O segmento de fundos quantitativos acaba de ganhar mais uma gestora especializada. A Avalon Capital nasce com a proposta de investir em alternativos líquidos, especializada na construção de estratégias multiativos e no estudo de eventos no mercado financeiro.

A proposta é agregar a um portfólio com base multifatorial estratégias que se beneficiam de anomalias importantes que são detectadas com alguns algoritmos, e que são capazes de entregar retornos com baixa correlação com o mercado, como o desempenho do Ibovespa e da taxa de juros.

A casa começa com um fundo de ações, o Avalon FIA, que possui estratégias pautadas em eventos de mercado, anomalias e padrões estatisticamente robustos. O time é formado por oito pessoas com altas formações e especializações para enfrentar os desafios do investimento quantitativo.

A maior parte da carteira roda com soluções de fatores em ativos nacionais, em aplicações que buscam prêmios de risco bem documentados no mercado, como momentum, valor e volatilidade.

O diferencial do fundo para outras estratégias de fatores está em também realizar alocações alternativas: o gestor se posiciona a favor ou contra ineficiências e anomalias que a equipe de analistas quantitativos vem identificando e testando em dados históricos e reais há alguns anos no mercado brasileiro, via modelos matemáticos.

Novas estratégias podem ser lançadas nos próximos anos. Até o fim de 2024, a gestora espera captar cerca de R$ 100 milhões com family offices, assessores de investimento e com investidores mais sofisticados de wealth management.

“Hoje, a maior dificuldade é entenderem o que fazemos. Por isso, não apostamos no varejo, mas nos grandes investidores. E, mesmo assim, ainda precisamos explicar”, afirma Marcius Lima, sócio-fundador e gestor da Avalon Capital, em entrevista ao NeoFeed.

Ele complementa: “A estratégia quantitativa é acima de tudo uma ferramenta que ajuda a tirar vieses comportamentais da tomada de decisão. E que possibilita a análise de um número muito maior de ativos por meio de tecnologia”.

O potencial de expansão

Enquanto nos Estados Unidos os fundos quantitativos são cerca de 40% do mercado (excluindo os ETFs), no Brasil eles não chegam a 1%, com cerca de R$ 21 bilhões sob gestão, segundo dados levantados na plataforma de informações financeiras ComDinheiro.

Mas estratégias que utilizam um modelo de escolha de ativos feito por meio de modelos matemáticos predefinidos e montados por especialistas vem crescendo acima da média do mercado. Nos últimos três anos, os chamados fundos quant mais que triplicaram de tamanho, com grandes gestoras criando fundos específicos e novas entrando no mercado.

“O mundo é cada vez mais complexo e possui cada vez mais dados. O que torna natural começar a pensar de uma forma diferente para a gestão de recursos e como buscar alfa nesse cenário. E o Brasil com certeza não vai ficar de fora dessa tendência mundial”, diz o gestor da Avalon Capital.

avalon capital
Flavio Riva, Marcius Lima e Guilherme Magalhães, sócios-fundadores da Avalon Capital (da esq. para a dir.)

Atualmente, há cerca de 10 gestoras no País que são fundamentalmente quantitativas, com estratégias diferentes dentro desse segmento. A maior delas é a Giant Steps, com cerca de R$ 6 bilhões sob gestão. Outras bastante tradicionais e reconhecidas são Daemon Investimentos, com cerca de R$ 4,5 bilhões, Kadima e Constância, ambas com cerca de R$ 2,5 bilhões sob gestão.

Além das gestoras independentes, mais recentemente os grandes bancos têm lançado famílias de fundos quantitativos, como fez o Itaú com a série Quantamental, além de Bradesco, Santander e Banco do Brasil.

A origem

Bacharel em economia pela Universidade de Brasília, Lima sonhava em criar uma gestora quantitativa desde a adolescência. Ao começar a investir, percebeu que nos EUA algumas gestoras se destacavam utilizando métodos quantitativos para comprar e vender ativos, como a D.E. Shaw, Citadel, Renaissance, Two Sigma, entre outras.

Além do título de economista no Brasil, ele também cursou economia do Mercado Financeiro na prestigiada Harvard University. Em Cambridge, ele se uniu ao doutor em física Rafael Morgado (com quem trabalha até hoje) para começar a construir estratégias para o mercado financeiro. Em 2018, depois de sua passagem pela Sigel Capital (atual DealMaker), Lima fundou a M2X Tecnologia Financeira, já com o intuito de promover os modelos desenvolvidos juntamente com Rafael para gerir o patrimônio de sócios interessados.

A criação da Avalon Capital, que tem sede em São Paulo e escritório em Brasília, acontece quando Lima conhece Guilherme Magalhães, mestre em engenharia financeira pela WorldQuant University, de Los Angeles, e pós-graduado em finanças pelo Insper, e Flavio Riva, administrador com MBA pela Poli e pela Universidade da Califórnia, em Irvine. Com eles, foi criado um clube de investimento em quantitativo que, após dois anos, se tornou uma gestora.

“Acreditamos que o mercado brasileiro possui um grande potencial de crescimento para esse segmento, podendo ter no futuro algo próximo ao americano. E queremos fazer parte disso”, diz Lima.

O nome da gestora surgiu da vivência do sócio Riva na Califórnia. Próximo à cidade de Irvine existe uma ilha chamada Santa Catalina e, nela, uma região batizada de Avalon, onde ele passava bastante tempo. Além dessa marca afetiva, o nome também está ligado à lenda do Rei Artur, na qual Avalon é a ilha em que sua espada, a Excalibur, foi forjada. O interesse pelo misticismo do nome levou a busca de seu significado, que é a “Ilha dos Bem-aventurados” ou “Ilha das Maçãs”, em referência a abundância de maçãs e caráter paradisíaco.

“Gostamos do nome pela referência pessoal e pelo misticismo que agrega. Combina conosco e com o lado desconhecido que ainda é o mundo quantitativo no Brasil”, afirma Riva.