Em dezembro de 2012, o investidor Daniel Unger Ibri havia acabado de criar seu fundo de venture capital Grid, quando foi para Miami participar do Americas Venture Capital Conference, um evento que reunia profissionais de capital de risco do mundo todo.

A conferência daquele ano contava com um hackathon, uma espécie de uma maratona de programação, em que jovens do mundo inteiro concorriam a um cheque de alguns milhares de dólares.

O vencedor do concurso foi um trio de garotos brasileiros: Anderson Ferminiano, Gustavo Haddad Braga e Henrique Dubugras, hoje mundialmente conhecido por ser um dos fundadores da fintech Brex, uma das queridinhas do Vale do Silício, avaliada em US$ 12,3 bilhões.

A trinca de jovens empreendedores apresentou uma solução chamada Ask Me Out, um aplicativo de namoro, uma espécie de Tinder antes do Tinder existir. “Eu fique bastante impressionado”, relembra Ibri. Depois de evento, encontrei os três e disse para eles pensarem no que queriam fazer e me procurarem no Brasil.”

Dez anos depois, Dubugras é um empreendedores brasileiros mais bem-sucedidos do Vale do Silício. Ele acaba de se tornar aos 26 anos um dos brasileiros mais jovens a se tornar bilionário. Sua fortuna foi estimada em US$ 1,5 bilhão pela revista Forbes.

Ibri, por sua vez, pode ser reconhecido como o primeiro investidor a perceber que havia algo de diferente naquele garoto. “Ele já tinha uma maturidade impressionante e um conhecimento técnico e de programação muito avançado”, afirma Ibri.

Dos três garotos, Dubugras foi o último a procurá-lo, dizendo que tinha uma ideia. O encontro foi marcado para o restaurante America, do Shopping Morumbi, em São Paulo. “Ele me disse que queria montar um fintech, pegou um guardanapo e desenhou o plano de negócios do que viria ser o Pagar.me”, conta Ibri. “Ele propôs fazer algo parecido com o Stripe, nos Estados Unidos, mas que fosse amigável para outros empreendedores e para jovens programadores.”

A Stripe, hoje avaliada em US$ 20 bilhões, é uma startup de pagamentos online, que estava começando a dar os primeiros passos nos Estados Unidos. Ibri ouviu Dubugras, achou a ideia ótima, mas avaliou que não tinha recursos suficientes para investir sozinho no projeto.

Meses depois, Dubugras conheceu André Street, dono da Arpex Capital, um fundo de venture capital que investia em fintechs. Street era o fundador da Braspag, uma empresa de meio de pagamentos que havia sido vendida para a Cielo. Com os recursos, ele criou um fundo e passou a investir em startups.

Pedro Franceschi (à esq.) e Henrique Dubugras, os fundadores da Brex

A Grid e a Arpex foram os primeiros fundos institucionais a investir em Dubugras, que com o dinheiro criou a Pagar.me em 2013. Já nessa época, seu sócio era Pedro Franceschi, hoje cofundador da Brex e que, aos 25 anos, também tem uma fortuna estimada em US$ 1,5 bilhão. “O Henrique tinha 17 anos, o Pedro, 16. Eles ainda estavam cursando o colégio.”

A Pagar.me cresceu rápido. Os dois jovens eram exímios programadores e criaram uma tecnologia fácil para que outros sites integrassem a solução de pagamentos da startup. Em 2014, o fundo de Ibri, o Grid, teve se ser encerrado e ele vendeu sua participação na startup de Dubugras. “Tive um ótimo retorno”, afirma o investidor.

Dubugras e Franceschi ficaram na Pagar.me até 2016, quando ela foi vendida para a Stone, o novo negócio de Street – hoje a Stone vale US$ 10,1 bilhões e suas ações são negociadas na Bolsa de Nova York.

A dupla de empreendedores deixou o negócio para estudar na Stanford University, uma das faculdades mais desejadas do mundo e celeiro de talentos do Vale do Silício. Eles haviam adiado o começo do curso por um ano. Mas receberam um ultimado e tiveram que ir aos Estados Unidos estudar com o apoio da Fundação Estudar, do bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann.

Em 2017, o Dubugras iria cruzar mais uma vez o caminho de Ibri. Nessa época, ele já havia estruturado o fundo Mindset Ventures, que só investe em startups dos Estados Unidos e de Israel.

Em uma de suas viagens para São Francisco, ele mandou uma mensagem para Dubugras. A ideia era encontrá-lo em Stanford para um bate-papo. “Ele me disse: passa aqui no meu escritório na Market Street”, numa referência a uma das ruas comerciais mais conhecidas da cidade. “Como assim? Você não está estudando?”, questionou Ibri.

“Ele me disse que queria montar um fintech, pegou um guardanapo e desenhou o plano de negócios do que viria ser o Pagar.me”, conta Ibri

Dubugras e Franceschi abandonaram o curso em Stanford para criar a Brex. Eles não chegaram nem a terminar o primeiro ano da universidade, seguindo o caminho de tantos outros empreendedores que fizeram história no mundo de tecnologia dos Estados Unidos, como Bill Gates, da Microsoft, e Mark Zuckerberg, do Facebook.

A Brex havia sida aceita na Y Combinator, uma das incubadoras de mais prestígio dos Estados Unidos. Desde 2017, eles já receberam US$ 382 milhões em aportes. Os investidores que apostam na Brex, que desenvolveu um cartão de crédito para startups, são os principais fundos do Vale do Silício, como Ribbit Capital, DST Global e Kleiner Perkins.

Peter Thiel, um dos fundadores do PayPal, também colocou recursos na empresa, assim como Lemann, que fez essa revelação recentemente – ele investe também na Movile e na Stone do setor de tecnologia. A Mindset Ventures de Ibri não poderia ficar de fora. Ela entrou em uma das rodadas feitas na empresa – Ibri não detalhe em que momento foi feito o aporte.

Atualmente, as participações de Dubugras e Franceschi na Brex valem cerca de US$ 1,5 bilhão cada, de acordo com a Forbes. "Estamos a caminho de quebrar a American Express", disse Dubugras, em uma entrevista em 2018. “Se a empresa crescer tanto quanto esperamos que cresça, é um negócio de US$ 100 bilhões."

A ascensão da dupla é considerada rápida até mesmo para os padrões do Vale do Silício, onde muitos ficam ricos da noite para o dia. Em 2017, quando foi fundada, a Brex foi avaliada em US$ 25 milhões, segundo dados do PitchBook. Dois anos depois, seu valor se multiplicou por 100.

Investimento lá fora

Criado em conjunto com Camila Folkmann, o fundo Mindset Ventures tem uma tese de investimento diferente. Ela capta majoritariamente recursos no Brasil, mas investe exclusivamente em startups dos Estados Unidos e de Israel. “Depois ajudamos as empresas a entrar no Brasil”, explica Ibri.

Até agora, a gestora estruturou dois fundos que somados chegaram a US$ 21 milhões. Ele está se preparando para uma nova captação. “Vai ser significativamente maior”, afirma o investidor, sem revelar os números.

A Mindset já investiu em 40 startups. Dessas, 10 delas já estão operando no Brasil. É o caso da Taranis, uma agtech israelense que trabalha com agricultura de precisão, ou da Weel, um fintech de Israel que atua com antecipação de recebíveis online.

Questionado pelo NeoFeed como se sente por ser o primeiro investidor a descobrir Dubugras, Ibris resume dessa forma. "Tive um pouco de sorte de estar em um evento que ele ganhou. O Henrique caiu do céu para mim", afirma. E conclui: "É uma relação que teve muito aprendizado desde o começo. Foi uma jornada em conjunto muito legal."

(Reportagem atualizada em 5 de abril de 2022, com a informação de que Henrique Dubugras se tornou bilionário)