Com as fintechs se estabelecendo como uma realidade no País, o Itaú está buscando aprender com algumas das características dessas startups financeiras.

A instituição quase centenária e de R$ 239,3 bilhões em valor de mercado está em meio a um processo de transformação estrutural para se adaptar ao novo momento, que exige estruturas mais ágeis e tecnologias mais modernas para fazer frente às fintechs, disse Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do Itaú. 

"Essas empresas entraram no mercado com uma proposta interessante, porque ao usar uma tecnologia nova, permite a elas uma agilidade muito maior, aprovar crédito de forma mais rápida do que numa tecnologia mais antiga", disse Setubal, em participação na live Kafé com Kinea, promovida pela gestora Kinea Investimentos, nesta terça-feira, dia 23 de agosto. 

"Isso [chegada das fintechs] foi um choque, mexeu muito, e quisemos entender como é possível, entender como é a tecnologia delas. Isso não foi da noite para o dia, e fomos vendo o que poderia acontecer. Até que aquilo começou a incomodar num certo momento, porque adquiriu um tamanho, e aí você tem que se mexer", completou.

A virada do Itaú de um banco tradicional para uma instituição com mais cara de “startup” está caminhando, de acordo com Setubal. Um dos principais movimentos envolve a migração de todos os sistemas para a nuvem. 

"Esperamos terminar o ano com cerca de 50% do nosso sistema migrado para a nuvem", afirmou. "Daqui um ano, um ano e meio, devemos estar em plena capacidade para competir com as fintechs, em um nível de tecnologia equiparado a elas, com agilidade e capacidade de se movimentar."

A tarefa não é simples, segundo Setubal, considerando que o Itaú possui “milhares” de sistemas que não permitem a troca de dados entre as diferentes áreas do banco, gerando burocracia e uma visão menos completa dos clientes e das soluções disponíveis. 

"Hoje, nos sistemas antigos, se quero usar mais dados, é uma série de etapas para o sistema chegar no dado", disse Setubal. "Os sistemas que foram criados não tinham uma visão de cliente, porque cada sistema tem seu próprio cadastro. Tudo que fizemos em 20 anos precisa ser refeito, numa outra tecnologia."

Mudança, porém, não é uma palavra que assusta Setubal. Ele lembrou que o Itaú também teve que se adaptar às mudanças tecnológicas a partir da década de 1960, com a chegada dos primeiros computadores, que automatizaram muitos procedimentos. Depois, com os caixas eletrônicos e os sistemas bancários para a internet. 

"A evolução tecnológica torna o processo mais eficiente, possibilitando um ganho de produtividade brutal, o que leva a ampliação do mercado", afirmou o copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco. "A tecnologia faz parte da evolução do sistema financeiro desde sempre."

Junto com o upgrade tecnológico, o Itaú Unibanco também está promovendo uma mudança na estrutura corporativa, inspirado no que as startups fazem. Segundo Setubal, o banco está deixando de ter uma rigidez "militar" na hierarquia, apostando na integração entre diferentes áreas. 

"O banco está praticamente todo em estrutura de comunidades, onde colocamos no mesmo ambiente não uma estrutura hierárquica, mas pessoas de diferentes áreas trabalhando juntas num projeto, cada um cuidando de uma parte", afirmou. "Você tem a visão de cliente próxima à tecnologia."

Por volta das 14h36, as ações preferenciais do Itaú caíam 0,08%, a R$ 26,32. No ano, elas acumulam alta de 25,6%.