A Verdemed está de malas prontas para fincar os pés, em definitivo, no Brasil. Depois de conseguir a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a venda de dois medicamentos à base de cannabis medicinal no ano passado, a companhia canadense fundada pelo brasileiro José Bacellar, ex-CEO da Bombril, agora prepara sua expansão no País.
Fundada em 2018, a empresa já está participando - e vencendo - licitações públicas, tem data marcada para que seu portfólio chegue às farmácias brasileiras e está costurando um acordo com uma gigante farmacêutica no mercado local.
“A regulamentação abriu novas oportunidades de negócio no Brasil”, diz José Bacellar, fundador e CEO da Verdemed em entrevista ao NeoFeed sobre a norma da Anvisa. “Agora, queremos atender a nossa demanda sem a necessidade exclusiva da importação.”
O primeiro passo dessa expansão será dado em julho, quando a Verdemed vai passar a comercializar seus medicamentos nas farmácias do País. A operação começa atendendo as capitais e grandes centros urbanos em redes como Drogaria São Paulo, Raia Drogasil e Panvel. As cidades menores serão atendidas a partir de 2023, com o auxílio de distribuidores locais.
Inicialmente, as gôndolas vão ser abastecidas com dois medicamentos que foram aprovados pela Anvisa no ano passado: Canabidiol Verdemed (50 mg/ml) e Canabidiol Verdemed (23,75 mg/ml), produzidos na Colômbia e no Canadá. Outros quatro remédios estão na fila do órgão e podem ser aprovados em breve.
Com as aprovações recentes, a companhia se junta a outras fabricantes que também receberam aval da Anvisa para venderem produtos baseados em canabidiol em solo brasileiro. Estão nessa lista farmacêuticas como Belcher, Greencare, Prati-Donaduzzi e Farmanguinhos. Essa última, pertencente à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Para estimar o tamanho do mercado local, um estudo da consultoria Kaya Mind tomou como base as vendas em farmácias de medicamentos da Prati-Donaduzzi na categoria. A projeção é de um receita entre R$ 60 e R$ 70 milhões neste ano, contra R$ 30 milhões em 2021.
No modelo atual de negócios, a Verdemed opera exclusivamente com vendas por meio de plataformas digitais que funcionam como marketplaces, casos da LotusMed, da Dr. Cannabis, da Medicina In e da Cannect.
Em comum, todas elas demanda que o consumidor faça um cadastro, tenha uma prescrição médica (ou passe por uma consulta online) e receba a autorização da Anvisa para importar o medicamento. Com as farmácias, esse caminho tende a ser menos tortuoso para os consumidores.
Um exemplo da dor enfrentada pelos pacientes é a demora no recebimento dos remédios. Em média, um produto leva cerca de 25 dias para ser entregue na casa do cliente após o pedido de compra. Mesmo com o crescimento das plataformas digitais, a entrega não é rápida e pode levar mais de uma semana para ser feita.
Para a Verdemed, uma outra fonte de receita deve vir com a venda dos direitos de alguns de seus medicamentos para uma gigante farmacêutica brasileira. “É um produto que precisa de distribuição nacional para expandir mais rapidamente”, diz Bacellar. “Essas empresas sabem fazer isso.” Por ora, as conversas ainda estão em andamento.
Uma terceira linha que começa a ser explorada pela companhia são as licitações e vendas na esfera pública. Em fevereiro desse ano, a empresa já venceu uma concorrência do governo paranaense, envolvendo 2 mil unidades de Canabidiol 50 mg/ml, ao custo total de pouco mais de R$ 1 milhão.
A previsão é de que a divisão movimente entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões nesse ano, o que amplia o mercado a ser explorado pela Verdemed para um universo de mais de R$ 100 milhões, somando o volume que deve ser movimentado em farmácias.
A empresa não revela uma meta do quanto pretende capturar desse bolo. Bacellar diz apenas que se a Verdemed abocanhar um décimo deste valor, já seria “um resultado razoável para uma empresa que está começando, em seu primeiro ano de vendas no Brasil”.
Na receita de toda a sua operação, a Verdemed espera alcançar uma receita de mais de R$ 250 milhões (US$ 50 milhões) nos próximos cinco anos. Isso seria feito com o amadurecimento da operação brasileira e o avanço da companhia em outros países da América Latina.
No mundo, o mercado de produtos derivados da cannabis devem movimentar US$ 35 bilhões neste ano, um salto de 22% sobre 2021, de acordo com a empresa americana de pesquisas BDS Analytics. A projeção é de que essa cifra chegue a US$ 61 bilhões em 2026.
O mercado dos Estados Unidos deve responder pela maior parte desse montante, com a estimativa de movimentar US$ 28 bilhões nesse ano. Em 2020, estima-se que essa cifra tenha sido de US$ 20 bilhões. Metade deste valor teve origem no uso medicinal da planta, enquanto o restante veio do uso recreativo.
Por ora, no entanto, além do Brasil, a Verdemed pode operar fisicamente apenas em mais um país, o Peru. A partir das duas geografias, a expectativa é de que, nos próximos dois anos, 90% das vendas da companhia venham do mercado brasileiro.
Bacellar espera que países como Colômbia e México avancem em suas regulamentações para que a empresa também desembarque por lá, mas ainda não há previsões de quando isso pode acontecer. “Estamos limitados ao ambiente regulatório”, diz.
Enquanto aguarda, a Verdemed estuda a possibilidade de investir em uma fábrica própria no Brasil. Entretanto, o projeto não deve ser concretizado pelo menos até 2024. “Primeiro a gente vende, depois gasta dinheiro”, diz Bacellar. Em um primeiro momento, a tendência é de que a produção local seja feita por terceiros.
Para financiar o crescimento no País, uma alternativa deve ser a captação de um novo aporte de US$ 5 milhões. Desde a sua fundação, a empresa levantou US$ 9 milhões em rodadas de seed, Série A e com uma operação de venda de equity e debêntures. Há também um plano de abertura de capital para 2023 na bolsa de valores do Canadá.
Na expectativa da empresa, caso a oferta inicial de ações se concretize, a tendência é de que seja um IPO “pequeno”. A companhia estima captar em torno de US$ 10 milhões, com um valuation de US$ 50 milhões.