Houve irresponsabilidade de alocação de investimentos nas startups entre 2020 e 2021. Essa é a visão de Pedro Melzer, sócio-fundador da Igah Ventures. “Não é possível você dar cinco vezes mais dinheiro do que uma startup precisa e achar que está tudo certo”, disse Melzer. “Se você der cinco vezes mais comida para uma criança pensando que isso fará com que ela cresça mais rápido, isso não vai acontecer. Ela só vai ficar doente, obesa.”
Em sua participação em um dos painéis do South Summit Brazil nesta sexta-feira, 31 de março, mediado por Ralphe Manzoni Jr., cofundador do NeoFeed, Melzer criticou o exagero no tamanho dos cheques assinados para startups durante os últimos anos. “O mercado do jeito que estava não tinha a menor possibilidade de se manter”, disse. “Não será apenas uma correção no valuation. Vai existir também uma correção na dinâmica empreendedora.”
De acordo com o investidor, houve uma enxurrada de dinheiro externo em venture capital. “Investidores de private equity, family offices... Todo mundo estava entrando em venture capital”, disse o sócio-fundador da gestora que já investiu em startups como Contabilizei, Avenue, Infracommerce, entre outras, e que em dezembro do ano passado teve sua operação adquirida pela Pátria Investimentos.
“É natural que teríamos esse problema. As empresas estão começando e ainda entendendo sua cultura e o market fit”, disse Melzer. Para ele, ainda é difícil fazer uma previsão do futuro do mercado de venture capital, mas a expectativa é de exista mais conservadorismo. “A disposição de dinheiro será mais seletiva. E os empreendedores vão sacrificar o crescimento para que os negócios sejam mais saudáveis.”
De acordo com dados da Distrito, as startups brasileiras receberam US$ 4,4 bilhões em investimentos em 2022. A cifra é menos da metade do que foi investido em startups do país no ano retrasado: US$ 9,7 bilhões.
Membro do conselho da SP Ventures, Aod Cunha também participou do mesmo painel. Para ele, a questão macroeconômica deve afastar aventureiros do venture capital. “A questão de juros altos não vai ser uma restrição para quem quer construir algo no longo prazo”, disse Cunha. “Mas sim para quem está olhando para ciclos econômicos curtos.”
Cunha afirma que vê uma seleção natural ocorrendo ao mesmo tempo em que existe também um bear market. “Eu não vejo problema nenhum em estar acontecendo as duas coisas”, disse. “Há um período de queda, como já houve em outros ciclos. Depois disso, as empresas ficam mais resilientes. A diferença é que este foi um período prolongado de taxas de juros baixas. E, agora, altas.”