As primeiras lembranças de Gustavo Alves estão ligadas à lavoura de soja da sua família, em Guarda-Mór, cidade mineira de pouco mais de 6 mil habitantes. Foi nessa origem que ele buscou inspiração para fundar, em 2017, a Nagro, agrifintech de crédito para pequenos e médios produtores rurais.
Quatro anos depois, essa aposta começa a render frutos. A startup antecipou ao NeoFeed que acaba de captar R$ 64 milhões, dos quais, R$ 58 milhões vieram por meio de um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), que tem a Kardinal como gestora e a Vórtx como administradora.
Fundada por Gustavo Mapeli, ex-Softbank, a Kardinal é também um dos nomes por trás dos R$ 6 milhões incluídos na rodada, que teve ainda a participação de Ariel Lambrecht, cofundador da 99, e de Renato Mendes, CEO da Oikos, multifamily office que já investiu em empresas como Shopper e CargoX.
“Nós começamos a perceber a necessidade de trazer mais recursos para atender a demanda que vínhamos tendo”, diz Alves, cofundador e CEO da Nagro, ao NeoFeed. “Com essa captação, conseguimos ampliar os volumes e, ao mesmo tempo, pensar em linhas com créditos e garantias diferentes.”
Criada em Uberlândia (MG), a Nagro vem encontrando um terreno fértil na oferta de crédito para pequenos e médios produtores de diferentes culturas, com renda anual de até R$ 10 milhões. “Hoje, boa parte desses produtores está à margem do sistema financeiro”, afirma Alves.
O modelo da startup envolve uma oferta 100% digital e usa inteligência artificial e machine learning na análise de risco para conceder o crédito, em média, em até 48 horas. Os juros mensais variam de 0,9% a 3,99% e os prazos dos empréstimos vão de 12 a 48 meses.
Com três linhas disponíveis e um tíquete médio de R$ 100 mil por operação, a Nagro já originou mais de R$ 250 milhões em crédito para 1,5 mil produtores, em 500 cidades do País. A partir da nova captação, a startup vai começar a financiar até R$ 750 mil por cliente, contra o limite anterior de R$ 350 mil.
Além de rodar essa carteira com os novos recursos, a Nagro já prevê uma nova captação dentro do fundo, programada para abril. O plano é levantar cerca de R$ 130 milhões e ampliar o portfólio com linhas voltadas ao financiamento de máquinas e aquisição de propriedades rurais.
“Nossa projeção é conceder mais de R$ 360 milhões em créditos e atender cerca de 10 mil produtores em 2022”, afirma Alves. “E o objetivo é chegar a 2023 com uma carteira de crédito de mais de R$ 1 bilhão.”
Outro foco da agrifintech é a evolução de uma segunda ponta dentro do seu portfólio. Batizada de AgRisk, ela inclui a oferta, no modelo de software como serviço, do seu motor de análise de crédito para digitalizar e apoiar os processos de empresas que financiam suas próprias cadeias de produtores.
Essa plataforma já é usada por mais de 160 clientes. Entre eles, nomes como Heringer e Mosaic, de fertilizantes, os distribuidores Grão de Ouro e Agro Amazônia, a cooperativa Coopercitrus e a gestora Valora. Recentemente, a Nagro também passou a trabalhar com a antecipação de recebíveis dessas companhias.
Para seguir desenvolvendo essas duas áreas de negócios e aumentar sua capacidade de atendimento, a startup vai aplicar parte do investimento de R$ 6 milhões na ampliação de sua equipe. A projeção é sair do quadro atual de 53 funcionários para 160 em 2022.
Uma outra parcela dessa cifra também já tem destino certo. “Nosso plano é consolidar a Nagro como o banco digital do agronegócio”, observa Alves.
Dentro dessa ambição e do plano de buscar uma rodada série A no primeiro semestre de 2022, a empresa já tem um cronograma de lançamentos que inclui seguros, cartão de crédito, conta digital, software de gestão e um braço de educação financeira voltado ao pequeno e médio produtor.
Com essa última frente já em curso, o próximo passo é começar a testar, ainda nesse mês, a oferta de seguros. O projeto-piloto será feito com até 100 produtores, por meio de uma parceria com uma seguradora, de nome não revelado, e produtos como seguro de vida e seguro prestamista.
“Várias fintechs estão tentando ocupar nichos específicos do mercado”, afirma Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem. Ele destaca que, nesse caso, a tese é extremamente válida, dado o tamanho do agronegócio e o peso do setor no PIB do Brasil. “Ainda há um oceano azul ser explorado nesse espaço.”
Diniz cita algumas empresas e startups que também estão olhando para esse mercado, especialmente na área de crédito. A lista inclui companhias como a TerraMagna e a A de Agro, essa última, apoiada pelo BTG Pactual.