Santa Clara (CA) - Angela Strange entrou no radar dos empreendedores quando escreveu o artigo “Toda empresa será uma fintech”, há cerca de três anos.
A general partner da Andreessen Horowitz (a16z), uma das gestoras de venture capital mais influentes do Vale do Silício, é uma entusiasta das startups nacionais. Mas, para ela, ainda falta paixão para o brasileiro vender a sua ideia e o seu negócio.
"Há uma oportunidade de contar histórias. As pessoas querem se inspirar e querem vir junto para a jornada. Então, apenas se gabar um pouco mais. Esse é meu conselho para os fundadores brasileiros”, disse ela no painel de abertura do Brazil at Silicon Valley (BSV), conferência sobre inovação e tecnologia criada por alunos de Stanford e Berkeley, que acontece no início desta semana, na Califórnia.
Strange fez uma comparação entre o pitch do fundador de uma startup americana e o de uma brasileira. Muitas vezes, observa ela, você descobrirá que o negócio criado por um brasileiro era melhor em todos os sentidos, mas que o tom de venda do americano era incrível e “não havia tanto lá”. E esse momento é decisivo para se fazer um aporte.
A a16z detém US$ 35 bilhões em ativos sob gestão e tem uma boa ligação com a América Latina. A gestora já fez 19 investimentos em startups da região, como nos unicórnios Rappi, Loft e Bitso, além de companhias como Addi, Inventa, NG.Cash e Latitud.
As fintechs que Strange está de olho na América Latina são as que conseguem entrar no dia a dia de um restaurante. Essa é a dor da região que ela quer resolver. Nesse momento, a sócia do a16z está participando do desembarque da argentina Fudo no Brasil, “que vai ganhar um novo nome porque me disseram que é um pouco inapropriado”. A startup criou um software de centralização para restaurantes e recebeu um aporte de US$ 7,5 milhões liderado pela gestora no segundo semestre do ano passado.
“Vamos ajudar os restaurantes a gerenciar o estoque enquanto recebemos pagamentos”, disse Strange. “É uma fintech, porque também fornecemos empréstimos para restaurantes. Eles estão crescendo de forma bastante significativa e a maior parte disso vem dos serviços financeiros”.
Para ela, essa é uma indústria que movimenta muito dinheiro diariamente, mas que ainda é baseada no papel e na caneta em toda a região. Ao contrário do mercado americano, em que ocorrem trocas de software de gestão pelo estágio de desenvolvimento avançado, em toda a América Latina é possível inserir a tecnologia embarcada ao serviço financeiro. E, em sua visão, com a quantidade de negócios que podem aderir a esse tipo de serviço, a chance de escalar rapidamente a startup é enorme.
Como todo o olhar de Strange gira em torno das fintechs, ela não poderia deixar de fazer uma regressão ao seu artigo de 2020. Passados quase três anos da publicação, ela explica que mais do que o surgimento de bancos, o objetivo foi mostrar a capacidade de gestão de patrimônio para a indústria de consumo.
Como exemplo, ela cita os motoristas de aplicativos, que prestam um serviço de transporte, mas que no fundo são um serviço financeiro: atrai o usuário, recebe o dinheiro e com a ajuda do software aplica descontos e dá incentivos para a retenção desse cliente.
“Os serviços financeiros são mais bem pensados como uma plataforma horizontal. Sim, haverá novas empresas do tipo fintechs, mas é muito mais apenas um mecanismo de habilitação para qualquer tipo de empresa que você possa construir”, afirmou ela. “Inicialmente eu pensei: Ok, estou exagerando um pouco para tornar o artigo interessante, mas agora acho que está bem colocado.”