As startups que apostaram na fabricação de carros elétricos estão longe de estarem desfrutando de uma viagem tranquila. Empresas como Rivian, Lucid, Lordstown Motors, Nikola, entre outras, estão enfrentando problemas em manter o equilíbrio financeiro de suas operações. Nesta crise, sobrou até para a Tesla.

Avaliada em US$ 12,9 bilhões, a americana Rivian já viu seu valor de mercado diminuir quase 89% desde a abertura de capital, em novembro de 2021. Somente no último ano, a companhia queimou US$ 6,6 bilhões em caixa – mais da metade do valor que levantou em sua oferta pública inicial. A previsão é de que mais US$ 6 bilhões sejam gastos neste ano.

No mês passado, a companhia realizou dois anúncios. Em um deles informou que iria demitir 6% de sua força de trabalho, o que representa algo em torno de 840 pessoas. No segundo, afirmou que a capacidade de sua produção para 2023 seria de 50 mil veículos elétricos entre caminhões utilitários esportivos e vans. O número não agradou ao mercado e fez com que as ações da companhia desabassem 18% após o anúncio.

Ainda que com uma melhora na venda de suas ações desde o começo do ano, a compatriota Lucid está em uma situação semelhante. Com valor de mercado de US$ 15,2 bilhões, a companhia já perdeu pelo menos US$ 9 bilhões em valor de mercado desde que abriu capital, em julho de 2021, via fusão com uma SPAC.

Em termos de produção, a companhia que fabrica sedãs elétricos também apresentou resultados que pouco brilharam aos olhos dos acionistas. As reservas de automóveis da companhia, que no primeiro semestre do ano passado somaram 37 mil unidades, diminuíram para 28 mil ao longo do segundo semestre.

Lordstown Motors, Faraday Future Intelligent Electric e Nikola também enfrentam problemas de caixa e que afetam diretamente a produção de suas fábricas. A Lordstown Motors, por exemplo, iniciou as vendas de seu caminhão elétrico Endurance ainda no quarto trimestre, mas somente seis unidades foram entregues aos compradores até agora.

O caso da Fisker é um pouco melhor. A companhia com sede na Califórnia apresentou projeções mais otimistas. Avaliada em US$ 2,2 bilhões, a companhia informou que gastou menos do que esperava em 2022. O caixa, que terminou o ano passado em US$ 736 milhões deve suportar as despesas deste ano, avaliadas em US$ 610 milhões. A meta de produção é de 40 mil automóveis no modelo Ocean SUV.

O caso dessas startups mostra que encontrar uma empresa para vingar neste mercado pode ser mais difícil do que alguns investidores pensavam quando, somente nos últimos três anos, despejaram mais de US$ 123 bilhões em startups de veículos elétricos por meio de ofertas públicas, acordos de fusões e mecanismos de financiamento. Os dados são da consultoria Dealogic.

Ao mesmo tempo em que os investidores não parecem satisfeitos, as fabricantes tentam de alguma maneira conseguir mais dinheiro para financiar suas operações. A Lucid, por exemplo, levantou US$ 1,5 bilhão com a venda de ações. O dinheiro reforçou o caixa para US$ 1,7 bilhão, o que seria o suficiente para a companhia até o primeiro trimestre de 2024. Se não melhorar sua operação até lá, poderá buscar mais dinheiro.

Ir ao mercado atrás de dinheiro para financiar uma operação de fabricação de carros elétricos não é algo de outro mundo. Durante anos, a Tesla fez o mesmo. Enquanto registrava perdas financeiras, a companhia de Elon Musk tentava aumentar sua escala de produção. Em determinado momento, a companhia conseguiu manter números que faziam sentido.

Mas nem mesmo a gigante avaliada em US$ 593,9 bilhões está ilesa de problemas. Nos últimos três meses, a montadora realizou dois cortes de preços em seus modelos. A última redução envolveu os preços no Model S e no Model X. Os descontos de 5% e 9% fizeram com que os veículos passassem a custar a partir de US$ 89.990 e US$ 99.990. Em janeiro, o Model 3 e o Model Y também tiveram redução.

Além da demanda por peças que estão em falta no mercado (como chips semicondutores), essas empresas agora enfrentam também uma concorrência mais acirrada no setor. Por exemplo: companhias como BMW e Mercedes, que também fabricam veículos de luxo com motores elétricos, contam com uma estrutura.