Quando foi fundada, ainda em 2014, a gestora americana The Yield Lab montou sua tese de investimento para apoiar startups que atuavam com soluções para o agronegócio e em negócios que envolvessem biotecnologia. A mesma tese foi aplicada quando a gestora de venture capital criou veículos dedicados à América Latina.

Por um lado, o mercado latino-americano se mostrava fértil para startups com soluções para o agro. Por outro, havia dificuldade em encontrar novas investidas na tese voltada para biotechs. Até o começo deste mês, somente um aporte havia sido feito nesta direção – na chilena Botanical Solutions, que levantou US$ 7 milhões em agosto.

“A urgência pela inteligência artificial mudou o jogo no mercado de biotecnologia”, diz Kieran Gartlan, managing partner da The Yield Lab no Brasil, ao NeoFeed. “O grande desafio de investir em biotecnologia é o tempo que se leva para que os negócios se desenvolvam e a falta de apoio.”

Agora, a gestora está fazendo seu primeiro aporte em uma startup brasileira de biotecnologia. Trata-se da Symbiomics, que utiliza tecnologia para produzir microrganismos usados no campo.

Fundada em 2021, a companhia une as duas teses da The Yield Lab, já que utiliza biotecnologia para atuar no agronegócio. A companhia desenvolve microrganismos que são utilizados para aumentar a produtividade de uma planta de forma sustentável.

“O agronegócio hoje utiliza toneladas de fertilizante químico nitrogenado que emitem carbono na atmosfera. Isso é extremamente danoso”, diz Rafael de Souza, CEO e cofundador da startup ao lado de Jader Armanhi. “O que a Symbiomics faz é substituir o fertilizante por uma bactéria que puxa o nitrogênio do ar.”

Symbiomics-founders
Rafael de Souza e Jader Armanhi, fundadores da Symbiomics

O valor do aporte não foi divulgado, mas o NeoFeed apurou que a The Yield Lab trabalha com cheques que começam em US$ 500 mil em um primeiro investimento e podem chegar a US$ 2,5 milhões em  um follow on.

O investimento da The Yield Lab foi feito com o dinheiro do terceiro fundo, que ainda está em fase de captação e tem objetivo de levantar US$ 50 milhões. Mesmo assim, o veículo já vem sendo utilizado e foram feitos 12 investimentos, até o momento, quase metade da meta de 30 investidas.

No começo deste ano, a Symbiomics recebeu um aporte de R$ 10 milhões em rodada que contou com a participação de gestoras como Vesper Ventures, MOV Investimentos, Baraúna Investimentos e Ecoa Capital. O investimento de agora é uma extensão desta rodada.

Com novo fôlego financeiro, a companhia quer investir em técnicas de sequenciamento genético e machine learning. “Queremos trazer o que tem de mais atual no mercado de tecnologia para criar produtos que tragam um impacto positivo”, diz Souza. “Há demanda para produzir mais alimentos, mas isso gera um impacto ambiental.”

Em seu modelo de negócio, a startup faz o licenciamento das tecnologias para as empresas. Assim, o principal cliente da empresa é a Corteva, produtora americana de compostos químicos utilizados na agricultura e que está avaliada em US$ 33,4 bilhões.

Já a competição se dá contra outras gigantes do mercado de fertilizantes, mas que tentam desenvolver soluções mais naturais por conta própria. Entre elas estão companhias como Basf, Bayer e StoneX.