Aos 46 anos, Guilherme Porto Bruno costuma brincar que, como empreendedor, é um “marinheiro de sétima viagem”. Fundada em 2018, a fintech de crédito imobiliário Homelend é a sua mais recente jornada. E está carimbando o passaporte para embarcar em um novo rumo em seu modelo de negócios.
A startup anuncia nesta quinta-feira, 28 de outubro, a captação de um aporte de R$ 25 milhões, liderado pela Astella Investimentos, gestora brasileira de venture capital que já investiu em operações como a RD Station, vendida para a Totvs, e a Omie.
A rodada tem ainda participação da gestora de patrimônio Jera Capital, que consolidou os recursos de uma série de family offices, cujos nomes não foram revelados. Esses veículos já investiam na Homelend que, até então, havia captado R$ 100 milhões.
“A partir de agora, nosso negócio vai ser ainda mais intensivo em capital do que era originalmente”, diz Bruno, cofundador da Homelend, em entrevista ao NeoFeed. “E, nesse contexto, a chegada da Astella tem um valor estratégico de ajudar a companhia a sair da infância para a adolescência.”
A passagem para a vida adulta se traduz na mudança do modelo da fintech. A empresa nasceu como uma plataforma digital para conectar os interessados em comprar um apartamento com as opções de financiamento disponíveis nos cinco grandes bancos do País.
Nessa intermediação, a Homelend usava a tecnologia para simplificar os trâmites burocráticos desse processo e identificar as ofertas mais adequadas ao bolso dos clientes. Agora, a startup está avançando algumas casas para ganhar terreno no mercado.
Lançada em agosto, como uma unidade de negócios, a TecHome reúne a nova aposta da companhia, que consiste no financiamento de casas, e não mais apartamentos, por meio da conexão dos compradores com loteadores donos de terrenos localizados fora dos grandes centros urbanos.
A fintech também oferece a entrega do imóvel pronto, por meio de três parceiros homologados e especializados em casas industrializadas. Na prática, todo o projeto já sai pronto de fábrica, com toda a instalação hidráulica, elétrica, cômodos e demais componentes.
No local escolhido, a casa é, então, "montada". A Homelend se responsabiliza ainda pela burocracia envolvida nesses processos, como a aprovação dos projetos nos órgãos competentes.
Outra diferença em relação ao seu formato tradicional de atuação é o fato de que as operações serão financiadas pela própria empresa. Todos os recursos do novo aporte, assim como o que a empresa já captou por meio de FIDCs, será aplicado com essa finalidade.
“Nossa ideia é que o cliente tenha a mesma experiência da compra de um apartamento de uma grande construtora para realizar o sonho da sua casa própria”, afirma Bruno. “Ele escolhe o lote, a casa, customiza o projeto, paga os boletos e, entre seis e dezoito meses, está pronto para mudar.”
Ele recorre a dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada em 2020 pelo IBGE, para referendar esse novo olhar. Segundo o levantamento, 85,6% dos brasileiros vivem em casas, o equivalente a 62 milhões de moradias no País.
“O mercado de financiamento de imóveis é, no entanto, invertido. Cerca de 80% dos recursos estão voltados aos apartamentos”, afirma. “As construtoras ganham escala com aumento de unidades e resolvem o problema da habitação criando o problema da mobilidade urbana.”
Para oferecer uma opção a esse modelo, a Homelend vai focar inicialmente sua atuação no interior de São Paulo, por meio de oito polos, que reúnem as regiões próximas de uma cidade. São elas: Campinas, Sorocaba, São José dos Campos, Piracicaba, São José do Rio Preto, Bauru, Barretos e Araçatuba.
A empresa também tem alguns projetos no Mato Grosso do Sul e no Paraná. Dentro dessa abordagem, a fintech tem, apenas em São Paulo, cerca de 300 mil lotes mapeados e à disposição dos clientes. E já costura a atuação conjunta com loteadores para ser a parceira de financiamento em lançamentos.
A análise de risco e a contratação do crédito são apoiadas por um processo 100% digital e por recursos como inteligência artificial, a partir de dados como o CPF do comprador em potencial. “Conseguimos fazer um streaming amplo na vida desse cliente e todo seu histórico”, explica Bruno.
O plano é concentrar a atuação em tíquetes de R$ 180 mil a R$ 1 milhão. Os lotes vão de 125 a 360 metros quadrados, e as casas de 42 até 200 metros quadrados. As taxas de juros começam em 8% e o prazo dos financiamentos vai até 20 anos.
“O que fez brilhar os nossos olhos é o fato de que esse modelo é dez vezes mais eficiente do que as ofertas disponíveis no mercado”, afirma Marcelo Sato, sócio da Astella. “A residência é entregue em até dezoito meses, dentro de um orçamento previsível e por meio de uma jornada sem atritos.”
O modelo já representa 40% da receita da Homelend. A expectativa é de que, em um ano, ele responda por 100% da operação, que contabiliza mais de 200 mil créditos imobiliários desde a sua fundação. A empresa prevê concluir 600 financiamentos sob o novo formato nos próximos doze meses.
Coordenador do curso de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da FGV, Alberto Aizental enxerga boas perspectivas no modelo proposto pela fintech e destaca o fato de a empresa estar indo na contramão de boa parte do mercado.
“É um segmento pouco explorado, distante do mainstream do setor, mas que faz muito sentido para o cliente da classe média para baixo”, afirma Aizental. “E que, para ganhar escala, pode ser trabalhado sob a ótica de ser o parceiro dos loteadores.”
O mercado de crédito imobiliário tem movimentado outros investimentos e projetos. Em agosto deste ano, por exemplo, a Loft comprou a fatia de 49% que o BTG Pactual detinha na CredPago, startup do setor. No mesmo mês, o QuintoAndar comprou a Atta, mais um nome do segmento.