Em dezembro do ano passado, a fintech mexicana Clara se tornou unicórnio após levantar US$ 70 milhões em um aporte liderado pela Coatue Management. Boa parte da cifra foi reservada para reforçar a operação da startup em novos mercados da América Latina, principalmente o Brasil, onde a startup acabara de iniciar suas operações.
Pouco mais de oito meses depois, a Clara está novamente levantando capital. Dessa vez, porém, trata-se de uma operação de dívida feita junto ao Goldman Sachs. O valor também é bem diferente: US$ 150 milhões, mais do que o dobro da captação realizada no fim de 2021.
“É uma operação de dívida que vai permitir que a Clara opere em uma escala maior e com foco em companhias maiores”, afirma Gerry Giacomán Colyer, cofundador e CEO da Clara, ao lado de Diego García. Antes, a dupla já havia trabalhado na Grin Scooters, empresa que, em 2019, se fundiu com a brasileira Yellow e deu origem à Grow Mobility.
A ideia é que o montante obtido junto ao Goldman Sachs, cujos detalhes da transação foram mantidos em sigilo, seja usado para financiar as operações de crédito da fintech. Já o dinheiro captado no fim de 2021, com equity, será reservado aos investimentos em novas tecnologias e na expansão do negócio para novos mercados.
Com atuação bastante centrada em cartões corporativos, a competição da Clara se dá contra fintechs como a Stark Bank, que fez um caminho inverso, ao começar com soluções de pagamento e, posteriormente, se tornar um emissor de cartões. Outros bancos digitais também rivalizam com a startup mexicana. Entre eles, C6 Bank, BS2 e LetsBank.
A Clara ganha dinheiro de duas formas. Primeiro, com as taxas de intercâmbio cobradas nos cartões corporativos, sendo que os da empresa usam bandeira Mastercard e não tem taxas. Depois, com um produto que faz a gestão de gastos das empresas.
Pode-se dizer que o modelo de negócios da Clara foi inspirado em uma operação bem brasileira, mas que ainda está distante do País. Trata-se da Brex, fintech americana criada fundada pelos brasileiros Henrique Dugubras e Pedro Franceschi, e que, assim como a empresa mexicana, tem o DST Global como um dos seus investidores.
Com maior presença no México, mas tendo o Brasil como um mercado em potencial para ser a sua maior operação na América Latina, a Clara também já desembarcou na Colômbia. No total, são seis mil clientes atendidos pela empresa com cartões corporativos e serviços de gestão de gastos. Conforme apurou o NeoFeed, cerca de 600 estão no Brasil.
Quando foi estruturada, a operação da Clara era mais focada em empresas pequenas e médias, com quadros formados por pelo menos entre 5 e 10 funcionários. Isso ajudou a companhia a escalar seu negócio. Nos últimos meses, porém, a fintech vem buscando acordos com clientes de maior porte.
Para o futuro, Colyer não descarta buscar mais recursos no mercado. Um dos fatores que podem acelerar esse processo é o plano de expansão para novos mercados. No radar estão países como Chile e Peru. “Nós lançamos a companhia no México, mas sempre nos vimos como uma empresa latino-americana”, afirma Colyer.
A expansão geográfica deve começar a ganhar mais tração nos próximos trimestres, mas não há uma data exata. Até o fim do ano, a tendência é que a companhia apenas se concentre no que já está em funcionamento. A meta é aumentar o número de clientes para 10 mil até o fim do ano. O Brasil deve concentrar a maior parte do crescimento.
Em relação às funcionalidades e à ampliação do seu portfólio, a Clara avalia investir em produtos como gestão de folha de pagamento, novas formas de pagamento e prazos mais longos para os clientes.