Começa a operar nesta segunda-feira, 27 de janeiro, na cidade de São Paulo, a Mottu, uma startup que aluguel de motos para entregadores de aplicativo fundada pelo empreendedor Rubens Zanelatto.
A Mottu está nascendo com o apoio de grandes investidores, cujos nomes são guardados em segredo por Zanelatto. O NeoFeed descobriu que um deles é Ariel Lambrecht, fundador do aplicativo de táxi 99 e da startup de aluguel de bicicletas Yellow.
“Posso dizer que a Mottu conta com o apoio de fundadores de unicórnios, grandes empreendedores e experts no mercado de logística e aluguel de carros”, disse Zanelatto com exclusividade ao NeoFeed. “São super-anjos.”
Esse é o caso de Lambrecht, um dos fundadores da 99, o primeiro unicórnio brasileiro, como são chamadas as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. A avaliação bilionária foi alcançada em janeiro de 2019, quando foi comprada pela Didi Chuxing. A Yellow, por sua vez, se uniu a mexicana Grin, dando origem a Grow, que está atualmente desacelerando sua operação.
Neste primeiro momento, a Mottu vai focar na cidade de São Paulo. A operação começa com 200 motos, que serão alugadas aos motoboys em planos semanais ou mensais. O pagamento pode ser feito por cartão de crédito ou boleto. Haverá também uma pequena caução. As motos virão com seguro, em uma parceria com a Bradesco Seguros. “Ao motoboy, basta encher o tanque”, afirma Zanelatto.
O alvo são os entregadores que atuam para os aplicativos de delivery do iFood, Rappi, James, Loggi, Voe (da B2W) e Supermercado Now!. O empreendedor estima que existam 1,5 milhão de motoboys no Brasil. Cerca de 4 milhões de pessoas trabalham com aplicativos para sobreviver, número que incluiu também motoristas de Uber e 99.
Zanelatto diz que ninguém ainda investiu no aluguel de motos porque a inadimplência é muito alta, assim como o sinistro das motos. Para resolver essa dor, como ele diz, a solução foi buscar uma motocicleta que só roda atualmente no Norte e Nordeste, o que reduz a incidência de roubos – ele não revela a marca das motocicletas.
“Vou dar um ativo de R$ 10 mil para um cara que não tem crédito”, diz Zanelatto. “Estou acreditando no motoboy.” O empreendedor vai apostar, nesta primeira fase, em entregadores que são pais de família e vivem exclusivamente da renda gerada pelos aplicativos de delivery, como uma forma de reduzir os riscos.
A entrega das motos será feita na BrasilPark, uma rede de estacionamentos de São Paulo, com a qual a Mottu fez parceria. A sede da startup, aliás, ficará na garagem de um desses estacionamentos. “Vou começar numa garagem de verdade”, brinca o empreendedor.
Apesar de surgir como um negócio de aluguel de motos, Zanelatto explica que o plano é oferecer uma série de serviços aos motoboys. “Não quero ser conhecido como a ‘Localiza’ das motos”, diz o empreendedor. “O aluguel vai ser o primeiro produto, mas quero, aos poucos, aumentar minha participação na carteira deles com outros serviços.”
A ideia de criar a Mottu surgiu quando Zanelatto viu uma reportagem que mostrava o crescimento da economia compartilhada no Brasil. A matéria mostrava uma série de exemplos de pessoas que pedalavam mais de 80 quilômetros por dia para prestar serviço de entrega na cidade de São Paulo. Zanelatto avaliou que esse era um mercado que ninguém olhava.
Começou então a estudar o setor e fez uma ampla pesquisa de campo, com direito a realizar entregas nos lugares dos entregadores para conhecer a sua experiência. “Resolvi parar as pesquisas quando, na Faria Lima, um entregador respondeu minhas perguntas e no final me disse: essa é a segunda vez que eu respondo a você”, relembra Zanelatto.
Nas suas pesquisas, ele descobriu que o entregador tem uma renda média de R$ 4 mil e mora em bairros simples, a maioria fora de zonas de riscos. Mas, aos olhos de todos, ele é um marginalizado com difícil acesso a crédito. “Quero servir aos que não são servidos”, diz o empreendedor.
Antes de estrear a Mottu, ele fez uma longa viagem com as motos escolhidas pelo Nordeste. Em um dia, andou mais de 600 quilômetros para testar a durabilidade do equipamento.
Trajetória empreendedora
Zanelatto tem apenas 33 anos, mas conta com uma trajetória empreendedora. Ele começou sua carreira na ALL (America Latina Logística), uma empresa que já foi controlada pelos empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira (hoje, ela pertence à Rumo, do empresário Rubens Ometto).
Na sequência, foi trabalhar no fundo de private equity GP Investments, do investidor Fersen Lambranho. Ficou menos de um ano e foi ser COO na rede de Farmácia do Trabalhador, com mais de mil lojas, com sede em Guaranhuns.
Foi lá que ele teve a ideia criar a sua primeira startup, a Dr. Vendedor, que oferecia vídeos de treinamento para funcionários do varejo farmacêutico, em 2016. “Eram vídeos de pouco mais de 1 minuto para aqueles vendedores que não tinham um bom desempenho de vendas.”
Depois de quase três anos, o negócio não deu certo e ele resolveu fechar as portas da startup. "Percebi que o negócio não ira escalar", afirma Zanelatto.
Mas ele não desistiu de empreender. Passou uma época como residente na Astella, um fundo de venture capital brasileiro, antes de criar a Mottu. “Ela é uma empresa à moda antiga” diz Zanelatto. “Precisar dar retorno desde o início e precisa ser bom para o motoboy, investidor e empreendedor.”