A agenda de Sandro Valeri anda mais concorrida que de costume. Desde 2020, quando voltou do Vale do Silício, ele mantém a rotina de ter muitos horários bloqueados diariamente para reuniões. Nas últimas semanas, esses “slots” têm sido ocupados com maior rapidez. O motivo é sua nova empreitada: a gestora Slat Ventures.

No fim do ano passado, Valeri tomou a decisão de deixar a Ahead Ventures, um corporate venture capital (CVC) co-criado por ele com João Lopes e Rafael Clemente. A gestora é a joint venture de Portcapital, Elogroup e Banco Fator com investimentos nos estágios séries A e B e alguns seed money.

A surpresa do desligamento, como duas pessoas do mercado contaram ao NeoFeed, foi pelo bom momento que a Ahead passava no mercado, atraindo mais de R$ 2 bilhões com clientes como Embraer, Renner e Marfrig.

“Eu voltei do Vale do Silício e não queria mais ter chefe. Na Ahead, eu era minoritário e a decisão de sair foi para realizar o sonho de empreender”, diz Valeri, em conversa com o NeoFeed, sem entrar em mais detalhes.

Na Slat, Valeri vai colocar em prática o que acredita ser o melhor para todos os envolvidos. A ideia é ter uma gestão que englobe três competências equilibradas na balança, com estratégia corporativa, venture capital e retorno estratégico.

“O CVC tradicional é aposta e incerteza. Na prática, se faz o estratégico ou se ganha dinheiro. É um ou outro. Estou disposto a encarar o desafio de fazer diferente e me proponho a ser um CVC com estratégia corporate e retorno de VC”, afirma ele.

Valeri quer um modelo mais parecido com o de um fundo de investimento independente em vez de um CVC as a service. Isso significa que o fundo da Slat terá uma equipe própria, com três profissionais cuidando especificamente da gestão.

A dedicação exclusiva será liderada por um general partner (GP) que tenha sido CEO, vice-presidente ou diretor, portanto, com experiência em empresas. A equipe será complementada com um principal e um associate que tragam a vivência de mercado em outras gestoras.

Nos contatos que têm feito regularmente, Valeri conta que já fechou GPs para quatro potenciais fundos e equipe completa para dois fundos. O primeiro GP do projeto é Arthur Bezerra, ex-executivo da Wise-Up, Berlitz e Linx, que após a venda deste negócio para a Stone passou a ser um investidor-anjo. Os demais profissionais vão se unir à equipe nos próximos dias quando terminar o processo de desligamento de concorrentes no mercado.

Neste momento, Valeri mantém reuniões com duas empresas dos segmentos de energia e saúde, um potencial de criar um fundo de R$ 200 milhões cada. A expectativa é que um deles seja anunciado ainda neste primeiro semestre. “Vamos sempre de dois em dois, para ter capacidade de colocar os projetos de pé”, diz ele.

A documentação da gestora será entregue para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos próximos dias e Valeri acredita que o processo de homologação demore cerca de dois meses, o mesmo tempo para fechar o primeiro fundraising.

Embora não queira mais trabalhar com chefes, Valeri implementou o modelo de equal partnership na gestora. Inspirado na americana Benchmark, ela divide em partes iguais a sociedade do CVC com os três profissionais que estarão à frente do negócio.

“Gosto muito e acredito em parceria. Nas gestoras, os principais sócios têm entre 80% e 90% e sobra pouco para distribuir na equipe. Na Slat, com a equal partnership, todo mundo vai ganhar dinheiro”, diz ele.

A decisão de Valeri criar a Slat significa mais uma concorrente num mercado que passou de 100 gestoras no ano passado. Ele concorrerá com Valetec, MSW Capital e Ahead Ventures, além de Vox Capital e KPTL, que criaram recentemente braços de CVCs.

Segundo a Abvcap, associação que representa as gestoras de private equity e venture capital, 13 companhias listadas na B3 lançaram seus CVCs no ano passado, 62,5% a mais do que em 2021. O montante destinado a esses fundos foi de R$ 3,04 bilhões.

Em tempo: o nome da nova gestora de Valeri remete à sua origem na aviação. Ele ajudou a criar a unidade de inovação da Embraer em 2011, que passou a se chamar EmbraerX cinco anos depois.

A palavra slat vem de uma peça de auxílio que aumenta a sustentação da aeronave na decolagem. É exatamente essa estrutura que o CVC criado por Valeri pretende ser: a contribuição para que empresas e a startups possam alçar voos.