No meio da pandemia, o aplicativo de transporte Sity lançou um ousado plano para chegar a mais de 100 cidades brasileiras e enfrentar Uber e 99.
No auge, a startup fundada por Fernando Ângelo, um empresário do ramo de logística que havia sido dono da empresa de entregas fracionadas Matter Solutions, chegou a ter 70 mil motoristas usando o seu aplicativo.
Mas o prolongamento da pandemia, que trouxe uma série de restrições aos deslocamentos das pessoas, fez com que a Sity quase fosse à falência.
“Foi um momento muito difícil. Zeramos todos os números, foi um colapso financeiro total”, diz Ângelo, ao NeoFeed. “Precisávamos mudar o modelo de negócios para parar de pé.”
Agora, a Sity está de volta, mas em outra área. Com o nome de Sity Express, a empresa se reinventou como uma companhia de logística. As ambições de Ângelo é que não mudaram e ficaram até mais complicadas: competir com a americana Fedex e a Jadlog, que faz parte da GeoPost, segunda maior rede de entrega de encomendas internacionais da Europa.
A Sity Express começou a operar timidamente no ano passado, quando ficou claro para Ângelo que a sua viagem para competir com Uber e 99 seria curta. Sem capital, ele buscou parceiros de transporte que o ajudaram a passar por aquele momento difícil.
A lógica de negócio é a mesma da Uber e da 99, modelo na qual ele se baseou para criar a Sity. Só que em vez de motoristas que são donos dos carros que transportavam os passageiros, a nova empresa atrai motoristas autônomos com utilitários, VANs e caminhões para transportar itens fracionados, que pesam entre 10 quilos e 100 quilos.
Ângelo também não quis competir numa área que estava congestionada e parecia óbvia: a do comércio eletrônico para pessoas físicas. Em sua “reencarnação”, o foco são os negócios B2B, para atender indústria, distribuidores, confecções, editoras e fábricas de equipamentos de informática.
Atualmente, a Sity Express atende mais de 200 lojas de confecções do Brás, centro popular de comércio de roupas da cidade de São Paulo, e aproximadamente 80 indústrias. A atuação, para a coleta de produtos, restringe-se à grande São Paulo, à região do ABC Paulista e Atibaia.
As entregas, no entanto, são para boa parte do território brasileiro, com prazos que variam de 24 horas a 48 horas. O processo envolve a coleta em cerca de 20 carros, que levam as cargas para um centro de distribuição em São Paulo e outro na região do ABC paulista. Lá, os itens são separados para avançar para os Estados, chegando às bases operacionais da Sity Express.
De acordo com Ângelo, a empresa alcança mais de 4 mil cidades de 20 Estados por meio de 57 filiais, que atuam em parceria com a Sity Express. O foco está no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. A empresa não atua ainda na região Norte.
O diferencial, segundo Angelo, é a tecnologia por trás do aplicativo que gerencia as entregas – uma herança da época em que competia com Uber e 99. Tudo é 100% automatizado, do mapeamento dos caminhões até as rotas. “Os clientes podem acompanhar o rastreamento via WhatsApp”, diz o fundador da Sity Express.
Por ser asset light, a Sity Express não tem custo de caminhão, depreciação e estrutura de logística nos Estados. Além disso, todas as filiais são terceirizadas. Com isso, o empreendedor diz que consegue ter uma tarifa “agressiva” e competitiva com seus competidores – ele, no entanto, não diz os valores.
O desafio de Ângelo, mais uma vez, será competir contra gigantes. A americana Fedex vale mais de US$ 58 bilhões na Bolsa de Nova York. A Jadlog tem mais de 500 franquias no Brasil e mais de 3 mil parceiros de pick-up (onde os produtos são deixados) – o Enjoei, por exemplo, usa os serviços da empresa.
Além delas, o mercado de logística é altamente fragmentado. Estima-se que que existam mil empresas de pequeno, médio e grande portes. Trata-se de um segmento bilionário. Segundo a pesquisa Perfil do Operador Logístico no Brasil, realizada pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos em parceria com o Instituto ILOS, o setor movimentou R$ 166 bilhões no ano passado.
O foco de Ângelo é ganhar terreno em São Paulo (ele só fará coletas na cidade e em regiões próximas), em vez de tentar atender diversas regiões, como fez com a Sity. O empreendedor diz que a empresa já é lucrativa e que a meta é faturar R$ 50 milhões neste ano. É um começo para que, dessa vez, a viagem não seja tão curta quanto uma corrida de Uber ou 99.