O bilionário mercado de Letras de Crédito Imobiliário e Agrícola (LCI e LCA) tem R$ 847 bilhões em estoque, mas encolherá 35% após a Resolução CMN 5.119, que limitou a possibilidade de lastro para novas emissões, segundo levantamento da consultoria AAWZ com dados do Banco Central e dos 15 principais emissores do mercado, compartilhado com o NeoFeed.
A projeção da AAWZ é que quando vencerem os estoques com a limitação de que os títulos agora só podem ser emitidos com lastros diretos ao crédito imobiliário e do agronegócio fará esse mercado de títulos isentos encolher cerca de R$ 270 bilhões.
Ainda segundo a consultoria, apenas nos próximos seis meses vencerão R$ 174 bilhões em LCIs e LCAs. Esse montante deve ser alocado em CDBs e também em crédito privado e outros ativos de risco, que podem ser "empurrados" com a queda na taxa de juros prevista para este ano. Isso dá às assessorias de investimento um cenário positivo de captação que já não se vê há alguns anos.
“Se nos últimos dois anos as assessorias sofreram com a alta de juros e o dinheiro voltando para os bancos, agora, com cerca de R$ 30 bilhões de vencimentos de isentos por mês e queda de juros, o segmento tem a oportunidade de voltar as taxas de captação de 2019 e ganhar market share”, afirma Filipe Medeiros, CEO e fundador da AAWZ.
Atualmente, as corretoras XP e BTG Pactual somam 20,1% do mercado de investimentos, enquanto os bancos (Itaú, BB, Bradesco, Caixa e Santander) detêm 51,2%. O restante está diluídos com outros players. A consultoria projeta que, neste ano, as corretoras aumentarão sua participação para 23,4% do mercado. E, em 2025, para 26,3%. Em contrapartida, os bancos vão encolher para 49,2% e 48,1%, respectivamente.
Com vantagem sobre os bancos para capturar esse valor disponível no mercado, as assessorias de investimento têm mais força de distribuição. São mais de 20 mil assessores, enquanto os bancos possuem cerca de 4 mil especialistas de investimentos. E com o mercado voltando a aquecer, profissionais de bancos devem ter incentivos para empreender em seus próprios escritórios, como aconteceu no passado, segundo a consultoria.
“Os bancos conseguiram reagir no sentido de estancar a sangria, com a ajuda de um cenário benéfico para eles. Mas não conseguiram ainda ganhar market share. A virada de cenário deve encorajar mais bancários a levarem seus clientes para sua própria estrutura, como vimos em anos anteriores”, analisa Medeiros.
Rumo a um mercado de R$ 15 trilhões
Bancos, corretoras e assessorias de investimento estão disputando um mercado de investimentos que fechou 2023 em quase R$ 11 trilhões, somando pessoa física, jurídica e previdência, 15% maior do que em 2022. Desse montante, o mercado de assessoria (B2B e B2C) tem, hoje, quase R$ 4 trilhões.
A projeção da AAWZ é que essa taxa de crescimento continue e o mercado de investimentos chegue a mais de R$ 15 trilhões em 2026, enquanto o mercado total de assessoria tem o potencial de abocanhar R$ 6 trilhões.
O mercado de assessoria deve crescer 40% nos próximos três anos, puxado pelo B2B, que tem ganhado cada vez mais espaço e terá mais de R$ 1,5 trilhão sob custódia.
Isso não significa, porém, que todos os escritórios irão capturar igualmente esse crescimento do segmento. Na visão da consultoria, esse novo ciclo de crescimento será para os que estão profissionalizados e preparados para a disputa.
"Vemos que, nos dois últimos meses, a captação já melhorou de 40% a 50% em relação aos últimos trimestres de 2023, mas isso está acontecendo para quem fez o dever de casa", afirma Medeiros.
De acordo com ele, se no último ciclo de queda de juros havia um mar azul para uma assessoria independente navegar, agora, há concorrência com bancos e principalmente com outras assessorias. "Vai captar essas oportunidades quem tiver processo, profissionalização e organização para ser enxuto e gerar lucro. Quem não, ficará pelo caminho", diz Medeiros.