Em junho de 2021, quando a DNA Capital, gestora da família Bueno, controladora da Dasa, assinou um cheque de R$ 300 milhões e assumiu o controle da Memed, o diagnóstico foi claro. Era preciso começar a rentabilizar a base de usuários da healthech de prescrições médicas digitais, fundada em 2012.
A receita também indicava a necessidade de ir além da proposta pela qual a startup ficou conhecida. Como parte dessa visão, em outubro do mesmo ano, a DNA Capital liderou um novo aporte, de R$ 100 milhões, com o Temasek, fundo soberano de Cingapura, que contou ainda com a Fit Participações.
Com “gasolina no tanque” e pouco mais de um ano depois da entrada dos novos sócios tomarem as rédeas da operação, a Memed está avançando nesse plano com o lançamento da Memed+, nova versão da sua plataforma online de venda de medicamentos.
“A Memed era simplesmente um motor de prescrição eletrônica e uma das nossas missões era começar a apertar os botões e testar as alavancas de monetização”, diz, ao NeoFeed, Joel Rennó Jr., que assumiu como sócio e CEO da healthtech, a convite da DNA Capital, também em junho de 2021.
Ele explica que a Memed+ é uma evolução natural da plataforma de compra direta de remédios lançada pela startup em maio deste ano, que incluía ainda a possibilidade de agendar exames em clínicas e laboratórios parceiros e que já superou um GMV de R$ 100 mil em pouco mais de um mês no ar.
Entretanto, diferentemente dessa primeira investida, na qual qualquer compra ou agendamento está atrelada a uma prescrição digital da Memed, no novo canal, qualquer usuário pode ter acesso, com poucos cliques, à compra de medicamentos e também de outras categorias.
Com um modelo baseado na cobrança de take rates dos parceiros e a opção de retirada nos pontos-de-venda, a Memed+ nasce com dez redes de farmácias, entre elas, Drogaria São Paulo e Pacheco, do grupo DPSP, e bandeiras como Indiana, Rosário, Rede Farma e Pense Farma.
A lista também envolve farmácias digitais, como Farmadelivery, Qualidoc, X-Farmácia e Far.me, essa última, startup investida da Viveo. A oferta inclui ainda categorias como dermocosméticos, suplementos e vitaminas, higiene, nutrição, beleza e bem-estar, com sellers como Época Cosméticos, Nivea, Neutrogena, L’Oréal e Nestlé.
“Estamos falando de um mercado endereçável total e anual de mais de R$ 300 bilhões”, afirma Rennó Jr.. A conta em questão inclui os valores movimentados anualmente no País nas categorias de medicamentos, R$ 150 bilhões; de exames, R$ 30 bilhões; e dos demais segmentos, de R$ 180 bilhões.
Para dar escala à plataforma, um dos motes da Memed é a negociação de descontos com todos os sellers. Sob essa ótica, em alguns casos, o marketplace tem produtos disponíveis com preços até 60% mais baratos. Na largada, são mais de 35 mil itens disponíveis.
A abertura da plataforma a todos os usuários será acompanhada pelo anúncio, em agosto, de um novo posicionamento e de uma nova identidade visual da Memed. “Vamos sintetizar tudo o que estamos fazendo com esse rebranding”, diz Acacio Pedro, sócio e head de marketing, growth e CRM da startup.
Com a nova versão, a healthtech começa a construir – para usar um termo em alta no mercado – um ecossistema a partir do seu negócio principal. “Nós emitimos cerca de 3,5 milhões de prescrições digitais e temos aproximadamente 2,5 milhões de pacientes únicos por mês”, diz Rennó Jr.
Hoje, 177 mil médicos, mais de 40 mil farmácias e cerca de 290 instituições, entre hospitais, seguradoras, clínicas e laboratórios, usam o sistema de prescrição digital da Memed. O portfólio inclui uma versão padrão, gratuita, e opções customizadas, ofertadas como serviço, com a cobrança de taxas mensais.
“Nossa projeção é fechar o ano com um GMV de mais de R$ 5 bilhões em termos de medicamentos que circulam no nosso ecossistema”, afirma Rennó Jr.. “Isso levando em conta apenas as prescrições. Em relação ao Memed+, anda é muito cedo para fazer qualquer tipo de projeção.”
O fato é que, com esses indicadores, a Memed está à frente daquela que pode ser apontada como a sua principal rival. Trata-se da Mevo, startup que também atua com prescrição digital e que tem cerca de 60 mil médicos, 25 mil farmácias e 90 instituições em sua base de usuários.
Na semana passada, a Mevo anunciou a captação de um aporte de R$ 45 milhões, liderado pela Floating Capital, para ganhar tração, especialmente, em seu canal de e-commerce. Rennó Jr. rechaça, no entanto, qualquer comparação entre as duas empresas.
“Eles têm, pelo que entendo, uma estratégia diferente, de montar ‘dark pharmacys’, algo que nunca iremos fazer”, diz. “Ao contrário. Nós levamos tráfego para as lojas físicas dos nossos parceiros.”