Fintechs, carros elétricos, plant-based... Há provas e mais provas de que o mercado vive de ondas – ou de bolhas, em alguns casos. A nova tendência que começa a ganhar o coração e os cheques dos fundos de venture capital são as startups que desenvolvem soluções para enfrentar o aquecimento global.

No mundo, as chamadas climatechs já movimentam bilhões de dólares em investimentos. Um estudo da PwC aponta que essas startups receberam quase US$ 64 bilhões em 2023, um crescimento de mais de 70% em comparação a 2021. Um detalhe importante: esse avanço aconteceu em meio a seca do venture capital.

Essa tendência, agora, começa a atrair as gestoras brasileiras, que estão desenvolvendo teses para investir em climatechs, querendo sair na frente nessa corrida. Positive Ventures, Kamaroopin, GK Partners e KPTL e são exemplos de gestoras de venture capital que estão investindo ou analisando negócios em startups climáticas.

“Essa é, sem dúvidas, a maior oportunidade de investimentos da década”, afirma Fábio Kestenbaum, cofundador e sócio da Positive Ventures, ao NeoFeed. “Estamos falando de trilhões de dólares.”

Trata-se, de fato, de um mercado trilionário. O investimento global em projetos relacionados ao clima foi, em média, de quase US$ 1,3 trilhão por ano em 2021 e 2022, de acordo com a consultoria Climate Policy Initiative (CPI).

Mesmo assim, o volume trilionário de investimentos feito por governos e entidades privadas ainda é pouco. A própria CPI estima que são necessários US$ 8,6 trilhões por ano até 2030 para atingir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

É de olho nesse mercado grande – uma característica para que os fundos de venture capital se interessem em alocar o capital – que as gestoras brasileiras lutam por encontrar startups voltadas para soluções climáticas.

Com um fundo de mais de R$ 130 milhões, a Positive Ventures, que já investiu em startups como Eureciclo, Ruuf e Favo, fez seis dos oito aportes do ano passado em climatechs. O movimento mais recente foi com a Pachama, startup que faz a geração e o monitoramento de créditos de carbono florestais, fundada pelo argentino Diego Saez, nos Estados Unidos.

A Positive Ventures participou da extensão de US$ 9 milhões da rodada de série B da Pachama, que totalizou US$ 64 milhões, em dezembro do ano passado. Além da gestora brasileira, são sócias da climatech Lowercarbon Capital e Breakthrough Energy, de Bill Gates, que são algumas das gestoras pioneiras em investimento nessas teses.

O foco da Positive Ventures é investir em startups em estágio inicial e que buscam cheques entre R$ 1,5 milhão e R$ 5 milhões. De acordo com Kestenbaum, o plano é investir R$ 150 milhões em 25 startups na América do Norte e na América do Sul.

Clima "caro"

Outro dado que mostra o avanço das climatechs é o número de startups que apostam na tese. Ele saltou de 35 mil em 2010 para quase 45 mil em 2022, segundo informações coletadas pela Endeavor em seu último relatório sobre o setor no mundo. Esse crescimento, no entanto, traz desafios para as gestoras de venture capital.

“Investimentos em empresas em estágio de growth. E não há tantas oportunidades”, diz Patrícia Cordeiro Nader, sócia da GK Partners. “Quando encontramos, as empresas estão disputadas e os valuations muito altos.”

Com investimentos que variam entre R$ 50 milhões e R$ 75 milhões, a gestora de Eduardo Mufarej, que já captou mais de R$ 411 milhões em seu último fundo, intensificou a busca por climatechs.

A gestora já fez três aportes neste segmento, sendo que um ainda é mantido em sigilo e envolve uma empresa do Reino Unido. Os outros dois investimentos foram na brasileira Vertuos, que faz a descarbonização dos processos produtivos industriais, e na australiana Rumin8, focada em reduzir a emissão de carbono na pecuária.

Enquanto novas oportunidades de investimento no Brasil não aparecem no radar da gestora – principalmente com negócios voltados para bioinsumos –, o foco está em tentar trazer as tecnologias das startups investidas no exterior para o Brasil. Há conversas avançadas para a chegada a Rumin8 ao país.

Os valuations inflados têm sido também um obstáculo para a Kamaroopin, a gestora que teve a totalidade da sua operação adquirida no ano passado pelo Pátria Investimentos. Lá, a palavra de ordem tem sido “cautela”.

“O setor está na moda agora. Claramente, é uma tendência. Mas ainda tem muita tecnologia emergente e precisa ter cuidado para não correr riscos”, diz Beatriz Lutz, sócia da Kamaroopin. “Achar empresas que já estejam consolidadas e possam mitigar riscos tecnológicos e regulatórios é complexo. Quando achamos, está caro.”

Ainda assim, a Kamaroopin espera fazer até dois aporte nesta tese ainda neste ano. No radar estão negócios de geração de energia distribuída e do setor de florestas. O dinheiro vem do fundo de US$ 200 milhões, que ainda está em fase de captação, e que será utilizado para investir em até 10 startups.

A tese de florestas interessa também à KPTL, que opera com um veículo de floresta e clima. O fundo ainda está em fase de captação de investimento para atingir a meta de R$ 200 milhões até o fim do ano. Entre os limited partners estão Fundo Vale, BNDES, Jacto e Zeg.

Até o momento, a KPTL fez apenas um investimento neste fundo, um aporte de R$ 3 milhões na Ages Bioactive, startup de biotecnologia para que produz compostos bioativos voltados para longevidade. “Precisamos olhar para a base da pirâmide para que no futuro existam mais rodadas seed e série A”, diz Danilo Zelinski, head do fundo Floresta e Clima da KPTL.