A Jellatech, uma startup de agricultura celular, levantou US$ 3,5 milhões em uma rodada de investimentos capitaneada pelo fundo dinamarquês byFounders. Com o novo aporte, o total recebido pela empresa é de US$ 5,5 milhões, vindos de doze empresas de venture capital.

Diferentemente dos inovadores do ecossistema agrifoodtech, a Jellatech não cultiva células de vacas, frangos e peixes em laboratório para produzir hamburguers, nuggets ou sashimis. Ela mira em um subproduto da indústria de proteína animal: o colágeno.

Sintetizada naturalmente para dar firmeza e sustentação à pele, a mais abundante das proteínas do organismo dos mamíferos é usada como matéria-prima para a produção de alimentos, remédios e cosméticos. Avaliado em US$ 4 bilhões, em 2022, o mercado internacional está previsto para bater US$ 10 bilhões, em 2032, conforme análise da consultoria Global Market Insights.

Os pesquisadores da startup conseguiram reproduzir em laboratório um colágeno bioidêntico ao bovino. Graças aos avanços da engenharia genética e da biotecnologia, os cientistas chegaram a uma proteína de configuração tripla-hélice, ininterrupta de peptídeos – tal qual a encontrada no tecido conjuntivo dos mamíferos.

O primeiro colágeno “animal-free” da Jellatech foi apresentado ao mercado em março do ano passado. “Já temos ótimas alternativas para os grandes produtos, como carne e leite, mas algumas proteínas, como o colágeno, não podem ser replicadas das plantas e/ou pela fermentação de precisão”, diz a fundadora Stephanie Michelsen, em entrevista à plataforma de notícias de inovação WRAL TechWire.

Ela complementa: “Isso me inspirou a olhar para o colágeno, porque é algo que ainda precisamos obter dos animais”.

Das aulas de economia para a genética

A dinamarquesa Stephanie Michelsen sempre foi fã de Steve Jobs e Bill Gates dede menina. “É muito legal como as pessoas têm uma ideia e a transformam em uma empresa para ajudar a sociedade, gerar receita e, com sorte causar um impacto”, conta, hoje, aos 29 anos.

Ela, no entanto, achava que nunca teria uma ideia boa o bastante para se lançar no empreendedorismo. Por isso, ao concluir o ensino médio, no início dos anos 2010, sem saber exatamente o que fazer da vida, Stephanie foi cursar economia no Foothill College, na Califórnia.

Nas aulas de antropologia, pasmem, se encantou por biologia sintética e pela genética. Ela então trocou as teorias de Adam Smith, Thomas Malthus e Fridrich Hayek pelo curso de biotecnologia. Estudou nos Estados Unidos, no Canadá e na Dinamarca. Aprendeu sobre biologia, química, física, se especializou em enzimologia e se tornou mestre em engenharia de biotecnologia pela The Technical University of Denmark.

Stephanie Michelsen Jellatech
Stephanie Michelsen, fundadora da Jellatech

Stephanie então teve “a” ideia. Em junho de 2020, no auge da pandemia do novo coronavírus, fundou a Jellatech, que fica sediada em Raleigh, na Carolina do Norte, na costa leste americana.

O negócio não tinha nem um ano, quando, em 2021, Stephanie entrou para a lista dos grandes inovadores globais com menos de 30 anos, elaborada pela revista americana Forbes.

Como muitos empreendedores do ecossistema global de inovação, ela quer ajudar a construir um futuro menos dependente dos bichos e, com isso, reduzir a pressão das criações sobre o planeta. E, pensar que, lá atrás, ainda perdida em relação ao futuro, Stephanie acreditava ser incapaz de ter “uma boa ideia”.