Até o início de 2020, Gastón Paladini fazia parte do board do Grupo Paladini, um tradicional frigorífico argentino fundado nos anos 1920. Ele conviveu diretamente com os desafios dessa indústria por mais de 10 anos e percebeu que a inovação era a saída para a prosperidade dos negócios.

Ao começar a explorar as alternativas no setor de proteína animal, Gastón deixou a empresa familiar e criou a Moolec Science, uma startup baseada no Reino Unido com um conceito híbrido à base de plantas e células. Na terça-feira, 3 de janeiro, ela se tornou o primeiro negócio de agricultura molecular a negociar na Nasdaq.

A estreia na bolsa americana aconteceu após a fusão da Moolec com uma empresa de cheque em branco, a SPAC Light Jump, em 27 de dezembro, que avaliou o negócio em US$ 504 milhões. A foodtech conseguiu vencer uma barreira importante. Algumas que tentaram oferecer suas ações no mercado no ano passado acabaram desistindo, como a empresa de agricultura vertical AeroFarms, que deveria ter aberto o capital em outubro.

“Como quarta geração de uma empresa familiar que está um dos maiores players de carnes do Cone Sul, conheço os desafios enfrentados pelo setor. O objetivo da Moolec é usar a ciência em alimentos para superar os atuais problemas globais de segurança alimentar, construindo um sistema alimentar mais sustentável, resiliente e equitativo”, disse Paladini no texto oficial.

Com cerca de 20 patentes de ingredientes vegetais, a Moolec desenvolveu até agora dois produtos –a quimosina, proteína usada na fabricação de queijos a partir do açafrão, e um óleo, à base do ácido gamalinolênico, encontrado em cereais e leguminosas. No comunicado enviado aos investidores, no mês passado, a empresa prevê lançar comercialmente esses dois compostos até 2025.

A foodtech também trabalha no desenvolvimento de uma proteína à base de soja, que simula a carne suína (POORK+) e outra, a partir da ervilha, que visa replicar as propriedades nutricionais dos compostos à base de carne bovina (BEEF+). Nesses casos, o lançamento é previsto para daqui a cinco anos.

“Este é um passo importante na construção de sistemas alimentares mais resilientes e sustentáveis, que usa a ciência dos alimentos para criar um futuro melhor”, disse Paladini, CEO da foodtech, em nota.

A Moolec opera no modelo B2B, como fornecedora de ingredientes para a indústria plant-based. Graças aos avanços da biotecnologia, o setor está em expansão acelerada. Até 2030, o mercado plant-based deve quintuplicar e chegar a US$ 162 bilhões globais, pelos cálculos da Bloomberg Intelligence.

Só as carnes verdes, nos últimos dois anos, registaram um aumento global de 17%, movimentando US$ 5,6 bilhões, segundo a consultoria inglesa Euromonitor. Pelas estimativas dos analistas do Good Food Institute, até 2027, o segmento deve expandir a uma média anual de 12%, enquanto o de carne animal, a um ritmo de 4,5%.

No dia 17 de janeiro, Paladini e os cofundadores da Moolec, Henk Hoogenkamp e Martín Salinas, estarão na Nasdaq para a tradicional cerimônia de tocar o sino. A expectativa é que, até lá, a ação da foodtech recupere o fôlego perdido no primeiro dia de negociação: queda de 24,8% ante uma perda de 0,76% do indicador principal.