No início da teleconferência realizada na manhã de quinta-feira 12, Sergio Rial, que renunciou ao cargo de CEO da Americanas após revelar a existência de uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões nos balanços da companhia, falou que o problema encontrado na empresa era algo, historicamente, comum nas redes varejistas. As palavras de Rial caíram como uma bomba nas demais empresas. O início de negociação na bolsa de valores as ações de Magazine Luiza e Via sentiam uma queda aproximada de 10% cada uma.

O problema mencionado pelo ex-CEO da Americanas estaria na prestação de informações das operações de risco envolvendo fornecedores, empresa e bancos.

“No curtíssimo prazo vão surgir dúvidas por parte de outros investidores sobre a operação de risco sacado entre fornecedores e bancos de Magalu e Via. Vão querer investigar da melhor forma o que vem sendo feita”, diz Andreas Ferreira, analista da Mantaro Capital.

O NeoFeed apurou que, ao longo do dia, analistas de bancos e investidores institucionais ligaram para as principais redes varejistas para saber se elas se encaixavam na mesma situação da Americanas.

Um alto executivo de uma das maiores empresas de varejo do Brasil disse ao NeoFeed que Rial cometeu um grave erro ao generalizar o caso da Americanas.

Após o fechamento da bolsa, a Via emitiu um comunicado oficial para esclarecer os acionistas “sobre os eventos recentes ocorridos no setor no que se refere às operações de risco sacado (convênio)".

Assinada por Sérgio Augusto Leme, diretor de relações com investidores da Via, o documento informa que “todas essas operações estão registradas nas Demonstrações Financeiras da Companhia em conformidade com as normas internacionais de contabilidade. Adicionalmente a Companhia publica os respectivos montantes dessas operações nas Demonstrações Financeiras e nos materiais de divulgação de resultados trimestrais e anuais.”

Leme completa o texto dizendo que “para fins de referência, no 3° trimestre de 2022 e anteriores, detalhamos a respectiva operação em uma linha específica no Balanço Patrimonial denominada Fornecedores Convênio e na nota explicativa 14.a, na qual descrevemos a operação, incluindo a taxa de juros média incidente. Por fim, esclarecemos que as despesas de juros são registradas no resultado da Companhia como despesa financeira.”

Para Marcos Saravalle, fundador da Sara Invest, caso ocorra um impacto nos credores, muito provavelmente haverá restrições na concessão de crédito e financiamento para as empresas de varejo. “Esse impacto negativo é a redução do volume de crédito para todas as empresas do setor financeiro. Os bancos vão olhar e analisar com profundidade, demorar pra conceder crédito. O custo de capital pode ficar mais alto”, afirma ele.

O primeiro impacto aconteceu nas ações dessas companhias na bolsa de valores. No pregão de quinta-feira, houve uma pressão forte sobre os papéis de varejistas. A oscilação ao longo do dia terminou com a Magazine Luiza em alta de 5,3% e a Via em queda de 5,3%.

"Enquanto Magazine Luiza e mercado livre subiram no pregão, Via amargou a desconfiança dos investidores. É compreensível a associação, já que meses atrás a companhia também divulgou ajustes em processos trabalhistas que impactaram no preço das ações", afirma Breno Francis de Paula, analista do Inter.

Ele complementa: "Já para Magalu e mercado livre, a percepção de enfraquecimento de uma concorrente prevaleceu, explicado pelo provável ganho de share nos próximos meses".

Antes da abertura do leilão da Americanas, havia mais de 40 milhões de ações na venda descasada, ou seja, sem nenhum interessado em comprar, apurou o NeoFeed. O banco Merril Lynch recomendou aos seus investidores zerar a posição na Americanas, mesmo com o prejuízo, e montar em Multiplan. Esse call no meio do mês é considerado incomum para um banco sell side. No fim do dia, a ação da rede varejista amargou uma queda de 77,3%, aos R$ 2,72. Alguns especialistas avaliaram o risco de o papel virar pó.

“Foi um prelúdio para tempos sombrios nas operações de varejo? É cedo para dizer. E precisamos de mais informações das demais varejistas, inclusive das Americanas”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Investimentos.