Em 2014, Henrique Carbonell entendeu que as planilhas de Excel já não eram suficientes para controlar as rotinas financeiras e limitavam o crescimento do negócio da família, dona de 14 franquias de O Boticário. Da ausência de opções no mercado, veio a ideia de explorar uma oportunidade.
Nascia ali a F360⁰, com a proposta de desenvolver uma plataforma de gestão financeira para pequenos e médios varejistas e franquias. Depois de caminhar, desde então, com suas próprias pernas e recursos, a startup está trazendo os primeiros sócios fora do seu círculo.
A F360⁰ antecipou com exclusividade ao NeoFeed a captação de seu primeiro aporte, no valor de R$ 50 milhões. A rodada é liderada pelo fundo de venture capital brasileiro HiPartners, focado em retailtechs, e pela gestora, também brasileira, HIX Capital.
“Entendemos que era o momento de buscar sócios que trouxessem mais conhecimento para dentro da operação”, diz Carbonell, cofundador e CEO da F360⁰, ao NeoFeed. “E essa parceria já tem rendido frutos para a próxima etapa da jornada que traçamos para a companhia.”
Fazer jus ao seu nome e cobrir um escopo maior no back office dos clientes é a orientação da empresa a partir da injeção de recursos. Hoje, a plataforma automatiza a conciliação de cartões de crédito e integra essas rotinas como gestão de contas a pagar, contas a receber, orçamento e fluxo de caixa.
“No fim do dia, somos um ERP, mas bem mais leve e simples de ser usado por esse perfil de empresa”, explica Carbonell, sobre a ferramenta, ofertada no formato de software como serviço. Hoje, a companhia atende mais de 6,5 mil lojas, ligadas a mais de 300 marcas do varejo.
Nos últimos 12 meses, a startup acumula mais de R$ 11 bilhões em transações registradas por meio de sua ferramenta. A plataforma também ajudou essas franquias e PMEs recuperarem mais de R$ 185 milhões no período, com a conciliação e gestão de recebíveis.
Para avançar algumas casas com seu portfólio nesses clientes, o primeiro passo dado com o aporte é aquisição da Lupa, startup carioca, ainda em fase pré-operacional. A empresa desenvolveu um sistema que, entre outras funcionalidades, faz uma varredura fiscal e contábil para identificar eventuais pendências do varejista.
“O racional foi buscar um atalho para construir a nossa plataforma contábil e trazer um time com conhecimento nessa área”, diz. Ele ressalta que a estratégia pode incluir outros acordos. “Temos conversas envolvendo desde produtos e serviços financeiros até soluções de recursos humanos.”
Essa é também a pegada nos esforços orgânicos da empresa. Em dezembro, a empresa lançou um módulo de acompanhamento diário de vendas, produtividade e metas por loja. E está em fase de desenvolvimento de um emissor de nota fiscal e de um módulo de RH, que vai automatizar processos como admissão, gestão de férias, faltas, turnover e desligamento.
Os recursos também serão aplicados na ampliação do time, composto hoje 105 funcionários. A previsão é encerrar 2021 com um quadro de 150 profissionais, com destaque para as áreas de desenvolvimento e de produto.
Com todos esses movimentos, uma das metas da F360⁰ é chegar ao fim desse ano com uma base de 9 mil lojas plugadas na sua plataforma. Para isso, a empresa terá, no entanto, que enfrentar a concorrência crescente nesse segmento.
“Depois da guerra das maquininhas, os ERPs são a próxima fronteira de disputa pelas operações das PMEs”, diz uma fonte do mercado. “Há um potencial gigantesco nesse mercado, que ainda é mal atendido. Mas, ao mesmo tempo, a concorrência é cada vez maior.”
A lista inclui nomes mais consolidados, tradicionais e de maior porte, como a brasileira Totvs, que sempre teve boa penetração junto a esse perfil, e a alemã SAP, que, há anos, busca ganhar terreno entre esses clientes.
Há também concorrentes de porte como a Stone, que tem feito aquisições para avançar nessa área, entre elas, o acordo pela Linx. Além de startups que nasceram e ganharam relevância junto às PMEs, como a Omie, que acaba de captar um aporte série C de R$ 580 milhões, liderado pelo Softbank.