O que era para ser um blockbuster da OpenAI, com ares de mudança de paradigma, tem se transformado em decepção (pelo menos por enquanto). Desde que lançou o ChatGPT-5, na quinta-feira, 7 de agosto, o que se viu nas redes sociais foi uma avalanche de reclamações, desde o “modo frio” com que a IA responde ao usuário e até o número limite de 200 perguntas por semana.

Com o cenário totalmente adverso, principalmente pela expectativa global de que o novo modelo traria uma interação “mais humana”, com um sistema equivalente a um especialista nível PhD em qualquer área, o CEO Sam Altman precisou reagir e dar satisfações sobre os problemas da nova versão apresentada. Entre as falhas apontadas estão até erros básicos no desenho de mapas ou questões simples de matemática.

Agora, Altman promete dar ao GPT-5 uma “personalidade mais acolhedora”. Uma das primeiras iniciativas da companhia foi restaurar um modelo mais popular da IA, após ter considerado obsoleto, e garantir a capacidade dos usuários de decidir que tipo de consulta desejam realizar.

Outra preocupação, desde o lançamento da versão, tem sido a capacidade computacional, fazendo com que a empresa reavalie quais usuários são, de fato, prioritários. Essa corrida contra o tempo para reverter essa primeira impressão ruim demonstra o desafio da OpenAI daqui em diante, principalmente após vender o novo modelo para 700 milhões de usuários ativos semanais.

Isso também afeta o volume de clientes da companhia no Brasil, que é o terceiro país que mais usa o ChatGPT no mundo, segundo estudo da própria empresa. Os usuários brasileiros só perdem para os Estados Unidos e a Índia. Em solo brasileiro, são registrados diariamente mais de 140 milhões de mensagens na plataforma.

O lançamento ocorre em um momento delicado para a OpenAI, que tem assistido o avanço de concorrentes, com investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento de IA. O Claude, por exemplo, da Anthropic, vem ganhando popularidade entre programadores e usuários corporativos.

“Esperávamos alguns solavancos, já que estamos implementando tantas coisas ao mesmo tempo. Mas foi um pouco mais solavanco do que esperávamos”, disse Altman, na rede social X.

O especialista em marketing de Atlanta Jason Pollak classificou o GPT-5 como um modelo “insípido e genérico”, muito distante de um parceiro de pensamento criativo, como se imaginaria. “Parece que eles levaram a questão do doutorado um pouco a sério demais para provar o quão inteligente seria”, diz ao Wall Street Journal.

O lançamento do ChatGPT-5 ocorreu após uma espera de dois anos, com acúmulo de atrasos e contratempos no desenvolvimento, levando à especulação de que a empresa de tecnologia poderia perder sua vantagem competitiva sobre rivais. Durante teleconferência na semana passada, Altman descartou essas preocupações.

Juliette Haas, coordenadora de estratégia de contas em uma agência de comunicação e gerenciamento de crises, usa principalmente a versão paga do ChatGPT para brainstorming e para concluir tarefas administrativas, como criar uma lista de tarefas.

Com o lançamento do GPT-5, ela decidiu revisitar um tópico de desenvolvimento de negócios para descobrir quais empresas ou indivíduos em sua empresa precisariam de seu apoio.

Com o GPT-4, a resposta sugeriu que ela construísse conexões sólidas no setor e enfatizou a importância da construção de relacionamentos. O GPT-5 apresentou uma lista de verificação. Com isso, ficou claro que nova versão não entende o contexto e o subtexto tanto quanto o GPT-4, e o GPT-5 oferece mais soluções baseadas em dados.

“A IA tratou a descoberta de empresas em dificuldades mais como um problema de ciência de dados do que como uma forma de compreender as considerações fundamentais sobre relacionamentos e tempo”, diz a executiva.

Mas há avaliações positivas. Fundador da empresa de consultoria JMC Strategic Intelligence, Jim Marsh é usuário da versão premium do ChatGPT de 2022. Ele afirmou que se impressionou com os resultados do GPT-5.

“O setor chegou a um ponto na inovação da IA em que cada lançamento não será um truque de mágica, o que talvez explique por que há tantas críticas sobre o modelo mais recente, diz o empresário.

“Ainda existe a expectativa de que a IA fará mais por nós rapidamente, sem que precisemos nos envolver, e isso geralmente é uma crença falsa”, afirma.