, um bom projeto, vamos conseguir organizar esse time, porque o Brasil precisa de um projeto e esse time vai oferecer esse projeto”, complementou.
Segundo Tarcísio, o campo da direita vem passando por uma reorganização, motivada pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, “grande liderança da direita que está passando por um processo de isolamento”.
“Os atores estão conversando, se organizando, neste campo da centro e da direita não tem ninguém com a ânsia de ser protagonista, todo mundo está interessado em endereçar um projeto para o País”, afirmou.
O governador de São Paulo citou nominalmente alguns dos governadores, como Ratinho Júnior, do Paraná; Jorginho Melo, de Santa Catarina; e Ronaldo Caiado, de Goiás, afirmando que essa é uma “turma que sabe o que fazer”, sabe “quais alavancas vão ser mexidas para ter acesso a mais capital do que tem hoje”.
Essas alavancas, segundo Tarcísio, envolvem uma agenda liberalizante, com o governador relembrando a filosofia 3D do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, de desindexar, desvincular e desobrigar as despesas do Orçamento da União. O governador também acrescentou o D de desinvestir, numa referência às privatizações, e de diminuir o tamanho do Estado.
Nessa frente, Tarcísio aproveitou para fazer uma pequena campanha em causa própria, falando de feitos do seu governo, como a privatização da Sabesp e de outras sete estatais, e diminuir o gasto tributário em 5% em um ano. “Estamos conseguindo reduzir o tamanho do Estado”, afirmou. “A receita é conhecida, mas precisa de liderança.”
Apesar da recuperação da aprovação do presidente Lula desde a implantação do tarifaço pelos Estados Unidos, e dos bons números de inflação e desemprego, fatores que fizeram muitos perderem o ânimo com uma possível troca de governo no ano que vem, Tarcísio destacou que as pesquisas mostram que a população está insatisfeita.
“A inflação não está ruim, mas a população está satisfeita? Ela se enxerga na propaganda do PT? Minha vida mudou?”, questionou. “Quando fazem essa pergunta às pessoas, elas dizem que não mudou, que não se enxergam na propaganda.”
Para ele, o cenário atual é favorável para a direita atrair o centro e que a esquerda não conseguirá colar no candidato bandeiras polêmicas. “O esforço de desconstrução será menos eficiente”, disse.
Para Tarcísio, mesmo se o PT ganhar as eleições, “o que acho que não vai acontecer”, haverá um encontro “inescapável” com 2027, em que será preciso fazer um duro ajuste nas contas públicas, algo que o partido do presidente Lula não estaria disposto a fazer, segundo o governador de São Paulo.
“Ou encara de frente reformas necessárias ou vamos assistir aquilo que vimos no governo Dilma 2, que é desidratar até chegar numa recessão. Só que vamos entrar em uma recessão muito mais endividados”, disse.