Criada em 2021, a Turn2C veio ao mundo com a ambição de dar uma nova roupagem ao mercado de consórcios. E, com essa bandeira, em 2022, atraiu um aporte de R$ 8,5 milhões liderado pela B3 pelo fundo Honey Island by 4UM, fruto da parceria entre a 4UM Investimentos, gestora de recursos controlada pelos sócios do Paraná Banco, e a Honey Island, dos fundadores do unicórnio de pagamentos Ebanx.

Agora, outros nomes de peso estão dando sua chancela a essa tese. A fintech antecipou ao NeoFeed a captação de R$ 25 milhões com a Headline, gestora liderada no Brasil por Romero Rodrigues, fundador do Buscapé, referência no mercado de tecnologia e dono de um longo histórico em venture capital.

Esse é o sétimo cheque da gestora dentro do portfólio do fundo Headline 3, captado em parceria com a XP Asset e cujos recursos chegaram a um volume de R$ 916 milhões.

“O consórcio tem muitos estigmas no mercado”, diz Bruno Pinheiro, fundador e CEO da Turn2C, ao NeoFeed. “Ter o selo da Headline vai acelerar muito a nossa curva, não apenas sobre o que estamos fazendo, mas também de possibilidades e conexões.”

O fato de ter ganho tração, mesmo com tantas barreiras e em tão pouco tempo, contribuiu para que a startup passasse pelo crivo da Headline. Assim como o tamanho do mercado de consórcios, que, em 2023, movimentou R$ 316 bilhões em valor de crédito vendido.

“O mercado é assustadoramente gigantesco e a tese da Turn2C está muito comprovada”, afirma Romero Rodrigues, managing partner da Headline. “É como eu brinco, a gente gosta de olhar e dizer: esse é um motor de Porsche. Agora, vamos colocar a gasolina aditivada e acelerar.”

A máquina que será o destino desse combustível foi fundada quando Pinheiro se uniu a Thiago Ramos e Tatiana Anderson. Ele vinha do C6, onde tornou-se um dos primeiros sócios, em 2018, quando o banco comprou a Besser Partners, fintech de câmbio da qual era um dos fundadores.

Antes, entre outros negócios de sua própria lavra, Pinheiro acumulou uma passagem de seis anos pelo Itaú Unibanco, onde comandou a área de consórcios, segmento que voltou ao seu radar na Turn2C.

A fintech trabalha com o conceito de “consórcio inteligente” e ataca aquela que é considerada a principal dor do setor: o índice de desistências na contratação de consórcios, de 50%, segundo o Banco Central.

Para isso, a Turn2C investe em um modelo que parte de contratos com administradoras de consórcio – hoje são 15 parceiros, entre eles, Itaú, Banco do Brasil, Santander e Porto Seguro. Essa base cobre aproximadamente 80% do mercado.

Na outra ponta, a fintech tem parcerias com mais de 600 canais de distribuição, de corretoras de seguros e plataformas de profissionais autônomos até assessorias de investimentos e superapps, em um leque que inclui nomes como Warren e Sem Parar.

A startup conecta esses dois elos com uma infraestrutura turbinada por inteligência artificial e faz uma varredura nos produtos dessa base em busca do consórcio mais adequado à demanda de cada cliente. Ela é remunerada com uma parcela da comissão paga pelas administradoras aos canais de distribuição.

“O consórcio é extremamente complexo e a ideia é que o vendedor não precise ser um especialista”, diz Pinheiro. “Ele precisa trazer o objetivo do cliente e eu entrego a proposta ideal, aquela que tem a maior probabilidade de sucesso.”

A Turn2C acumula R$ 13 bilhões em crédito para consórcios simulados desde a sua criação. E, com um nível de 97% de acuracidade em suas análises, tem uma média de 6% de desistências nos contratos. Nessa base, em linha com o mercado, o produto é mais aplicado para financiar automóveis, motos, imóveis, terrenos, construções, reformas, máquinas, equipamentos e serviços.

Romero Rodrigues, da Headline (à esq.), Bruno Pinheiro, Tatiana Anderson e Thiago Ramos, da Turn2C,  e Gabriel Alves, da Headline

“A taxa de cancelamentos do setor tira a saúde financeira das administradoras”, diz Gabriel Alves, partner da Headline. “Na nossa visão, a Turn2C está ressignificando o consórcio com um modelo que, inclusive, tende a ampliar esse mercado.”

Os recursos da rodada terão duas aplicações. A primeira é o desenvolvimento de tecnologias para aprimorar outros processos na jornada dos consórcios, que não se encerra na contratação. A segunda vai envolver a ampliação da distribuição, de olho em aumentar a presença em segmentos como seguros e escritórios e grandes corretoras de investimento.

“Players como incorporadoras e portais imobiliários deveriam estar trazendo essa solução como uma alternativa”, afirma Romero Rodrigues. “Assim como o segmento do varejo, de linha branca e linha marrom.”

Inteligência artificial e “bons cavalos”

A inteligência artificial é também um dos componentes usados pela Headline, que usa uma plataforma interna batizada de Deepdive para refinar a análise sobre potenciais investidas. O recurso não substitui, claro, o faro de Rodrigues e seus pares para garimpar essas oportunidades.

A gestora tomou forma no fim de 2021, quando Rodrigues e seus sócios na Redpoint eventures, Manoel Lemos e Anderson Thees, decidiram trilhar caminhos separados. Ele se uniu então à Redpoint e à Headline (ex-eventures) na nova empreitada.

“Tivemos a sorte, de certa forma, de não pegar os valuations de 2021 e início de 2022. E, quando captamos R$ 916 milhões, compramos a briga de não sair fazendo os cheques”, diz Rodrigues. “Sentamos em cima do dinheiro e fomos fazer o primeiro investimento só em dezembro de 2022.”

No primeiro aporte, a Headline liderou uma rodada de R$ 36 milhões na Smart Break, de mercados autônomos para condomínios. Desde então, a gestora investiu na Delfos Energy, de softwares para a gestão de ativos de energia renovável; na Mission Brasil, plataforma de profissionais sob demanda; na proptech Trinus; e nas healthtechs Fin-X e Fiibo.

“A meta era fazer entre 20 e 25 empresas nesse portfólio, em cerca de quatro anos”, diz Gabriel Alves. “Estamos com pouco mais de 18 meses de fundo ativo e estamos num pace super saudável.” A gestora já investiu cerca de 20% dos recursos captados.

A ideia é usar 60% do capital para montar o portfólio e os 40% restantes para reinvestir nessas companhias. Aqui, Alves explica que a Headline parte da premissa de que um terço delas “morre”, um terço “anda de lado” e um terço, eventualmente, “paga o fundo inteiro”.

“Quando pegamos esses 40% e fazemos um follow on em parte dessas investidas, estamos indicando que podemos ter quase 60% do capital investido nos bons cavalos”, ressalta.

Nessa corrida, a Headline busca modelos de negócios eficientes em capital e que possam escalar rapidamente com tecnologia. A experiência dos empreendedores, bem como as referências de parceiros e clientes, são outros fatores de peso.

Agnóstica em relação a setores, a gestora foca empresas que estão entre uma rodada de late seed ou série A, com uma pequena abertura para aportes série B. Os cheques variam de R$ 5 milhões a R$ 30 milhões, buscando fatias de 20%. “A Turn2C se encaixa como uma luva nessa tese”, diz Rodrigues.

Ele usa a fintech para ilustrar outro elemento da tese da Headline. A visão é de que não faz sentido, mesmo em um momento de menor liquidez no mercado, reduzir substancialmente os cheques, dado que isso amplia a taxa de mortalidade, em vez de melhorar o resultado das investidas.

“No auge, talvez essa rodada seria de R$ 50 milhões, mas outras também captariam”, diz. “Agora, o Bruno levantou R$ 25 milhões, mas dificilmente outro fundo vai investir num rival. Então, a competição é menor e não só pelo cheque, o que torna a chance de a Turn2C ser bem-sucedida muito maior.”