Se está difícil captar recursos em uma operação de venda de equity, o mesmo também pode ser dito para negócios que envolvam dívida. Essa, pelo menos, é a percepção que Sergio Furio, fundador e CEO da Creditas, expôs nesta quarta-feira, 29 de março, durante sua participação no South Summit Brazil.
Ao ser questionado sobre como os empreendedores à frente de fintechs deverão fazer para levantar capital em um mercado adverso, Furio lembrou que não são apenas as rodadas envolvendo fundos de venture capital que estão mais escassas.
“Os mercados estão congelados. Se você precisa levantar seu primeiro FIDC no Brasil ou fazer algo semelhante no México, você enfrentará muita dificuldade”, disse Furio, que relacionou essa dificuldade a problemas que vieram à tona recentemente no mercado, como o colapso da Americanas. “Isso causou estresse nos investidores.”
Para Furio, as empresas que operam com crédito precisam estar certas de que seus modelos realmente são viáveis e que há caixa suficiente para que a companhia siga concedendo empréstimos. A atenção ao portfólio é outro elemento que pode facilitar a captação via dívida.
Nesse sentido, vale lembrar que a Creditas fez um movimento de redução de seu portfólio ao desativar sua operação interna de recondicionamento de veículos, o que resultou na demissão de 95 pessoas. Em entrevista ao NeoFeed na semana passada, Furio disse que a empresa quer "operar num modelo asset light".
O ajuste resultou em uma diminuição no estoque de automóveis de 4 mil para 700 e o número de lojas será reduzido de seis para três nos próximos meses. Já o serviço de recondicionamento será realizado por terceiros. "Com isso, conseguimos ser mais eficientes e ter menos capex", disse ele, naquela oportunidade.
Em relação a equity, Furio, que também é membro do conselho da Endeavor Brasil e da Scale-Up Ventures, afirmou no evento de hoje que ainda que “investidores sempre queiram investir”, há mudanças que tornaram a busca por capital mais complicada, tanto para startups early stage como para negócios em estágios mais avançados.
“Antigamente , quando a gente tinha uma conversa com um empreendedor de uma startup early stage estávamos avaliando se o storytelling era bom e se ele falava inglês de forma satisfatória. Se sim, ele já receberia um cheque”, diz Furio. “Agora, a barra subiu muito e você quer ver coisas como unit economic.”
O problema está mesmo no late stage. “Há um desencontro entre o que investidores querem e o que os empreendedores estão mirando”, diz Furio, que cita uma queda nos múltiplos em relação aos que eram praticados um ano e meio atrás. “Temos que reconhecer que o mercado mudou e aceitar essa realidade.”
A própria Creditas foi afetada por essa nova realidade nos valuations. Conforme reportado pelo portal Pipeline, no início desta semana, Kaszek e Redpoint fizeram remarcações no valor de algumas de suas startups investidas. Na Kaszek, o valor da Creditas passou de US$ 4,8 bilhões para US$ 3,5 bilhões. Para a Redpoint, a fintech vale agora US$ 2 bilhões.
Fora da bolsa de valores, a Creditas espera se agarrar em números mais positivos nos próximos trimestres, mas não para convencer novos investidores, e sim, para atingir um eventual breakeven de sua operação. "Temos um caminho muito claro para ter o breakeven no final do ano e estamos superotimistas", disse Furio ao NeoFeed na semana passada.
No último trimestre, a fintech registrou alta de 39,4% na receita, que saltou para R$ 500,2 milhões. A carteira de crédito, por sua vez, aumentou 57,3% para R$ 5,8 bilhões. No mesmo período, o prejuízo líquido registrado foi de R$ 208,6 milhões – cifra que é 42,5% menor do que a registrada um ano antes.