Quando surgiu no mercado plant-based, a NotCo apresentou uma proposta de negócio em que queria usar tecnologia – e principalmente inteligência artificial – para criar alimentos à base de plantas que pudessem substituir em gosto, aroma e textura produtos que utilizavam proteína animal.

Foi com essa estratégia que a companhia , que levou ao mercado produtos como maionese, leite e sorvete, foi avaliada em US$ 1,5 bilhão - 0 que faz dela um unicórnio - e levantou mais de US$ 430 milhões em aportes de gestoras como Tiger Global, L. Catterton, Future Positive, além de Jeff Bezos (Amazon) e Jack Dorsey (Twitter).

Quase cinco anos após chegar ao Brasil, a NotCo ainda tenta encontrar seu caminho no mercado local. A prova disso é que a companhia está, mais uma vez, mudando o comando da operação no País - a terceira desde 2019. Quem está assumindo o posto agora é Andre Weinmann. Ele substitui o argentino Mauricio Alonso, que estava no cargo desde 2021.

“Estava buscando uma oportunidade que combinasse a experiência que tive como executivo e empreendedor”, afirma Weinmann, em entrevista ao NeoFeed. “A NotCo foi o match perfeito.”

Com passagens por Nestlé, Philip Morris e Mondelēz, o novo country manager terá a missão de escalar a NotCo em um momento em que a startup chilena tenta se reinventar no Brasil. Nos últimos meses, a operação brasileira da companhia deixou (ao menos momentaneamente) silenciosamente o mercado de congelados e passou a focar mais nos alimentos de alto valor proteico.

Fique Por Dentro

Andre Weinmann substitui Mauricio Alonso, que estava no cargo desde 2021
Nos últimos meses, foco passou dos congelados para os alimentos proteicos
Companhia chilena já levantou mais de US$ 430 milhões em aportes

No começo de março, pouco antes de sua saída, Alonso concedeu entrevista ao NeoFeed em que revelou que a companhia estava adotando uma estratégia que chamou de “NotCo 2.0”. O plano envolvia focar esforços nesta nova categoria de produtos, que já envolve achocolatados e, no Chile, barras proteicas.

Sob esse direcionamento, a NotCo lançou no ano passado o NotMilk High Protein. Disponível em quatro sabores (chocolate, baunilha com coco, café e pasta de amendoim), a bebida proteica à base de plantas leva ingredientes como suco concentrado de repolho, proteína de ervilha e óleo de coco para substituir o leite animal. Novos produtos podem entrar no cardápio em breve. Entre os mais prováveis estão snacks (ou barras) de proteína e iogurtes.

A entrada neste mercado de high protein ajudou a companhia a escalar suas vendas para novos canais, como farmácias, onde atingiu 2 mil pontos de vendas.  Supermercados e venda online são outros canais para a venda desse e de outros produtos da empresa.

Andre Weinmann, novo country manager da NotCo
Andre Weinmann, novo country manager da NotCo

O que a NotCo está tentando fazer para se diferenciar de empresas como Danone, Nestlé e Piracanjuba é criar um produto com menos calorias e carboidratos que o de seus concorrentes. No sabor chocolate, a bebida da NotCo tem 106 calorias e 3,6g de carboidratos. O YoPro, da Danone, tem 172 calorias e 21g de carboidratos.

O interesse neste segmento é uma tendência que vem ganhando força em uma escala global. Um estudo da consultoria britânica Technavio aponta que o mercado de alimentos de alto valor proteico deverá crescer 7,6% ao ano entre 2022 e 2027, quando deverá movimentar mais de US$ 40,6 bilhões no mundo.

E os congelados?

Enquanto aumenta a quantidade de produtos em gôndolas de farmácias, a NotCo esvazia os freezers e congeladores dos supermercados. Produtos como NotBurger e NotChicken não estão sendo mais fabricados pela empresa no Brasil pelo menos desde fevereiro.

Os congelados sumiram das lojas e do site oficial da empresa no País. A justificativa da NotCo é de que “houve uma pausa” na produção” e haverá um “relançamento” dos produtos da categoria de congelados.

Ainda não há uma previsão exata de quando os produtos serão relançados no mercado brasileiro. Além de escolher uma nova fórmula, a companhia poderá ter que firmar novos acordo com parceiros locais para a fabricação do produto.

Os congelados continuam sendo vendidos em outros mercados em que a NotCo atua. No Chile, por exemplo, a companhia oferece as versões plant-based de hambúrgueres que imitam carne bovina e de frango e possuem suas próprias variações à base de planta hot-dog, carne moída e até bife à milanesa.

Depois da onda do plant-based, o mercado de proteína vegetal enfraqueceu. A Typcal, uma startup investida pela Futurum Capital e pelo técnico de vôlei Bernardinho, detentor de duas medalhas de ouro olímpicas, chegou a apostar nos congelados a base de plantas, antes de mudar seu negócio para o mush-based.

“O micélio permite que a gente consiga desenvolver substitutos de corte de carne, algo que o plant-based nunca conseguiu”, disse Paulo Ibri, fundador e CEO da Typcal, em entrevista ao NeoFeed em novembro do ano passado. O foco da operação agora também está mais voltado para o B2B.

A mudança levou em consideração a demanda do consumidor flexitariano por este tipo de produto e o choque de realidade dos fundos de investimento quanto ao potencial de crescimento de mercado. “É difícil mudar o hábito de consumo em um país que está entre os maiores consumidores de carne do mundo”, disse Ibri.

Nas gigantes do setor, a JBS reduziu sua operação ao encerrar as operações da Planterra, nos Estados Unidos; e a BRF também reformulou seu negócio ao anunciar uma parceria com a PlantPlus, joint venture formada por Marfrig e ADM, para a distribuição dos produtos.