Depois de transformar a forma como as empresas operam, a inteligência artificial começa a mudar também o modus operandi de fundos de venture capital. Agora, em vez de os gestores se basearem apenas em networking e instinto, usam essa tecnologia para tentar prever qual é a startup mais promissora para a carteira.
Para Daniel Ibri, sócio-fundador da Mindset Ventures, esse movimento é irreversível. Em entrevista ao Revolução IA, programa do NeoFeed com apoio do Magalu Cloud, ele reconheceu que boa parte do que hoje é feito por analistas e gestores pode ser automatizado, como transcrições de reuniões, organização de dados,e cruzamento de informações financeiras.
“Boa parte de nosso trabalho pode ser feito por IA, o que é triste falar, mas é verdade. Não acho que ela vá substituir um time, mas uma boa parte do nosso trabalho pode se tornar mais eficiente e mais assertiva com o uso de IA”, afirma Ibri.
Apesar do ganho de eficiência, Ibri não concorda em delegar a escolha final das próximas investidas à IA. “Tem alguns fundos querendo praticamente terceirizar o processo inteiro para IA. Eu não acredito. Quando falamos de empresas em estágio inicial, acreditamos nas pessoas. Esse olho no olho, entender o que motiva, é uma coisa que a IA, pelo menos por enquanto, não vai conseguir fazer bem feito.”
Com foco nos Estados Unidos e em Israel, a Mindset Ventures tem uma visão apurada sobre como as diferenças culturais moldam os ecossistemas de inovação. Ibri observa que, enquanto o empreendedor israelense costuma ser obcecado pelo produto e pela tecnologia, muitas vezes sem pensar na usabilidade ou no modelo comercial, o americano tem o viés oposto.
No caso brasileiro, o Ibri vê um ecossistema fértil em criatividade, mas ainda carente de densidade tecnológica e ambição global, algo que relaciona ao tamanho do mercado interno. Com o avanço da inteligência artificial, essa característica pode atrapalhar a ascensão das startups locais, já que, em sua opinião, o futuro do investimento tende a ser cada vez mais global.
“A gente tem muito essa ideia de que ser grande no Brasil é suficiente. Mas do ponto de vista do mercado de capitais, não é. Os negócios vão ser cada vez mais internacionais. Qualquer grande cliente que vai adotar IA hoje olha globalmente, para a China, para os Estados Unidos, para a Europa, e vai escolher o melhor. Não existe mais vantagem geográfica”, afirma Ibri.
Ibri mostrou também seu entusiasmo com uma vertente de investimento fora da tese principal da Mindset Ventures que vem experimentando: a interseção entre música e inteligência artificial.
A ideia partiu da sua paixão por música e pela aposta que esse pode ser um mercado promissor quando relacionado à IA. O resultado foi a criação de um fundo-piloto de US$ 2 milhões dedicado a startups que aplicam inteligência artificial no setor de áudio e entretenimento.
Entre as investidas, há uma empresa que usa modelos de inteligência artificial para replicar a forma como um músico toca, compõe e pensa, permitindo que o artista licencie sua própria “versão digital”.
Além de levantar discussões sobre autoria e propriedade intelectual, esse tipo de inovação redefine o próprio papel do artista, que passa a coexistir com uma versão algorítmica de si mesmo.
“A ideia é que o músico possa continuar presente, compondo, mesmo quando ele não estiver mais ali. É uma forma de a inteligência artificial preservar o estilo, a essência, a alma musical daquela pessoa”, afirma Ibri.