A startup colombiana Frubana traçou novos planos para ampliar seu negócio no Brasil. Mas não se trata, ao menos inicialmente, de uma expansão geográfica do serviço de compra e delivery de itens de supermercado e alimentos perecíveis para restaurantes. A aposta da vez está em uma velha prática: o fiado.

Nos últimos seis meses, a plataforma de e-commerce de produtos usada por 80 mil comerciantes na América Latina – sendo a metade deles no Brasil – começou a testar um modelo para ajudar a financiar as compras desses estabelecimentos. “É totalmente um ‘fiado’”, diz Fábian Gómez Gutiérrez, CEO e fundador da Frubana, ao NeoFeed.

Chamada de Frubana Capital, a nova frente já está rodando a pleno vapor - embora a fatia no faturamento ainda não seja revelada. Nos últimos seis meses a Frubana movimentou cerca de R$ 15 milhões por mês nos empréstimos utilizados para as compras na plataforma. A meta agora é escalar o produto para toda a rede de restaurantes. O tíquete médio das compras atualmente é de R$ 2 mil por mês.

A ideia é que os restaurantes possam fazer as compras na plataforma sem a necessidade do pagamento à vista. Para garantir o recebimento do valor desse empréstimo informal, a Frubana vai utilizar os recebíveis como garantia. A alíquota de juros, de cerca de 1%, vai variar de acordo com a compra realizada e o cliente que fizer compras maiores poderá receber descontos.

A expectativa é de que o fiado represente entre 15% e 20% da receita gerada nos próximos anos. Neste ano, a companhia deve faturar cerca de R$ 2 bilhões – sendo que metade deste valor virá do Brasil.

Neste momento, a startup está investindo em tecnologia para reformular seus processos de análise de crédito. “Estamos conseguindo fazer em dois minutos o que levava dois dias para ser feito”, diz Otávio Pimentel, general manager da startup no Brasil. Os testes deste novo modelo de aprovação começam na semana que vem.

Para atrair mais compradores – e, consequentemente, conceder mais crédito –, a Frubana está aumentando a oferta de itens em sua plataforma. Atualmente, a empresa comercializa cerca de 2 mil produtos em suas prateleiras virtuais.

Uma solução para driblar esse problema é a abertura da plataforma em um modelo de marketplace. Na Colômbia, a companhia já conta com alguns parceiros que vendem produtos na plataforma. No Brasil, os esforços neste sentido devem ganhar mais tração ao longo do próximo ano.

A Frubana não é a única empresa interessada em fazer o crédito para restaurantes. O iFood também explora este mercado ao oferecer, através da MovilePay, o empréstimo para bares e restaurantes da plataforma. Os recebíveis também são utilizados como garantia. O Rappi também conta com uma linha de crédito específica para o setor.

Crescimento no Brasil

Com cerca de 40 mil restaurantes no Brasil, a Frubana quer dobrar o tamanho de sua operação no próximo ano e estima ter cerca de 250 mil clientes no país em um período de três a cinco anos. Considerando toda a América Latina, a expectativa é atingir 400 mil restaurantes em 2027, o que poderá render receita de US$ 7,2 bilhões.

O foco, por ora, está em crescer nas praças onde a empresa já opera. Atualmente, as operações estão concentradas em cerca de 30 cidades de São Paulo, Minas Gerais e Belo Horizonte, onde estão localizados 12 dos 20 centros de distribuição da empresa.

“Com o custo de capital que temos atualmente, o plano é manter o negócio presente em sete ou nove cidades pelos próximos 12 ou 24 meses”, afirma Gutiérrez, sem dar indicação de quando a companhia vai desembarcar em novas praças.

A tendência, contudo, é de que isso só aconteça quando a empresa captar mais dinheiro. "Transformar a indústria não será feito com US$ 300 milhões", diz Gutiérrez, que afirma que a empresa ainda tem capital para operar confortavelmente durante o próximo ano. “Depois disso, vamos avaliar.”

Fundada em 2018 por Gutiérrez, que foi um dos primeiros funcionários da Rappi e o responsável por liderar a expansão do negócio para outros países da América Latina, a Frubana ganha dinheiro ao fazer a compra, o armazenamento e a revenda de produtos para o abastecimento de restaurantes.

O diferencial está em como a companhia consegue fazer a análise das necessidades de cada negócio para conseguir comprar – diretamente de uma rede de mais de 700 produtores rurais – os produtos ainda frescos. “Esse é o setor onde há mais dor e ineficiência", afirma Gutiérrez.

Para crescer, o negócio, que desembarcou por aqui em 2021 e está presente também no México, já recebeu mais de US$ 300 milhões em investimentos (parte deste montante está sendo utilizado para colocar de pé um produto de financiamento). Entre as gestoras que aportaram o negócio estão Monashees, SoftBank, Tiger Global Management, Lightspeed Venture Partners, DST Global, GGV Capital, entre outras.