Liberada temporariamente pelo Conselho Federal de Medicina como forma de garantir atendimento médico à população durante a pandemia do novo coronavírus, a telemedicina se mostra um caminho sem volta – assim como o home office para muitos profissionais e empresas.
O receio de realizar consultas presenciais neste momento estimula que médicos e pacientes experimentem as consultas virtuais. E isso, claro, acelera o processo de conhecimento do modelo, mas o que nem os defensores mais otimistas da telemedicina imaginavam é que a adesão e aceitação a ela seria tão rápida.
Esperava-se uma resistência inicial e até um estranhamento por ambas as partes, como, em geral, acontece com quase tudo que é novidade. Mas o que temos visto nas pesquisas internas, realizadas para entender como tem sido a percepção dos pacientes e médicos, a respeito dos atendimentos virtuais, é um grau de satisfação elevado: 92,3% das pessoas que já fizeram consultas online fariam novamente.
Mais de 22% dos pacientes que atendemos entre março e abril realizaram pelo menos duas consultas em especialidades diferentes. A campeã, no entanto, tem sido a psiquiatria, com 23% da procura. O que é compreensível neste momento de tantas angústias, incertezas e, para muitos, solidão.
Já é possível, inclusive, traçar um perfil do público que vem utilizando a nova modalidade. A maior parte está em grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mas já começamos a ver uma tendência de expansão para outros estados. Dos mais de 30 mil atendimentos que já fizemos desde março, 64% foram de mulheres e 36%, homens; 54% da classe B e 25%, C.
É interessante observar como a percepção entre homens e mulheres é bem diferente. Elas dizem optar pela telemedicina por conta da necessidade de isolamento social imposta pela pandemia da Covid-19. Já eles, escolhem pela praticidade e por ter o preço 20% mais barato que uma consulta tradicional.
Analisar esse cenário é importante para direcionar e aperfeiçoar as ferramentas e formas de lidar com essa nova realidade, que já vem sendo adotada em vários países desenvolvidos há alguns anos. A previsão é que a telemedicina siga a trajetória que vemos no momento e represente, após o término da pandemia, de 30% a 40% das consultas realizadas no total.
De acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde, de cada cinco países em desenvolvimento, quatro têm pelo menos um programa de atendimento virtual para garantir o acesso da população a serviços médicos. Isso porque a telemedicina chega a lugares onde, muitas vezes, clínicas e hospitais não costumam chegar; resolve a maior parte das queixas dos pacientes, sem que eles precisem ir a hospitais; e, entre outros fatores, é mais barata.
Uma pesquisa da Associação Americana de Telemedicina verificou que a modalidade, de fato, apresenta redução de custos para pacientes, fornecedores, contribuintes e os próprios médicos e operadoras de saúde quando comparada com os atendimentos presenciais. Não só pelos custos físicos de consultórios, deslocamentos e tempo, mas, principalmente, por ajudar a reduzir a frequência e a duração das visitas a hospitais.
Essa mesma associação calculava, antes da pandemia do novo coronavírus, que o mercado global de telemedicina cresceria 14,3% até 2020, alcançando US$ 36,2 bilhões. Agora, sem dúvidas, haverá um salto muito grande. No entanto, o mais importante é entender que não dá mais para tratar as inovações como uma opção.
É preciso regulamentar e garantir que haja mecanismos de controle e fiscalização para que os pacientes saibam onde procurar atendimento seguro e profissional. Para que não corram o risco de se expor a aventureiros e oportunistas, assim como sempre ocorreu no modelo tradicional.
Garantir saúde de qualidade à população sempre foi um ponto vital e será ainda mais agora com o novo “normal” que passaremos a viver. A telemedicina seguramente é e continuará sendo uma importante aliada daqui em diante.
Renato Velloso é CEO da rede de centros médicos dr.consulta