Em junho de 2020, a fintech de crédito consignado Paketá e a gestora de recursos Milenio Capital firmaram parceria para que a startup contasse com uma linha de crédito de R$ 100 milhões. O dinheiro seria usado nos empréstimos que a fintech realiza para funcionários de empresas privadas e que têm a dívida descontada em folha.

Agora, a Paketá está enchendo o tanque de novo - e com muito mais recursos. Em um novo FIDC feito com a Milênio, a startup que no ano passado captou R$ 27 milhões em rodada de Série A liderada pela Kinea Ventures, fundo de corporate venture capital do Itaú, terá à disposição mais R$ 300 milhões. Este dinheiro será usado exclusivamente para os empréstimos.

O novo FDIC permitirá à companhia expandir de 1,1 mil para 5 mil empresas em 2023, o que resulta em aumento de funcionários elegíveis para crédito de 300 mil para 2 milhões no país. No total, a startup afirma que já emprestou mais de R$ 150 milhões desde a fundação, em 2019.

“Trazemos dos investidores neste momento um novo FIDC que serve para seguirmos emprestando”, diz Fabian Valverde, fundador e CEO da Paketá, com exclusividade ao NeoFeed. “Quem empresta o capital ganha porque oferece o crédito com pouco risco e taxas adequadas.”

A operação realizada em conjunto com a Milenio foi feita na forma da criação de um novo fundo de recebíveis e dedicado exclusivamente a Paketá. A linha de crédito anterior veio em um FIDC warehouse, em que valor captado podia ser destinado como crédito para diferentes empresas. A Milenio não revela o valor total daquele FIDC.

“Havia interesse na tese, mas não tínhamos visto ninguém conseguir escalar corretamente”, diz Gustavo Ahrends, managing partner da Milenio Capital, gestora que tem mais de R$ 2,5 bilhões sob gestão. “A Paketá está chamando esta nova linha de crédito e vai usar os recursos conforme a necessidade de capital.”

O novo FIDC faz com que a Paketá tenha ao todo R$ 800 milhões para usar como crédito, uma vez que a companhia tem operações com securizadoras e também pode utilizar capital próprio para este fim. Entre os parceiros da empresa, além da Milenio, estão Itaú e Banco ABC.

A partir da nova linha de crédito, a Paketá está estruturando novas opções para ofertar empréstimos. “Pensamos em diferentes maneiras de fomentar a ideia de crédito sustentável”, diz Valverde, que cita a possibilidade de oferecer crédito atrelado ao 13º salário e a bônus de desempenho e em participações nos lucros e resultados das empresas em 2023.

Por enquanto, o modelo de negócios é focado nos empréstimos consignados, em que a companhia libera entre dois e três salários de crédito de acordo com a longevidade do funcionário na empresa cliente da Paketá. As taxas são pré-fixadas e variam de 1,8% a 3,2% ao mês. Quanto maior o tempo de casa, menor poderá ser a alíquota.

Entre as empresas atendidas pela fintech há companhias de diferentes tamanhos. Valverde diz que, em média, cada empresa tem cerca de 150 empregados, mas a conta precisa levar em consideração que uma empresa pequena pode ter três trabalhadores registrados e outra 60 mil.

A expectativa dentro da fintech é de que os novos serviços ajudem a expandir a carteira de clientes nos próximos anos, uma vez que o Brasil tem mais de 35,8 milhões de trabalhadores com carteira assinada, segundo dados do IBGE. “Ainda capturamos uma parcela muito pequena dos funcionários registrados”, diz Valverde.

O mercado está aquecido. Segundo dados do Banco Central (BC), o volume de crédito consignado em outubro deste ano ante o mesmo mês de 2021 aumentou 14,6% para R$ 577,6 bilhões. Considerando apenas o crédito para trabalhadores do setor privado, o total foi R$ 34,3 bilhões, a alta foi de 20% contra outubro do ano passado.

A Paketá não é a única fintech que olha para este mercado. Em 2019, a Creditas comprou a Creditoo e entrou na oferta de crédito para este público. Outra rival é a Meu Tudo, investida pelo Domo Invest e que no ano passado firmou um acordo com o Goldman Sachs em uma linha de financiamento de R$ 2,1 bilhões.

Mais recentemente, em setembro deste ano, a Ali levantou R$ 135 milhões junto ao boostLab, hub de negócios do BTG Pactual. O aporte série A também contou com a participação de um fundo de corporate venture capital não divulgado e de Jan Gunnar Karsten, CEO da gestora de family offices Brainvest Wealth Management.

O que pode atrapalhar o crescimento dessas fintechs é a questão da inadimplência. Ainda que a taxa de inadimplência do consignado tenha diminuído de 2,5% para 2,2% em outubro do ano passado ante o mesmo mês deste ano, houve aumento no setor privado de 4% para 5,2% no período, segundo o BC.

Na Paketá, Valverde diz que a taxa de inadimplência está em 2,7%. Questionado sobre outros dados financeiros, o executivo afirma apenas que o número total de empréstimos concedidos cresceu mais de 18 vezes no acumulado deste ano. A startup ainda não é lucrativa, mas o plano é atingir o breakeven em 2023.