Fundada em 2017, com a tese de ser o “benjamim” que conecta diferentes tecnologias para facilitar a transformação digital das empresas, a brasileira Digibee atraiu mais de R$ 400 milhões de investidores do calibre do Goldman Sachs e do Softbank. E levantou voo rumo a países como os Estados Unidos.

Agora, como parte dessa escala, a startup está plugando mais uma conexão em seu modelo, ao anunciar a compra da americana Vertify, por um valor não revelado. Essa é a primeira aquisição da história da companhia.

Com a transação, a Digibee assume 100% da operação e vai integrar todos os funcionários da Vertify. Nesse arranjo, Wayne Lopez, cofundador e CEO da empresa americana, passará a responder pela estratégia de go to market da startup nos Estados Unidos.

“Entrar em um mercado onde a tecnologia é o coração, como os Estados Unidos, não é fácil. Vínhamos construindo autoridade e reputação, mas isso leva tempo. E custa em dólar”, diz Rodrigo Bernardinelli, cofundador e CEO da Digibee, ao NeoFeed. “Esse acordo nos dá justamente um atalho nessa direção.”

Maior aposta, até aqui, para acelerar etapas nesse processo, a Vertify também foi criada em 2017. E, assim como a Digibee, aposta em facilitar a “conversa” entre diferentes aplicações. Nesse caso, porém, de sistemas de marketing, forças de vendas e de relacionamento com o cliente – os chamados CRMs.

“É um benjamim ultra especializado e isso foi um aprendizado que nós tivemos”, diz o CEO. “Diferentemente do Brasil, onde sempre vendemos uma plataforma horizontal, nos Estados Unidos, você precisa ser muito específico e focar em um caso de uso. Para depois expandir a outros domínios.”

Com a Vertify agora em “seus domínios”, a Digibee dá um salto considerável em sua operação nos Estados Unidos, ao incorporar uma base de cerca de 120 clientes. Essa carteira inclui nomes como Johns Hopkins University, American Pet Products, Moda Health, Tempest Telecom e FreedomPay.

Para se ter uma dimensão de como a aquisição move os ponteiros da Digibee, até então, a startup tinha uma base de 20 clientes no mercado americano e 150 em todas as suas operações. Nos Estados Unidos, sua estrutura inclui 18 profissionais, distribuídos em estados como Califórnia e Tennessee.

Os ganhos do acordo também se estendem a frentes como as parcerias estratégicas que a Vertify mantém para a distribuição e revenda das ofertas que integram o seu portfólio, por meio de acordos com a Adobe e a Salesloft.

“Estamos expandindo a nossa base, trazendo receita em dólar e uma carteira relevante. Essa vai ser a ponta de lança para novos negócios nos Estados Unidos”, diz Bernardinelli. “Já estamos trabalhando, inclusive, para crescer dentro dos clientes da Vertify com ofertas da nossa plataforma.”

Nesse contexto, alguns dos casos de uso que a Digibee começa a explorar junto a essa base da Vertify envolvem aplicações em segmentos como supply chain e varejo. A principal vertente, porém, passa por aquele que, olhando para frente, é o maior foco da startup: a inteligência artificial.

A companhia tem centrado boa parte dos seus investimentos em adaptar e reforçar todo o seu portfólio com a incorporação desse conceito. Assim como aconteceu com a transformação digital, a ideia é fazer a conexão e a orquestração das diferentes aplicações e recursos por trás dessa onda.

Enquanto avança em sua operação nos Estados Unidos, a Digibee se move em outros mercados fora do Brasil. Hoje, a startup já atende clientes em países da América Latina, como México e Chile. Na Colômbia, a empresa está envolvida em projetos do sistema de pagamentos instantâneos.

Ao mesmo tempo, a companhia começou recentemente a abrir frentes no Oriente Médio, em particular, nos Emirados Árabes Unidos, onde já atua na infraestrutura por trás do modelo de open banking que está sendo construído no país.

“Nesse momento, estamos muito focados em decolar nossa operação nos Estados Unidos e temos esse pé nos Emirados Árabes”, diz Bernardinelli. “Outra coisa que aprendemos é construir primeiro uma geografia ao invés de expandir para diversos mercados ao mesmo tempo.”

Com essa orientação, ele projeta que a operação internacional da Digibee alcance uma participação de 50% das novas vendas da Digibee já a partir de 2026. Hoje, levando-se em conta todos os negócios e geografias, a startup tem uma receita recorrente anualizada de cerca de US$ 20 milhões.

Para seguir encorpando esses números, Bernardinelli não descarta novas aquisições, especialmente com o mercado cada vez mais aquecido, muito em função do boom da IA. Mas frisa que, no momento, a empresa está mais atenta às oportunidades e não tem, de fato, uma estratégia ativa de M&As.

O CEO também ressalta que todos os movimentos de expansão do portfólio e da operação estão sendo financiados com recursos do próprio caixa. E acrescenta que, a princípio, a startup não busca novas captações – sua última rodada, de R$ 300 milhões, veio em maio de 2023.

“Temos um runway de mais de 60 meses”, afirma Bernardinelli. “Então, não vamos fazer novas captações agora. Não temos nada em vista. Mas temos as portas abertas caso alguma oportunidade apareça.”