Com taxa Selic em 15% ao ano, a renda fixa segue como a estrela dos portfólios, em especial os títulos bancários. Segundo dados da B3, o estoque desse mercado no fim de junho foi de R$ 5,7 trilhões, 15% a mais que em junho de 2024. Mas, nos últimos meses, a procura pelas LCIs e LCAs, que corriam o risco de perder a isenção tributária, fez a percepção de risco aumentar.

Gabriel Redivo, sócio-diretor de gestão do family office Aware Investment, e Luciane Ribeiro, sócia-fundadora do family office 3V Capital, contaram ao Wealth Point, programa do NeoFeed, que a oferta vem encolhendo desde que o Conselho Monetário Nacional restringiu o uso dos lastros e os bancos passaram a ter menos apetite de crédito, necessitando de menos captações. O resultado foi um fechamento dos spreads para os papéis.

“Se há um ano víamos LCI ou LCA a 97% ou 98% do CDI, agora está em 94%. Mesmo assim, é uma boa oportunidade porque a taxa de juros está muito alta e é muito difícil conseguir o mesmo retorno com risco tão baixo”, diz Ribeiro.

Mas não é só porque a Letra de Crédito Imobiliário ou a Letra de Crédito do Agronegócio são isentas que são melhores. O investidor precisa fazer a conta e ver se os CDBs, que são tributados, não estão compensando mais que um título isento - embora esses títulos bancários também tiveram suas as taxas minguadas no último ano.

Tanto a Aware como a 3V Capital calculam que grande parte de seus clientes com perfil de conservador a moderado detêm cerca de 60% a 70% da carteira composta por títulos bancários, como os CDBs, e principalmente as LCIs e LCAs.

É bom lembrar que essas letras estavam ameaçadas de taxação pela MP 1.303, um processo que caducou no Congresso. Por isso, houve uma uma avalanche de procura em razão do risco de perda do benefício - e o mercado entende que essa possibilidade continua sobre a mesa.

Já os títulos bancários são considerados de baixo risco de crédito por terem a garantia do Fundo Garantidor de Crédito, o FGC. No entanto, essa proteção é de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição ou conglomerado financeiro, com um limite global de R$ 1 milhão a cada quatro anos. Fora isso, o investidor precisa estar atento ao risco de crédito do banco emissor.

“Muita gente arriscou acima do limite e agora está preocupado com a solvência de alguns bancos, como o Master, que vemos todo dia na mídia. A recomendação é apimentar com bancos mais arriscados apenas no limite do FGC, de resto manter em bancos de primeira linha”, afirma Redivo.

Os especialistas explicam que títulos muitos longos têm nível de risco maior, seja pela realidade do emissor (que pode mudar), seja pela taxa precificada não compensar caso haja uma piora de cenário. Por isso, preferem os papéis mais curtos, de até dois anos.

Os gestores acreditam que alocação em títulos bancários vai continuar elevada mesmo com o início da queda de juros no ano que vem: taxa em dois dígitos continua muito atraente e a economia ainda não inspira muita confiança para o risco.

A aposta é que pode ter alguns movimentos marginais em busca de mais rentabilidade, mas a espinha dorsal das carteiras dos investidores em 2026 vai continuar sendo os títulos bancários.