O momento é de baixa para as empresas de tecnologia que chegam ao momento do IPO e contam com apoio de fundos de venture capital. Os valuations elevados dos últimos anos podem ter, de fato, chegado ao fim. Levantamento realizado pelo The Information aponta que, nos últimos 12 meses, sete startups tiveram avaliações com valores inferiores do que as últimas rodadas privadas, anteriores à abertura de capital, para captação de recursos.

A próxima a abrir o capital, em junho, será a fintech americana Chime. Em 2021, a empresa foi avaliada em US$ 25 bilhões, mas bancos responsáveis pela oferta pública estão estudando precificar os papéis da empresa em cerca de US$ 11 bilhões, o que significaria uma redução de 56% no valuation da startup. A expectativa é de que o preço inicial das ações que serão ofertadas na bolsa americana seja definido na segunda-feira, 2 de junho.

Isso mostra a dificuldade atual das empresas em levantar recursos, e os riscos reais de grandes perdas para seus principais investidores. Os apoiadores recentes da Chime, como Sequoia Capital Global Equities e o Vision Fund, do SoftBank, devem registrar prejuízo com o movimento.

A plataforma online de design gráfico Figma, que chegou a anunciar acordo de venda no valor de US$ 20 bilhões para a Adobe (e que foi cancelada em dezembro de 2023), possivelmente irá abrir o capital por um valor menor do que esse. Ainda assim, deve ser maior do que os US$ 12,5 bilhões avaliados em uma venda privada de ações, no ano passado.

Empresas de software apoiadas por fundos de venture capital, como a Netskope, que foi avaliada por mais de US$ 7 bilhões, e a Navan, avaliada em US$ 9 bilhões, também podem enfrentar pressão para baixar os preços caso abram capital ainda em 2025, como estão em seus planejamentos.

Fique Por Dentro

Fintech Chime deve abrir capital em junho com valor de mercado 56% menor
Boom das avaliações de startups ocorreu durante a pandemia da Covid-19
Por outro lado, as ações de muitas delas subiram após a oferta inicial

“Já se passou tempo suficiente para que as pessoas esqueçam o quão supervalorizadas estavam as empresas em 2021”, diz Samantha Lau, diretora de investimentos em ações de growth de pequenas e médias empresas da gestora AllianceBernstein, ao The Information. “Quando os juros estavam em zero, o preço era outro.”

Um dos principais motivos para a alta das avaliações foi a era de juros baixos durante a pandemia da Covid-19. As empresas podiam, em grande parte, influenciar os termos para os investidores de capital de risco e de crescimento, que estavam dispostas a aportar os recursos.

Quando os juros subiram, o valor dos investimentos arriscados caiu, e os investidores do mercado público, como fundos de hedge e fundos mútuos, passaram a ter mais poder para resistir a IPOs com preços elevados.

E esse tem sido justamente a missão de executivos de bancos, que estão buscando convencer os clientes a aceitarem essas novas precificações. “Tende a existir um estigma em torno de um IPO em baixa. Não é porque não sejam boas empresas, mas o fato de que o paradigma mais amplo de avaliação mudou completamente”, diz Matthew Wolfe, head de tecnologia e consumer equity de mercado de capitais do banco de investimentos Piper Sandler.

Por outro lado, há um ponto positivo no resultado de muitas companhias após a batida de martelo. Praticamente todos os IPOs que iniciaram com perdas superaram o mercado desde suas ofertas, recompensando investidores tanto do mercado público quanto do privado. O Reddit, que aceitou um corte significativo no preço para abrir capital, subiu quase 210% desde seu IPO, em março do ano passado.

O fato é que alguns investidores têm aceitado perder no primeiro momento em troca de uma liquidez mais rápida. Muitas das VCs enfrentam pressões dos próprios investidores a levantar dinheiro para deixar essas operações.

É o que vem acontecendo na ServiceTitan, que vendeu ações em dezembro com um desconto de 16% em relação ao pico de sua avaliação privada, dois anos antes, e a Hinge Health, que abriu capital neste mês a um preço 59% abaixo de seu pico, em setembro de 2022.

A empresa de criptoativos Circle definiu nesta semana o limite superior de sua faixa de preço cerca de 38% abaixo de sua última rodada privada, em 2022, que contou com investimentos dos fundos BlackRock e Fidelity Investments. A expectativa da startup é de arrecadar US$ 600 milhões com a oferta pública inicial.

Em IPOs recentes, tanto os investidores privados quanto os investidores da oferta inicial acabaram se saindo bem, à medida que as ações subiram. As últimas 11 empresas apoiadas por venture capital que abriram capital viram suas ações subirem, em média, 83% desde o primeiro pregão.

Nesse grupo estão a empresa de segurança de dados Rubrik e a companhia de data centers com foco em IA CoreWeave, cujas ações triplicaram de valor desde o IPO.

Possivelmente essa nova dinâmica de precificação será testada nas futuras aberturas de capital. O aplicativo de venda de ingressos StubHub planeja realizar o IPO em junho, após cerca de um ano de idas e vindas. O CEO Eric Baker tem se concentrado em alcançar uma avaliação alta, mirando pelo menos US$ 16 bilhões no ano passado, valor superior ao que ele e outros investidores pagaram pela empresa, no início de 2021.