Nos últimos anos, o mundo parece ter dado uma guinada à direita, com partidos políticos dessa posição ganhando destaque tanto nas principais economias globais, como Estados Unidos, Europa e Japão, quanto na América Latina.

Para Silvio Cascione, diretor de pesquisa e chefe da Eurasia Group no Brasil, isso não significa exatamente uma maior tendência ideológica à direita, e sim uma revolta difusa do eleitorado com governos incapazes de responder a demandas crescentes, do qual, em geral, a direita tem sabido responder melhor.

“A principal consequência não é uma mudança consistente de política econômica para propostas mais liberais. São propostas de protecionismo e são propostas de restrição à imigração. Tem outra característica que a gente ainda vai ver com o tempo os efeitos que vão ter sobre as economias”, diz Cassione em entrevista no NeoConference 2025, evento do NeoFeed.

Ele observa que, nos Estados Unidos, os custos associados às barreiras comerciais e à mão de obra mais cara tendem a aparecer com o tempo e devem frear a economia. Já em países como a Argentina, a direção é mais liberalizante, o que reforça a heterogeneidade do quadro.

E essa disputa de poderes ocorre em uma nova ordem mundial em curso, em um cenário geopolítico fragmentado, com os Estados Unidos perdendo a sua liderança e dando espaço para um mundo mais multipolarizado, em especial com a ascensão da China. Em síntese, é um mundo de fricções crescentes no comércio internacional.

A má notícia desse novo cenário é o aumento do risco. A boa, diz Cassione, é que o Brasil pode se beneficiar da busca global por parceiros estáveis e pela diversificação de cadeias: com ativos em energia, mineração e um mercado consumidor de escala.

“Temos esses momentos de choque, de atrito, que são perigosos para as empresas e para os investidores. Mas a boa notícia é que, para o Brasil, é uma fase de oportunidade também. Temos muitos problemas internos, mas temos muita coisa que o mundo não tem”, diz ele.

No front político interno, Cascione projeta uma disputa acirrada em 2026. Lula chega como favorito, mas a oposição tem “condições” de se organizar e levar a decisão a um segundo turno competitivo, especialmente se conseguir canalizar o desejo por mudança e o voto anti-PT.

Cascione alerta contra leituras precipitadas — nem o governo estava “morto” no início do ano, nem está “reeleito” agora — e aponta a virada do ano como momento-chave para a definição de nomes e estratégias do campo oposicionista.