A Bessemer Venture Partners, uma das gestoras de venture capital mais tradicionais dos EUA com US$ 20 bilhões de ativos sob gestão, está, de novo, olhando para as startups brasileiras.
A gestora, que já fez apostas certeiras em negócios como LinkedIn, Twitch, Pinterest e Shopify, tem poucos ativos no País. Um deles é o unicórnio Wildlife. O outro, do qual já saiu, era o Enjoei.
“Agora, com o mercado voltando o normal, estamos, de novo, olhando para startups no Brasil”, disse Brian Feinstein, sócio da Bessemer Venture Partners, ao NeoFeed.
O primeiro sinal de que o Brasil voltava ao radar foi o investimento da Incognia, idtech brasileira que oferece soluções baseadas em geolocalização para a prevenção de fraudes, que captou US$ 31 milhões em rodada de série B liderada pela Bessemer, em janeiro deste ano.
Essa semana, Feinstein estava no Brasil, onde participou do Open Cloud, um evento organizado pela gestora de venture capital Cloud9 Capital, que reuniu mais de 100 fundadores de companhias de software brasileiras, em São Paulo.
Feinstein disse que, no momento, não tem nenhum alvo em mira, mas tem se encontrado com empreendedores brasileiros - na maioria das vezes via Zoom. O objetivo é voltar a se relacionar com o ecossistema local em busca de oportunidades.
O alvo da Bessemer no Brasil são companhias de software que atuem no mercado B2B, marketplaces ou em serviços financeiros. Os cheques são para startups que já estão em estágios mais avançados, a partir da série B.
Em investimentos séries B para frente, a gestora busca startups com crescimento anual de 50% ou mais, mas que ainda queimam caixa. Em growth equity, a taxa de expansão é na faixa de 25%, mas as empresas precisam estar no breakeven ou já serem lucrativas.
No evento, Feinstein defendeu o uso de inteligência artificial, citando uma frase do cientista e futurista americano Roy Amara (1925-2007) de que “temos tendência a superestimar o efeito de uma tecnologia no curto prazo e a subestimar no longo prazo”.
Para ele, as startups devem tirar vantagem da tecnologia. Ele citou várias empresas que usam a inteligência artificial em suas soluções. Um dos casos foi a Intercom, que utiliza IA para suporte a clientes. Outro foi a CoCounsel, cuja tecnologia ajuda a fazer rascunhos de contratos. E também a EvenUp, que substitui advogados.
Felipe Affonso, sócio da Cloud9, organizador do Open Cloud, concorda. “Melhor ser paranoico do que negligente em relação a inteligência artificial”, disse. A IA, em sua visão, é uma grande oportunidade para que as startups incorporem novas soluções de alto ROI em sua oferta existente.
Mas Affonso acredita que as startups brasileiras devem atuar em um nicho específico. “Embora uma enorme quantidade de capital tenha sido investida em IA globalmente, no Brasil temos muito espaço para aplicações embarcadas”, afirmou o fundador da Cloud9 Capital.
Dicas para empreendedores
Em sua apresentação no Open Cloud, Feinstein deu dicas do que fazer para conseguir um investimento. A primeira delas foi “não gaste tempo convencendo”.
“Parece contraintuitivo, mas eu nunca consegui convencer um investidor a investir na Bessemer se ele já não quisesse investir na Bessemer”, afirmou Feinstein. “O trabalho é aparecer. Descubra se eles já estão interessados no seu mercado e na sua empresa. E se eles não estiverem interessados, siga em frente. Não perca seu tempo.”
Outro ponto importante, de acordo com Feinstein, é saber se comunicar claramente. Aqui, a dica é usar o livro “Crossing the Chasm”, do estrategista e historiador de tecnologia Geoffrey Moore.
“Ele tem uma estrutura, um modelo de como comunicar sua proposta de valor para seus clientes-alvo. Qual é o problema deles? Como você está resolvendo? Quem é a concorrência e como você se diferencia?”, afirmou Feinstein.
E, por fim, mostre as métricas que interessam. No caso da Bessemer, essas métricas incluem a taxa anual de crescimento, retenção líquida de dólares, retorno de caixa, margem bruta e geração de fluxo de caixa..
Mas Feinstein fez um alerta. “A coisa mais importante a lembrar é que a avaliação é apenas uma métrica de vaidade. O único número que importa é a avaliação na saída. Todos os nossos empreendedores mais bem-sucedidos não se lembram da avaliação de suas rodadas. É apenas um mecanismo para chegar ao destino. E, ao longo do caminho, coisas malucas acontecem.”