Essas startups fazem parte da elite do empreendedorismo brasileiro. A empresa de logística Loggi, a de compra e venda de apartamentos Loft e a desenvolvedora de games para celulares Widlife Studios se transformaram em unicórnios brasileiros, como são chamadas as empresas que valem mais de US$ 1 bilhão.
Para atingir essa marca bilionária, elas conseguiram captar grandes somas de recursos. A Loggi, por exemplo, já levantou US$ 295 milhões. A Loft, US$ 275 milhões. E a Wildlife, US$ 60 milhões. As três atraíram fundos como Softbank, Vulcan Capital, Andreessen Horowit e Benchmark Capital para a sua mesa de acionistas.
Mas o que será que os fundadores dessas três startups pensam sobre o fracasso da abertura de capital do WeWork? Eles foram provocados por Julio Vasconcellos, do fundo Atlantico, que era um dos moderadores de um debate que reuniu Mate Pencz, da Loft, Victor Lazarte, da WildLife Studios, e Fabien Mendez, da Loggi, durante o Latin America Investment Conference, evento que está sendo realizado nesta semana pelo Credit Suisse, em São Paulo.
(Um breve parêntese: o WeWork tentou abrir o capital e não conseguiu. Sua avaliação caiu de US$ 48 bilhões para US$ 10 bilhões e a startup precisou ser resgatada pelo seu investidor, o Softbank, para não falir. O episódio colocou o setor de venture capital no divã e está fazendo a indústria repensar sua estratégia.)
Os três foram unânimes em afirmarem que se trata de uma correção do mercado. Mas, da mesma forma, acreditam que o episódio trouxe uma série de lições para o mercado de venture capital.
“É um pouco aquele pensamento de manada de muitos investidores seguindo outros investidores”, afirmou Lazarte, da WildLife. “E quando aconteceu esse negócio do WeWork, as pessoas pararam para se perguntar: olha, não dá mais para assinar cheques só porque a receita está crescendo. Vamos tentar entender os fundamentos do negócio.”
De acordo com Lazarte, no entanto, é preciso olhar caso a caso. “Muitas vezes, a estratégia correta é dar muito prejuízo”, disse o fundador da WildLife Studios. “Mas não em todas as situações.”
Para Pencz, fundador da Loft e também sócio do fundo de venture capital Canary, o episódio do WeWork foi uma correção necessária e uma prova de que os mercados estão funcionando.
“O que aconteceu com o WeWork agora aconteceu de forma muito mais brutal em 1999”, afirmou Pencz. “Dessa safra, muitas companhias faliram. Mas também saiu dela a Amazon.”
O fundador da Loft diz que a maioria dos retornos dos fundos bem-sucedidos vem de uma ou duas startups. “É muito importante o fundo acertar aquelas poucas companhias que vão ser as moscas-brancas”, disse Pencz. “Esse não é um jogo para amadores.”
“O que estamos vendo, com essa correção, é que não se aceita mais crescer, crescer e crescer a qualquer custo", diz Mendez
A debacle do WeWork mostrou que está acontecendo uma coisa muito mais fundamental no mercado, acredita Mendez, da Loggi, que tem o Softbank entre os seus investidores. “É uma mudança de princípios e de alinhamento entre o capital e os empreendedores.”
De acordo com Mendez, a pergunta de seus investidores depois de uma rodada de investimento sempre foi como ele iria crescer mais. “O incentivo do mercado de venture capital sempre foi a receita. Todas as avaliações sempre foram feitas com base em múltiplos da receita”, afirmou ele. “O que estamos vendo, com essa correção, é que não se aceita mais crescer, crescer e crescer a qualquer custo.”
O fundador da Loggi disse que apenas um investidor teve a coragem de dizer para ele ir com calma. “Ele disse que era preciso de tempo para criar uma empresa espetacular no mundo e que era preciso mais tempo ainda para criar uma empresa espetacular na América Latina.”