Em meio ao crescimento dos serviços de transporte de cargas em 2023, com as transportadoras buscando se recuperar do baque sofrido durante a pandemia, a Torqi está aproveitando o momento para encher o bolso e acelerar suas operações.

Para isso, a fintech, que oferece um serviço de antecipação de recebíveis para transportadoras, decidiu recorrer ao mercado. Na sexta-feira, 30 de junho, ela anunciou a captação de um fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC) no valor de R$ 60 milhões, operação liderada pela Galapagos Capital.

“Chegou um momento em que vimos que o nosso bolso, que financiava a operação até então, não seria mais suficiente para dar tração à nossa operação, considerando a demanda dos clientes”, diz Eduardo Arnoni, CEO da Torqi, ao NeoFeed.

Fundada em março do ano passado, a Torqi realiza a antecipação do chamado CTe, um documento digital utilizado na atividade de transporte para registrar a atividade de transporte, especialmente para fins fiscais, e que tem características de duplicata. E com pouco mais de um ano de vida, a companhia viu sua operação já engatar a quinta marcha.

Desde a primeira operação, realizada em julho de 2022, a fintech concedeu cerca de R$ 45 milhões em crédito. Focada em empresas com faturamento anual de R$ 200 milhões a R$ 1 bilhão, a Torqi começou trabalhando inicialmente com títulos com tíquetes de R$ 1 milhão, gradativamente subindo esse valor, para R$ 5 milhões.

Segundo Arnoni, os recursos obtidos com o FIDC permitirão realizar mais operações de antecipação de CTes, seja em quantidade e tíquete médio, além de expandir o número de transportadoras cadastradas das atuais 25. A expectativa para 2023 é de ultrapassar R$ 150 milhões em crédito disponibilizado, o que deve ajudar a Torqi a fechar o ano com uma receita de R$ 6 milhões – a companhia não quis informar os resultados de 2022.

No ano passado, ela realizou a antecipação de cerca 1 mil CTes. Até agora, em 2023, foram 9 mil títulos processados e a expectativa é fechar o ano com 30 mil. “Esperamos que isso ocorra justamente porque vamos deixar de ter limitação de funding”, afirma o CEO da Torqi.

Inovação na gestão de crédito 

Com passagens por consultorias de gestão como Booz & Company e McKinsey, Arnoni fundou a Torqi com Gustavo Roxo, que foi vice-presidente sênior e COO do ABN Amaro Bank, além de diretor de TI e operações do Santander Brasil, e Abner Oliva, que teve passagem como COO da registradora de recebíveis Cerc.

A motivação veio depois de eles avaliarem que havia uma janela de oportunidade para inovar na parte de crédito, assim como aconteceu no mundo dos investimentos e de pagamentos.

Eles também entenderam que as soluções de crédito disponíveis no mercado, boa parte delas nas mãos dos grandes bancos, não atendiam as necessidades do setor de logística. As transportadoras convivem constantemente com o descasamento do fluxo de caixa, uma vez que muitas delas recebem de 30 a 35 dias depois de o transporte ser feito, tendo que lidar com oscilações de volumes transportados.

Da esq. para direita: Gustavo Roxo, Abner Oliva e Eduardo Arnoni, fundadores da Torqi

“A gente viu uma oportunidade muito relevante, porque é um mercado gigante, com R$ 400 bilhões movimentados no ano passado somente em transportes rodoviários”, diz Arnoni.

O plano dos sócios foi unir o conhecimento de crédito e soluções digitais que possuem para criar uma “experiência diferenciada para as transportadoras” e competir com os grandes bancos e até logtechs como a Repom, marca da francesa Edenred, e que oferece antecipação de recebíveis a este mercado.

Investindo em tecnologia, a Torqi realiza todo o processo de análise dos títulos leva entre 15 e 20 minutos, com a liberação do crédito no mesmo dia.

A taxa de desconto cobrada nas operações fica entre 2% e 2,5% ao mês, a depender do tamanho do cliente e seu score de crédito. Ainda que não seja uma solução barata, considerando que os bancos cobram taxas um pouco menores, alguns sendo na casa dos 1,8%, Arnoni destaca que a Torqi não cobra “taxas escondidas”, como ocorre no mercado.

“Os outros players acabam cobrando, além da taxa de desconto, uma taxa de TED, de avaliação de crédito, exigem a contratação de outros produtos”, diz. “O que temos colocado aos clientes é de sermos muitos transparentes, então quando falamos que é 2%, é 2%.”

Os recursos do FIDC vem num momento positivo para o segmento de transportes de carga. Os dados mais recentes da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE mostram que o transporte de cargas cresceu 7,8% em abril, na comparação com o mesmo período de 2022, a 32ª segunda leitura positiva consecutiva. Com relação ao nível pré-pandemia, o transporte de cargas está 34,9% acima de fevereiro de 2020.