As baterias de lítio são o petróleo do futuro. Elas já são usadas para “abastecer” todo tipo de eletrônicos, de celulares a notebooks, até aos carros elétricos. Mas a extração da matéria-prima e a durabilidade dessas baterias são duas questões que startups de todas as partes do planeta estão tentando melhorar.

Essas duas “dores” estão por trás de uma nova corrida dos investidores. Segundo um levantamento do Pitchbook, uma consultoria especializada em venture capital, os fundos de capital de risco aportaram US$ 1,7 bilhão, em 2019, em startups que estão pesquisando a bateria do futuro.

"Há uma aposta que os sistemas de armazenamento de longa duração são o futuro”, disse ao Business Insider Dan Finn-Foley, analista da companhia de consultoria em energia Wood Mackenzie. “O dinheiro está indo para esse espaço.”

Na semana passada, foi a vez de Bill Gates fazer um novo investimento nessa área. A Lilac Solutions recebeu US$ 20 milhões do Breakthrough Energy Ventures, comandado pelo fundador da Microsoft, e do fundo The Engine, do MIT. A startup, cuja sede é Oakland, na Califórnia, quer tornar a extração de lítio menos intensiva de água e mais sustentável.

A Lilac desenvolveu uma técnica capaz de reduzir o uso de água para extrair o lítio de depósitos subterrâneos de água salgada, onde estão 75% de suas reservas. Pelo processo atual, estima-se que cada tonelada de lítio extraída da salmoura requer 70 mil litros de água doce.

Esse não é o único investimento de Bill Gates na área de energia. Através do Breakthrough Energy Ventures, ele também apostou US$ 30 milhões na americana ESS, que oferece armazenamento barato e duradouro através de baterias eletroquímicas.

O fundo comandado por Gates também participou de uma rodada, no ano passado, de US$ 50 milhões na Form Energy. A startup é composta por um time que inclui Mateo Jaramillo, que construiu o negócio de armazenamento de energia da Tesla, Ted Wiley, cofundador da Aquion Energy, e Yet-Ming Chiang, um dos pesquisados mais respeitados do mundo das baterias.

O trio está por trás de uma startup que promete desenvolver uma bateria de longa duração, que pode ser de 50 a 100 vezes mais barata do que as baterias de íon de lítio.

Não é só Gates que está a caça de startups de energia. O motivo para tanto interesse é simples. O mercado de baterias de íon de lítio deve quintuplicar neste década, mesmo com a queda dos preços médios, de acordo com a BloombergNEF.

A estimativa é de que as vendas anuais de baterias aumentem de mais de US$ 20 bilhões para pouco mais de US$ 100 bilhões em 2029

A estimativa é de que as vendas anuais de baterias aumentem de mais de US$ 20 bilhões para pouco mais de US$ 100 bilhões em 2029 e para cerca de US$ 116 bilhões até 2030.

Vários investidores abriram a carteira na busca por startups da área. Quem mais obteve recursos foi a sueca Northvolt, fundada em 2016 por Peter Carlsson, ex-vice-presidente da Tesla. Em junho do ano passado, a startup recebeu investimento de US$ 1 bilhão das montadoras alemãs BMW e da Volkswagen, para construir uma fábrica de baterias para veículos elétricos.

Outra startup que está na corrida para criar a bateria do futuro é a californiana Sila Nanotechnologies, que obteve US$ 215 milhões em duas rodadas de investimentos, uma delas da alemã Daimler, a fabricante dos carros Mercedes-Benz.

A Sila usa uma tecnologia chamada de anodo de silício. As baterias de íons de lítio possuem um eletrodo negativo, ou anodo, feito de um material a base de carbono. A durabilidade de uma bateria de lítio é determinada pela capacidade do carbono em acomodar os íons.

Ocorre que o silício consegue acomodar dez vezes mais íons de lítio do que o carbono. Mas não se trata de uma solução trivial. Apesar de ser mais eficiente, o silício se esfarela depois de alguns poucos ciclos de carga e recarga. A Sila desenvolveu um anodo de silício resistente que poderia melhorar a densidade de energia das baterias em 20%.

A Romeo Power, do fundador Porter Harris, um ex-funcionário da Tesla e da SpaceX, é também uma das empresas promissoras da área. A companhia trabalha num projeto ultrassecreto de uma fábrica de bateria de lítio para consumidores e veículos elétricos. Em 2019, ela recebeu US$ 89 milhões da Mercom Capital Group.

É cedo para saber qual dessas startups vão vingar. Afinal, o negócio é de alto risco. A lista de empresas da área que faliram é enorme e inclui nomes como A123, Axion, Alevo, Camborne Energy Storage e LightSail Energy.

“Me envie uma lista de pessoas que fizeram dinheiro com baterias”, disse o investidor Tom Blum, que já aportou dinheiro em mais de 30 empresas de energia renovável, em entrevista ao Business Insider. “Meu conselho é: fuja delas.”

É um conselho que a maioria dos fundos de ventures capital não está seguindo. Nem Bill Gates.

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