Na música “Fado Tropical”, o compositor Chico Buarque de Hollanda, de uma forma irônica, mistura paisagens, sabores e objetos de Portugal aos do Brasil, como avencas na caatinga, alecrins no canavial e licores na moringa. Até o Rio Amazonas corre Trás-Os-Montes na canção.
Agora, uma gestora de venture capital vai cruzar o Atlântico em direção a Portugal para levar o jeito brasileiro de investir em startups para a Europa. É a Futurum Capital, que está no processo final de criar um fundo de € 30 milhões para investir em startups na Europa, bem como levar algumas das empresas que investiu no Brasil para Portugal.
“Portugal está com uma linha de incentivo para startups que é uma coisa que nunca vi na vida”, diz Eduardo Zaidan, fundador da Futurum Capital, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais gestores de venture capital e private equity do Brasil.
A captação está sendo feita em conjunto com a IMGA, uma gestora portuguesa independente, e está nos trâmites finais na CMVM, o xerife do mercado português, equivalente a CVM no Brasil. “Já conversamos com uma série de investidores comprometidos a entrar no fundo. A captação será bem rápida”, diz Zaidan.
O plano da Futurum Capital é fazer de Portugal a porta de entrada para investir na Europa. Mas Zaidan admite que as linhas de incentivos para investimentos em startups do governo português e da União Europeia têm atraído muitos investidores ao país.
As duas principais linhas são o Portugal 2030 e a Bazuca (este da União Europeia). Cumprindo determinadas regras, os fundos podem ser elegíveis a receber capital do governo português a fundo perdido ou com taxas de juros baixíssimas. “Existem casos em que eu coloco um euro e o governo coloca outro euro”, explica Zaidan.
A ideia de Zaidan e de seus sócios brasileiros, Giancarlo Barone, Fabio Fakri e Guga Stocco, é replicar a receita brasileira na terra do cravo e do alecrim, desenvolvendo startups do zero e investindo em diversas fases da empresa, que vai do anjo, quando o negócio está no Powerpoint, até a série A, quando já começa a tracionar.
No começo de sua trajetória, a Futurum Capital fez os primeiros investimentos com capital próprio dos sócios. No ano passado, começou a captar um fundo de R$ 100 milhões para investir no Brasil e nos Estados Unidos.
Dessa forma, a Futurum Capital construiu um portfólio de 25 startups, a maioria delas no estágio seed. São empresas como a americana Zeph, que desenvolve vitaminas e produtos à base de cannabis para uso medicinal, e a brasileira Spaceflix, de serviço de móveis e acessórios sob assinatura para casas. Os cheques, por conta leque amplo de investimento, variam de R$ 500 mil a R$ 15 milhões.
Muitos negócios são desenvolvidos do zero pela Futurum Capital, que conta com uma estrutura para apoiar os empreendedores e as startups. Em outros investimentos, a gestora é um venture capital tradicional, realizando apenas o aporte.
Nos dois casos, no entanto, o objetivo é influenciar na gestão da startup de alguma forma. “Não entramos em nenhum negócio que não temos uma abertura para ajudar”, afirma Zaidan. “Temos uma área de operação que trabalha junto com as startups que investimos.”
Essa fórmula será seguida em Portugal, onde a Futurum Capital pretende montar um portfólio de 20 a 30 startups. A intenção é levar empresas do Brasil para a Europa e vice-versa. Nessa fase inicial, cinco startups brasileiras devem abrir suas operações em Portugal. Duas delas já estão de "malas prontas": a Spaceflix e a Elytron, de cibersegurança.
Nesta entrevista, que você acompanha no vídeo acima, Zaidan explica em detalhes os motivos de investir na Europa, conta sobre o modelo de negócios da Futurum Capital, que se autodefine como uma ‘venture developer’, e diz como pretende transformar Portugal em um imenso Brasil. Saiba o motivo em mais um episódio do Café com Investidor.