Em meio a seca do mercado de venture capital, uma porta de saída, literalmente, foi aberta. A compra da Figma pela Adobe, um negócio de US$ 20 bilhões, é a maior transação de uma empresa privada de tecnologia, superando a aquisição do WhatsApp, feita pelo Facebook, em 2014.

A compra da Figma, uma startup americana que opera com uma plataforma colaborativa de design, mostra também um caminho que pode ser seguido por investidores de venture capital neste momento de escassez de IPOs no mercado americano: os M&As. E é um sinal de que apesar de um mercado mais restrito, há espaço ainda para bons deals.

Fundada em 2012 por Dylan Field e Evan Wallace, a Figma recebeu US$ 330 milhões de fundos de venture capital. A base acionista conta com nomes como Index Ventures, Greylock Partners, Sequoia Capital, Andreessen Horowitz. Na última rodada, feita em junho do ano passado, a startup levantou US$ 200 milhões num aporte de série E liderado pela Durable Capital Partners com uma avaliação de US$ 10 bilhões.

“Foi uma saída boa para os investidores porque a empresa conseguiu dobrar seu valuation em um ano”, diz Guilherme Lima, da gestora de venture capital Astella Investimentos. Para ele, a expansão rápida da operação da Figma, além da adoção da plataforma pela comunidade de designers foram pontos que fizeram com que a Adobe se interessasse pelo negócio.

De acordo com dados do The Information, a gestora que obteve o melhor retorno com o investimento foi a Index Ventures. A empresa de venture capital entrou no negócio ainda na fase de seed e participou de todas as rodadas de investimento subsequentes, o que garantiu uma participação de 13% no negócio. O percentual vale US$ 2,6 bilhões.

A Greylock Partners, que entrou na série A, também tinha o mesmo percentual. A Kleiner Perkins, por sua vez, investiu a partir da série B e tinha 10,5% das ações da Figma, o que equivale a US$ 2,1 bilhões. Já a Sequoia Capital, que se tornou investidora a partir da série C e desembolsou US$ 97 milhões em aportes, tinha 6% das ações – algo em torno de US$ 1,2 bilhão.

O negócio tem outros indicadores que chamam a atenção. A Adobe informou que espera US$ 400 milhões de receita anual recorrente neste ano. Portanto, está pagando um múltiplo de 50 vezes a receita.

Os acionistas da Adobe, no entanto, não gostaram do negócio. As ações da empresa americana despencaram após o anúncio da aquisição. Os papéis registravam baixa de 17% por volta das 15 horas. Avaliada em US$ 144,6 bilhões, a Adobe já perdeu quase metade de seu valor de mercado desde o começo do ano.

A Figma desenvolveu uma plataforma online de design que pode ser utilizada diretamente no navegador. O grande diferencial em relação a outras ferramentas é que a Figma permite que equipes possam manipular um mesmo arquivo de forma simultânea, o que acelera o processo de criação.

Se a transação for aprovada por órgãos antitruste, a Adobe adquirirá um de seus competidores. Dados da Slintel, empresa americana de pesquisa de mercado, a Figma é a ferramenta colaborativa de design mais utilizada do mercado com 31% de market share. Na sequência estão dois softwares da Adobe: o Premiere Pro CC usado por 18,6% dos usuários e o XD, com uma fatia de 15,1%.

O negócio também coloca panos quentes em uma possível turbulência na relação entre Adobe e Microsoft. As duas empresas trabalham juntas há décadas e possuem acordos de integração de arquivos nos softwares desenvolvidos por cada uma. O problema é que nos últimos anos, a Figma se tornou a ferramenta favorita dos funcionários da Microsoft.

“A Figma se tornou a ferramenta comum número 1 que usamos para colaborar em toda a comunidade de design”, disse Jon Friedman, funcionário que trabalha na Microsoft há mais de 18 anos, para a CNBC. Segundo ele, além dos designers, engenheiros, cientistas de dados e profissionais de marketing também fazem uso da ferramenta. “É como ar e água para nós.”

A Adobe ainda não comentou seus planos para a Figma – e nem o que irá fazer com suas próprias ferramentas colaborativas de design.