Com um exército de motoboys que percorrem diariamente as grandes cidades da América Latina, a colombiana Rappi chegou longe. Em cinco anos, o superapp de entregas chamou a atenção de fundos de renome do Vale do Silício e da Ásia, como Sequoia Capital, DST Global e Andreessen Horowitz.

Em oito rodadas, a novata captou US$ 1,4 bilhão, que avaliaram o negócio em US$ 3,5 bilhões. O último aporte, de US$ 1 bilhão, há pouco mais de um ano, foi liderado pelo Softbank e consolidou o maior investimento já recebido por uma startup latino-americana.

Aos 35 anos, o colombiano Sebastian Mejia é um dos nomes por trás dessa trajetória. E, a partir da bagagem que acumulou nesse percurso, o cofundador e CEO da Rappi entende que, agora, a região tem um roteiro propício para escrever muito mais histórias desse porte.

“Estamos no melhor momento da história para empreender na América Latina”, disse Mejia, em live realizada pelo BTG Pactual, na noite desta quarta-feira. “Temos mais empreendedores de qualidade, mais investidores entrando na região, muitos problemas para resolver e um mercado potencial imenso.”

Como um ingrediente adicional nesse caldeirão, Mejia destacou que o pós-Covid-19 irá realçar os desafios históricos da região, especialmente em setores como saúde, educação, infraestrutura, finanças, varejo e habitação.

“E não vão ser as commodities, as empresas tradicionais que irão solucionar esses problemas. Temos que resolver com tecnologia”, afirmou. “Por isso, especialmente agora, vamos precisar muito dos empreendedores. Será uma das principais maneiras de sair da crise e gerar progresso na região.”

Para ressaltar a importância da tecnologia, ele citou exemplos como Coreia do Sul e Cingapura, que até pouco tempo eram tão ou mais atrasados que a América Latina.

“Hoje, eles são cinco, seis, sete, nove vezes mais ricos que a gente”, observou. “Porque estão inovando há anos, com investimentos que vão desde empresas de hardware, mais clássicas, até startups.”

Ele acredita, porém, que é possível reduzir essa distância, em um curto espaço de tempo. A massa crítica de empreendedores formada na região, que podem ser usados como mentores para uma nova geração é um exemplo.

Outro fator é o acesso a uma série de ferramentas de computação em nuvem que permitem viabilizar um negócio no modelo digital. Além de uma série de conteúdos e materiais sobre empreendedorismo e que oferece caminhos alternativos ao tradicional roteiro acadêmico.

“Temos mais empreendedores de qualidade, mais investidores entrando na região, muitos problemas para resolver e um mercado potencial imenso”

Ele acrescenta que algumas características já consolidadas na América Latina, e que são essenciais para qualquer empreendedor, reforçam esse momento propício. E boa parte delas, alimentada pelo ambiente histórico de crises na região, como a criatividade e a perseverança.

“Nunca entendi por que não temos mais casos de tech champions na América Latina”, afirmou. “Mas acho que chegou a hora de construirmos empresas transformadoras, assim como Estados Unidos, China, Índia e muitos países do sudeste asiático.”

Na bagagem

Antes de fundar a Rappi, Mejia também cumpriu um longo trajeto. Nascido em Cali, ele deixou a Colômbia em 2003, aos 18 anos, para estudar administração na ESADE Business School, em Barcelona, e, na sequência, economia, na Universidad Autónoma de Madri.

A próxima parada foi uma passagem por Nova York, onde trabalhou por dezoito meses no mercado financeiro e decidiu empreender. A primeira incursão nesse mundo veio com a Grability, fundada em parceria com Simon Borrero, seu futuro sócio na Rappi.

Na ativa até hoje, a startup é focada em aplicativos para varejistas. “Foi quando passamos a conhecer bem as barreiras do varejo e da logística, especialmente na América Latina”, contou. “E decidimos começar a Rappi.”

Nos anos seguintes, a Rappi atraiu sete rodadas de investimentos antes de alcançar o aporte bilionário liderado pelo Softbank. Os aportes incluíram outros nomes icônicos dessa indústria, como a aceleradora Y Combinator, e permitiram que a empresa chegasse a nove países, entre eles, o Brasil. No País, a companhia está presente em 70 cidades.

Esse caminho, no entanto, não está sendo construído sem percalços. No início de 2020, por exemplo, a startup promoveu cortes em sua operação, com um número de demissões estimado em 300 profissionais, cerca de 6% de seu quadro.

A redução veio na esteira de uma reestruturação para melhorar a eficiência da empresa. E em linha do que foi observado em diversas startups do portfólio do Softbank, após o IPO frustrado da WeWork, que colocou em xeque o modelo agressivo de crescimento do fundo japonês.

“Hoje, olhando para trás, prefiro crescer com mais planejamento e disciplina. Faz parte do aprendizado como empreendedor”

“Todas as empresas de tecnologia passar por fases de alto crescimento e é difícil fazer isso sem algumas ineficiências”, disse Mejia. “Mas, hoje, olhando para trás, prefiro crescer com mais planejamento e disciplina. Faz parte do aprendizado como empreendedor.”

Essa lição não significa, no entanto, que a Rappi está colocando o pé no freio, especialmente com o salto digital provocado pela pandemia. “Nos próximos cinco, seis anos, a maioria do varejo será digital”, disse. “Então, é importante seguir investindo. E quanto mais temos escala, mais nos aproximamos de ser uma empresa rentável.”

A operação brasileira é um exemplo dessa abordagem e do avanço impulsionado pela Covid-19. No País, o aplicativo cresceu mais de 300% apenas na última quinzena de março. “Em um mês, crescemos o equivalente a seis meses. Hoje, já temos mais funcionários do que antes dos cortes”, afirmou Sergio Saraiva, presidente da Rappi no Brasil, em entrevista concedida ao NeoFeed, em maio.

Sob essa perspectiva, Mejia destacou que o Brasil é o mercado mais importante para a Rappi. E acrescentou que o País é fundamental para que a startup cumpra a etapa mais ambiciosa do seu plano. “No longo prazo, queremos ser uma das empresas mais importantes da história da América Latina.”

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