Ainda há espaço para novos entrantes na competição entre bancos e fintechs. Mas, dificilmente, será para rivalizar diretamente contra startups que se tornaram gigantes como a Nubank ou contra as iniciativas digitais de bancos como Bradesco, Itaú e Santander. Para correr por fora, o jeito parece ser buscar atender nichos específicos.
Esse é o caso da MasterBarter. No mercado desde setembro de 2020, com foco no agronegócio, a companhia surgiu com a proposta de modernizar as operações de barter, um mecanismo de financiamento da safra que consiste no pagamento de insumos através das entregas dos grãos na pós-colheita, sem a intermediação monetária.
Agora, a startup está ampliando essa oferta com o lançamento de sua conta digital. “O agricultor pode depositar a produção de, por exemplo, 1 mil sacas de soja, e receber o dinheiro antecipado pelo aplicativo”, diz Walter Dissinger, ao NeoFeed.
Cofundador e CEO da startup, Dissinger é conhecido no mercado por ter sido CEO global da Votorantim Cimentos e por suas passagens em diversos cargos globais de liderança na Basf.
Ele conta que a ideia da MasterBarter surgiu ao tomar um café com Francisco Pereira, que viria a se tornar seu sócio na startup, e que também é CEO da fintech Trademaster. “Queríamos criar um ecossistema para gerar uma maior inclusão financeira ao produtor rural”, diz Dissinger.
Além da dupla, o empresário Marcelo Borba, fundador e ex-CEO da empresa MB Engenharia, integra a lista de fundadores da startup, que tem sede em Goiânia.
Para tirar a ideia do papel, os executivos foram ao mercado e captaram R$ 5 milhões numa rodada pré-seed realizada ainda em 2020. O aporte teve a participação dos fundadores, de investidores-anjo e dos fundos Parallax Ventures e a FRAM Capital.
De lá para cá, a MasterBarter focou seu negócio na criação da Digibarter, plataforma de digitalização de contratos e de registro automático no Banco Central para facilitar os trâmites burocráticos e permitir que qualquer cultivo, de qualquer produtor agrícola, possa ser usado num processo de barter.
“Os contratos são todos digitais. Não tem mais aquela coisa de papel pra lá e pra cá e idas ao cartório”, afirma Dissinger. O processo é feito através do uso de tecnologia blockchain desenvolvida pela empresa americana GrainChain, parceira da startup brasileira.
A conta digital chega para complementar esse ecossistema ao permitir que as transações financeiras possam ser feitas através de poucos cliques na tela de um aplicativo que, por sua vez, exibe um saldo adicional referente aos depósitos de grãos futuros.
Dissinger explica ainda explica que os correntistas terão direito ao uso de um cartão de crédito prazo safra com bandeira MasterCard. A ideia é permitir que o produtor possa converter o grão em dinheiro sempre que precisar de liquidez. Os gastos, então, poderão ser feitos através do cartão, que ganhou o nome de BarterCard.
Para gerar receita, a startup aposta em um modelo de software como serviço. Os preços são mantidos em sigilo pela empresa e variam a cada contrato, dependendo do tamanho das operações.
A conta digital – que só pode ser criada por quem tem acesso a essa plataforma – vai aumentar a fonte de receita com taxas cobradas por operações transacionais e no cartão de crédito.
Novo aporte
Para turbinar a conta digital, a MasterBarter pretende captar mais dinheiro no mercado nos próximos meses. A startup tem conversas com investidores para captar R$ 20 milhões numa rodada seed que deverá ser concluída até abril. A intenção é utilizar 40% do dinheiro em marketing e vendas.
“Queremos chegar em cooperativas, distribuidoras e grandes empresas de insumos”, diz Dissinger. Por ora, a MasterBarter tem 10 clientes que totalizam cerca de 200 agricultores. A meta é chegar a 5 mil produtores e transacionar R$ 400 milhões até o fim de 2022.
Para os próximos três anos, a projeção é ter 80 mil agricultores como correntistas na startup e transacionar R$ 7 bilhões. “O Brasil tem uma oportunidade enorme para tecnologia, para fintechs e agrotechs e o agricultor está aberto à inovação, se a inovação falar a língua dele”, afirma Dissinger.
A competição nesse espaço, no entanto, também começa a ficar acirrada, com o avanço de startups e fintechs que miram o agronegócio. Entre elas, estão empresas como TerraMagna, BartDigital, Seedz, DuAgro e Agrolend. A última já levantou mais de US$ 24 milhões em aportes, sendo US$ 14 milhões numa rodada de Série A feita em janeiro deste ano liderada pela Valor Capital Group.
Outro exemplo é a Nagro, que levantou R$ 64 milhões em dezembro de 2021, sendo R$ 58 milhões por meio de um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). Os R$ 6 milhões restantes contaram com recursos injetados pela gestora Kardinal, por Ariel Lambrecht, cofundador da 99, e por Renato Mendes, CEO do multifamily office Oikos.