O vaivém em Brasília sobre a tributação de aplicações isentas de imposto de renda (IR) deixou o mercado de crédito em alerta. No meio das incertezas, as debêntures incentivadas ganharam protagonismo e captação. E, ao que tudo indica, as novas regras podem deixá-las ainda mais atrativas.

O texto da MP 1.303 que está seguindo nas casas legislativas, por enquanto, voltou atrás e deixa os títulos de crédito corporativos isentos, como as debêntures incentivadas, os CRI e os CRAs. Mas os investimentos tributados deixariam de ter uma alíquota progressiva de 15% a 22,5%, para ter uma alíquota fixa de 17,5%. Na prática, isso significa que na comparação com os títulos tributados de longo prazo, o diferencial aumentou.

“Fazendo a conta, se antes a isenção valia cerca de 2,6 pontos percentuais ao ano, agora, a vantagem sobe para 3,2 pontos percentuais, porque o tributado ficou mais onerado. Então, ficou ainda mais atrativo investir”, diz Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, ao Wealth Point, programa do NeoFeed.

Diante da incerteza se haveria ou não uma tributação, o mercado fez uma corrida pelo ativo que fez os preços despencarem, ficando inclusive abaixo do seu benchmark, os títulos tesouro IPCA+, resultando em spreads negativos de crédito.

Isso fez com que muita gente repensasse se as debêntures incentivadas ainda valiam a pena. E para os entrevistados, não resta dúvida que sim.

“O que o investidor tem que ver é o que ele vai ganhar no líquido, e em qualquer conta que ele faça, seja com uma mudança de regra ou não, se continuar isento vai valer muito a pena", afirma Paulo Bokel, head de crédito da Absolute Investimentos, com cerca de R$ 63 bilhões sob gestão.

Quem tem aproveitado esse apetite são as empresas, que estão vindo a mercado com a mesma força do ano passado, que passou de R$ 130 bilhões em emissões. Somente neste ano, até agosto, as ofertas de debêntures incentivadas atingiram R$ 97,3 bilhões – e a expectativa é que feche o ano na mesma casa de 2024.

“Estamos vendo emissões na casa de R$ 10 bilhões por mês. E isso é bom, porque o mercado secundário está seco. Quem tem os títulos não está vendendo. Então para conseguir alocar o primário tem sido fundamental”, diz Bokel.

Até então, sempre que se pensou em taxar algum papel incentivado, as debêntures ficaram de fora. A MP 1.303 foi a primeira a ameaçar esse título que é tão importante para o fomento à infraestrutura, e isso, independente de agora não se taxar, ficou marcado.