O Itaú Unibanco está em linha com a maioria dos players do mercado e projeta um cenário mais desafiador para o Brasil nos próximos anos. Em contrapartida, no mundo desenvolvido os juros reais positivos vieram para ficar. Por isso, o banco fez revisões na sua carteira estratégica de investimentos local e decidiu aumentar a exposição ao exterior para todos os perfis de risco.

As carteiras estratégicas do Itaú são baseadas nas visões das tendências econômicas para os próximos três anos e dos possíveis impactos nas diversas classes de ativos, tanto no Brasil como no exterior. O Itaú tem cerca de R$ 2,8 trilhões de ativos sob gestão. E, segundo o banco, grande parte desse volume é de investidores pessoa física que podem receber recomendações feitas pelo time de estratégia de investimentos.

A mudança de recomendação é uma orientação para todos os públicos investidores do Itaú. “Achamos que era o momento para mudanças estruturais, com o Trump deixando mais claro o que será o seu governo, indicando ser menos tarifário que o esperado, porém inflacionário” afirma Nicholas McCarthy, diretor de estratégia de investimentos do Itaú Unibanco, ao NeoFeed.

Antes dessa revisão, a carteira local recomendada tinha uma alocação internacional de 10% para investidores de perfil conservador e chegava a 30% para aqueles com maior propensão ao risco. Agora, a exposição recomendada é de 15% a 45%. O investidor com aversão total a risco continua sem exposição. Na visão do banco, o Brasil apresenta muitos desafios, enquanto o mundo tem muitas oportunidades a serem capturadas.

“Depois de anos de taxa de juros zero no mundo desenvolvido, temos juros reais atrativos como não se via em muito tempo. E isso precisa ser capturado”, diz McCarthy.

Esse investimento internacional fica na tradicional proporção de 60% em renda fixa e 40% em renda variável. Quase todas as classes de ativo estão, neste momento, com recomendação neutra - inclusive a bolsa americana.

Para o Itaú, as expectativas de crescimento de lucro de dois dígitos das empresas em 2025 e 2026 devem continuar a sustentar os retornos, mas menores que em 2023 e 2024. Isso abre espaço para embolsar os lucros e sugere que o capital fique menos concentrado nos EUA ao longo do tempo.

Já os títulos corporativos sem grau de investimento (high yield) estão com maior exposição, em um cenário visto como atrativo, com o nível de inadimplência atual de 1,5% abaixo da média de 4%.

No resto do mundo, o Itaú manteve a neutralidade, com menor exposição na bolsa europeia. Mas o banco já está avaliando melhorar a recomendação em bolsas asiáticas e mercados emergentes, tirando-os da posição neutra. O entendimento é que o cenário é mais positivo para o mundo (excluindo os EUA).

Nicholas McCarthy - Chief Investment Officer do Itaú Unibanco
Nicholas McCarthy, diretor de estratégia de investimentos do Itaú Unibanco

“Por muito tempo os EUA dominaram o portfólio de investimentos internacionais, com uma bolsa muito forte. Mas agora espera-se um crescimento mais contido, enquanto o resto do mundo ficou muito depreciado. E sem uma forte guerra comercial tem tudo para performar bem”, diz o diretor de estratégia de investimentos do Itaú Unibanco.

Na visão do banco, isso já se reflete no câmbio, que recuou depois da alta no fim de dezembro de 2024. Isso mesmo sem o Brasil ter melhorado, o que mostra que a visão do mundo para o risco melhorou. E favorece os emergentes.

A visão local

Não é esperada uma mudança para o Brasil no curto prazo. Por isso, a carteira de ativos brasileiros, que foi reduzida, ficou mais conservadora, com maior exposição a juros reais, que passam a compor 32% de uma carteira de perfil de risco moderado ante 20% na composição anterior. E com uma redução significativa do duration, de 9,5 anos para 5 anos.

Já a alocação em pré-fixados foi reduzida em 5 pontos percentuais para um perfil moderado, para 10% do portfólio. Os pós-fixados também ganharam mais espaço em alguns perfis, variando de 83% para o perfil mais conservador e de 18% para o mais agressivo.

“Com um juro real acima de 7% ao ano, a bolsa precisaria subir mais de 20% para compensar o risco. E isso não parece provável. Então, diminuímos a exposição ao risco aumentando principalmente em juros reais”, afirma McCarthy.

A bolsa brasileira também está sendo reduzida na alocação local de renda variável para dar espaço para o S&P 500. Para um investidor moderado, a redução foi de 14% para 8% em ações brasileiras, com a bolsa americana passando de zero para 4% do portfólio.

“A bolsa brasileira está extremamente barata, mas isso não significa que haverá fluxo para subir. Esses movimentos são liderados pelos estrangeiros e, no momento, eles estão com muitas outras alternativas e nos deixando em segundo plano”, diz o executivo.

Quem também perdeu bastante espaço foram os fundos multimercados, com menos 5 pontos percentuais para perfis moderados e uma redução de 15 pontos percentuais para o mais agressivo, ficando ambos com 20% de alocação. Essa classe foi a escolhida para ser reduzida e dar mais espaço para internacional e juro real.

“Ninguém está ganhando do CDI, não adianta pagar caro para isso. É a primeira vez em cinco anos que eu vejo que quase tudo perde para o CDI. Esse é o momento da renda fixa”, afirma McCarthy.