Quando o Facebook comprou o Instagram, em 2012, ele era um aplicativo com poucos milhões de usuários e feed puramente temporal. Para quem postava com frequência, era fácil manipular a ordem dos conteúdos e aparecer no topo da timeline dos seguidores.
A personalização era praticamente inexistente e as recomendações do explorar eram feitas de forma manual por um time de funcionários. Foi nesse cenário que Rodrigo Schmidt, então head de engineering da Meta (na época, Facebook), assumiu o desafio de aplicar inteligência artificial no produto.
“Começamos a introduzir modelos de ranqueamento, personalização de buscas, recomendações. A IA se tornou a única forma de escalar o produto”, diz Schmidt, ao Revolução IA, programa do NeoFeed que tem apoio do Magalu Cloud. “Não seria possível entregar qualidade com bilhões de usuários sem personalização por inteligência artificial.”
O executivo brasileiro passou 15 anos na empresa de Mark Zuckerberg. Foi uma das lideranças por trás da transformação do Instagram, além de atuar na criação de novos produtos no laboratório de inovação da big tech.
Ao longo da conversa, Schmidt compartilhou o que aprendeu nos bastidores e ofereceu pistas para empresas brasileiras que buscam aplicar inteligência artificial de forma eficaz. Uma delas é usar a tecnologia não como um fim, mas como um meio para resolver problemas.
Saber recuar, quando for preciso
Nem toda ideia, porém, virou sucesso. A tentativa de criar um recurso de “trending topics”, inspirado no Twitter, fracassou. A hipótese era que conteúdos populares gerariam mais engajamento, mas o público não se interessou.
“Era um erro de leitura. O Instagram não é um aplicativo de atualidades. Ele é sobre interesses, não sobre o que está acontecendo agora”, afirma Schmidt.
Outro caso de insucesso foi a tentativa da Meta de desenvolver um mecanismo de busca, parecido com o do Google, dentro da rede social — algo no qual o concorrente TikTok foi muito feliz. Na visão do conselheiro de IA, a diferença entre os resultados foi o timing.
"A identidade do Facebook era ainda muito voltada ao conteúdo diretamente conectado a você. A expectativa do usuário era encontrar amigos, parentes, não ver desconhecidos. O TikTok já nasceu com uma proposta diferente, então tinha a dianteira."
A experiência o levou a estruturar uma metodologia clara de inovação: começar com hipóteses, estimar o custo-benefício, testar rápido e saber recuar quando necessário. Para ele, isso vale tanto para gigantes quanto para empresas brasileiras com orçamentos apertados.
Hoje, longe da Meta, Schmidt segue atuando no ecossistema de tecnologia como investidor e conselheiro. Para ele, empresas que não têm o orçamento de uma big tech ainda podem inovar — desde que saibam o que estão buscando.
“Se não dá para incubar uma pesquisa dentro de casa, busque na universidade, no open source. O acesso à IA nunca foi tão democrático. Essa tecnologia ainda vai se reinventar várias vezes. O que importa é saber o que você quer transformar com ela.”