O francês Pierre Omidyar fez fama e fortuna com o site de leilões eBay, que ele fundou em 1995 e da qual ainda mantém uma participação minoritária na companhia que vale US$ 46,8 bilhões na Nasdaq.
Hoje, a fortuna de Omidyar é avaliada em mais de US$ 26,1 bilhões, segundo a revista Forbes. E boa parte desses recursos são investidos em causas e empresas que o magnata acredita. A lista de investimento vai desde empresas jornalísticas, como o site The Intercept e o brasileiro Nexo, até projetos educacionais.
O mais recente deles a ganhar o seu dinheiro é a edtech brasileira Árvore, cofundada pelo brasileiro João Leal em 2014. A startup acaba de receber um aporte série A de R$ 15,5 milhões da Imaginable Futures (que se separou da Omidyar Network), fundo que investe em projetos educacionais ao redor do mundo. A MSW Capital e a Potencia Ventures também participaram do aporte.
“É um marco importante e nos ajudará a seguir o planejamento para chegar a 10 milhões de usuários até 2024”, diz Leal, com exclusividade ao NeoFeed. “Estávamos dobrando de tamanho ano após ano, mas demos um salto de 2020 para 2021.”
A Imaginable Futures já havia participado da rodada seed da Árvore, quando ela se uniu com a Guten, em 2019. Agora, está fazendo uma nova aposta na edtech que desenvolveu um serviço de streaming de leitura que conta com um acervo de mais de 35 mil livros de aproximadamente 600 editoras, como Companhia das Letras, Rocco, Record, Melhoramentos, entre outras.
No último ano, a Árvore teve um crescimento explosivo. Em 2020, ela contava com 240 mil alunos. Agora, são 1,1 milhão de estudantes da rede pública e privada. O número de escolas que usam o serviço da edtech saltou de 600 para 3,3 mil. “Esse crescimento foi impulsionado pela pandemia”, afirma Leal. “Mas só é impulsionado quem está pronto.”
Os recursos do aporte vão ser usados para oferecer novos produtos às escolas. Neste mês, a Árvore lança um conteúdo em inglês para atender escolas bilíngues. No médio e longo prazos, a edtech vai explorar soluções para ampliar o relacionamento com seus usuários.
Hoje, a Árvore atende exclusivamente escolas e alunos de ensino médio e fundamental com livros paradidáticos. “Quando ele vai para o ensino superior e ao mercado de trabalho, perdemos a relação”, afirma Leal, que ainda estuda como fazer esse relacionamento durar além do ensino médio. “Precisamos pensar em novas formas de gerar valor para quem se tornou um leitor.”
O modelo da Árvore é B2B2C. As escolas contratam o serviço e pagam uma mensalidade por aluno, que, por sua vez, tem acesso ilimitado ao acervo da edtech através de computadores, tablets ou celulares. As editoras são remuneradas conforme seus livros são lidos, em uma forma de pagamento semelhante ao de serviços como o Spotify, que paga os músicos segundo a sua audiência.
Os professores, por sua vez, sabem o que o aluno está lendo e conseguem também medir o engajamento de leitura dos estudantes. Com isso, não ficam restritos à recomendação da leitura e a uma avaliação baseada em uma prova ou uma atividade em grupo. “O professor passa a ter uma resposta concreta para aquilo que está propondo”, afirma Leal.
A Árvore não oferece apenas o acervo. A edtech cria também estratégias para incentivar os alunos a lerem. A ideia é simples: se os estudantes vão gastar seu tempo em computadores e celulares, por que não reservar uma parte dele para a leitura?
Para conquistar os alunos, a “gameficação” é uma das estratégias. No ano passado, os estudantes ganhavam pontos para plantar árvores virtuais. E o que fazia essas árvores crescerem era o nível de leitura. Os alunos podiam também ver as “florestas” de seus colegas. “Isso influencia positivamente a dinâmica da leitura”, afirma Leal.
A história da Árvore se mistura com a trajetória familiar de Leal. Seu pai e sua mãe foram donos da editora Rovelle, de livros infanto-juvenil, e ele conviveu, dentro de casa, com esse universo durante toda a sua vida.
Formado em administração, ele chegou a trabalhar em editoras. Mas, quando resolveu empreender, buscou outra área. Em 2011, Leal fundou a Igluu, uma espécie de Buscapé de preços de supermercados. Mas o negócio não deu certo.
Foi, então, que teve a ideia de criar a Árvore com o objetivo de democratizar a leitura. “Queria usar a tecnologia que já estava perto dos alunos”, diz Leal. “E, na época, já existia os serviços de streaming. Por que não ter um de livros para escolas?”
Até 2019, a Árvore se manteve com recursos próprios. Foi quando uma fusão com a Guten, de Danielle Brants, que tinha um serviço semelhante mas voltado para notícias e revistas, trouxe para a base de acionistas a MSW Capital, que gere o fundo BR Startups, um multicorporate venture capital que conta com empresas como BB Seguros, Microsoft, Algar, BV e Bayer.
“Em um primeiro momento, os cotistas não pareciam ter sinergia com a Árvore”, afirma Richard Zeiger, sócio da MSW Capital. “Mas foi um dos poucos investimentos que foi unanimidade para aprovarmos, pois todos viram alguma possibilidade de atuar conjuntamente.”
O BB Seguros, por exemplo, fez um projeto na área de previdência voltado aos filhos de seus clientes, oferecendo assinaturas gratuitas da Árvore. A MSW Capital também ajudou a edtech na fusão com a Guten – foi quando Omidyar entrou na base de acionistas da edtech através da Imaginable Futures.
Omidyar investe em empresas de impacto social, direitos civis e digitais, e educação por meio do Omidyar Network, fundação que já aportou US$ 1,49 bilhão em vários projetos. Ele também investe em organizações não-governamentais e empresas de mídia em 18 países por meio da Fundação Luminate.
Em 2020, Imaginable Futures surgiu de um spin-off da Omidyar Network com o objetivo de investir exclusivamente em projetos educacionais. Até agora, os aportes já somaram mais de US$ 250 milhões em 125 projetos de mais de 50 países.
São desde projetos filantrópicos até startups com uma pegada de impacto social, mas que visam ao lucro, como é o caso da Árvore. No Brasil, o portfólio incluiu também a Agenda Edu, a EduK e a Quero Educação, entre outras iniciativas.