Cerca de um ano depois de captar um aporte de R$ 15 milhões junto ao Itaú BBA em uma operação de venture debt, a Ease Labs voltou ao mercado. Agora para buscar dinheiro em troca de equity. Nesta semana, a fabricante de produtos terapêuticos a base de cannabis anunciou a captação de mais R$ 25 milhões.
A injeção de recursos foi feita pela gestora brasileira Airborne Ventures, que já investiu em startups como Pier, Zenklub, Bcredi (comprada pela Creditas) e Remessa, e pela americana L5 Capital Partners. A rodada também tem o multifamily office BullSide Capital e investidores-anjos.
O aporte atual é uma extensão da rodada realizada com o Itaú BBA. “Decidimos dividir o round desta forma porque o dinheiro de dívida hoje é mais barato para nós em razão da diluição menor”, afirma Gustavo Palhares, fundador e CEO da Ease Labs, em entrevista ao NeoFeed.
Esse foi o segundo aporte por equity da Ease Labs. Em 2022, a companhia captou R$ 12 milhões junto à MadFish, gestora de venture capital do tenista Bruno Soares e que também já investiu na operação da rede de açaí Oakberry. A rodada, na ocasião, trouxe as gestoras BizHub, ALF e Impacto Hub para a base de acionistas.
Fundada em 2018, a Ease Labs nasceu como uma farmacêutica para o desenvolvimento de produtos fitoterápicos voltados para o tratamento de condições neurológicas, psiquiátricas e reumatológicas. São dois produtos lançados até o momento.
A operação é dividida entre Brasil e Colômbia. É no país vizinho que o cultivo e a extração da planta são feitos. O extrato é exportado para o Brasil e então se inicia o processo de diluição e formulação dos produtos. A fase final envolve envase, registro e distribuição para as farmácias.
A startup terminou 2023 com cerca de 4 mil pontos de venda espalhados pelo País. O objetivo é aumentar esse número para 10 mil até o fim deste ano. “Em termos de geração de receita, devemos triplicar de tamanho neste ano”, afirma Palhares, sem abrir os dados financeiros do negócio.
A expansão vai coincidir com um lançamento da Ease Labs, em maio. No começo deste ano, a empresa obteve aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para produzir um extrato com THC que beneficia pacientes com quadros de fibromialgia, demência e dor crônica. O novo extrato tem até 0,2% de THC. Ambos os produtos são comercializados apenas com receita.
A empresa também opera no setor público. No início de 2024, a Ease Labs venceu uma licitação para que seu produto seja distribuído à população pelo Sistema Público estadual de São Paulo. O contrato pode chegar ao valor de R$ 105 milhões.
Além de apoiar o desenvolvimento de novos produtos e a expansão para mais pontos de venda, a Ease Labs quer usar parte do capital para internacionalizar o negócio. O alvo é o sudeste asiático. Em abril deste ano, a startup vai iniciar os trabalhos na Tailândia, onde pretende cultivar, extrair e fazer a venda dos produtos no país.
A previsão é de que a operação ganhe tração ao longo deste ano e esteja totalmente operacional no quarto trimestre. A partir de 2025, a expectativa é de que a receita proveniente das vendas na Tailândia – e, posteriormente, de outros países do continente – represente entre 30% e 40% do total.
Palhares explica que a escolha geográfica levou em conta aspectos comerciais e culturais. “O sudeste asiático regulamentou o setor há pouquíssimo tempo, há poucos competidores e uma população gigantesca”, afirma o CEO. “Lá também já existe uma aderência grande para este tipo de tratamento natural.
Se a operação da Tailândia for bem-sucedida, a Ease Labs deve começar a planejar uma incursão para a Europa. Mas isso ainda não tem data para acontecer e depende de algumas regulações que a companhia ainda está em processo de obtenção. “Está no nosso roadmap.”
Concorrência
Palhares diz que a competição da Ease Labs se dá com outras farmacêuticas que também estão desenvolvendo produtos à base de cannabis medicinal. Uma dessas é a Prati-Donaduzzi, com sede em Toledo, no Paraná.
Outras startups também competem por um pedaço desse mercado. A Verdemed, por exemplo, foi fundada pelo brasileiro José Bacellar (ex-CEO da Bombril), no Canadá. A companhia começou a exportar produtos para o mercado brasileiro em 2022.
A briga também envolve laboratórios especializados, como a Herbarium, que no ano passado lançou seu primeiro produto à base de cannabis nas farmácias e estava mirando a expansão do portfólio.
O mercado de cannabis medicinal deve movimentar mais de R$ 1 bilhão neste ano. A previsão é da Kaya Mind, empresa especializada em dados do segmento. Um estudo realizado no ano passado apontou que o Brasil tinha 430 mil pacientes que movimentaram R$ 699,4 milhões, 92% a mais do que em 2022.